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domingo, 26 de setembro de 2010

Insight

Por que Lula?

Pode ter sido uma surpresa para alguns. Não foi para quem tem o mínimo de conhecimento das bases que orientam a escolha do candidato brasileiro a candidato estrangeiro no Oscar. Os critérios utilizados em um colégio eleitoral tão plural (o que é bom) não poderiam ser mais simplórios. A ideia é antecipar o que está palatável ao gosto dos membros da academia naquele momento histórico. O passado recente demonstra que a estratégia é falha e frouxa, mas mesmo com um júri diferente a cada ano, ela se reproduz quase que de forma mimética.
Antes da escolha de Lula – o filho do Brasil para ser o representante brasileiro na disputa pelo Oscar, muito se falava na cinebiografia Chico Xavier. E por que se optou pelo presidente popular ao invés do líder espírita? Simplesmente pelo eleitorado de Lula. Por eleitorado aqui se esquadra o percentual internacional do presidente. É sabido que o carisma de Lula já transpôs nossas fronteiras. Eleito homem do ano e líder influente por revistas de prestígio internacional, Lula é uma figura revestida de curiosidade e misticismo para olhos estrangeiros. Nesse sentido, o peso do personagem Lula é superior ao peso do personagem Chico Xavier. Ainda que ambos os filmes se assemelhem em termos de estrutura e narrativa. Não obstante, os dois filmes relacionados aqui se equiparam a cinebiografia da dupla Zezé de Camargo e Luciano, cujo filme (Os dois filhos de Francisco) fora o selecionado brasileiro há três anos. Essa equivalência mostra que a ideia não é nova, tão pouco a tentativa de dar viço a ela. A diferença aqui é que pondera-se que a “força” de Lula possa ser preponderante. Que pese a favor do candidato brasileiro.
Ignora-se o fato de que o filme é ruim. Há sérios problemas narrativos e um herói que provoca pouca empatia, embora a história seja bonita e comovente. Fábio Barreto (outro trunfo em que confiam os eleitores do filme, porque Barreto já fora indicado ao Oscar) não conseguiu sintetizar em película o significado sociológico da figura Lula, tão pouco humanizou o personagem. De qualquer jeito falhou em seu propósito. Tanto o é, que o filme, cotado para ser um sucesso de bilheteria no país, fracassou redondamente. Inclusive a distribuição em alguns países da América Latina teve de ser revista. À crítica americana, o filme também não agradou. O New York Times e a Vanity Fair (dois veículos sempre atenciosos com produções estrangeiras) escreveram críticas venenosas sobre a produção.
O fato da escolha por Lula – o filho do Brasil ter sido unânime, como anunciado, só reforça o despautério com que a escolha de nosso representante tem sido feita. Salve geralÚltima parada 174 (de Bruno Barreto) e Os dois filhos de Francisco foram as últimas escolhas nacionais para disputar o prêmio. Percebe-se que não saímos do lugar. Enquanto isso, uma produção oxigenada com filmes como A festa da menina morta, As melhores coisas do mundo, Se nada mais der certo e Cabeça a prêmio segue escondida. Está na hora de perguntar, principalmente em tempos de eleição, se não é o momento de revermos nossos critérios.

6 comentários:

  1. Eu, sinceramente não gostei da escolha, porém o filme tem motivos para ser a escolha, é um drama, história briográfica de gente que sofreu e venceu na vida, ou seja, algo que o Oscar adora, mas acho difícil conseguir entrar na disputa e ganhar a estatueta, sabemos que existe filmes estrangeiros melhores.
    Ótimo texto Reinaldo.
    Abs.

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  2. Ótima análise, Reinaldo.

    Lula não é um filme ruim, mas também não é um grande filme, tem vários problemas, até porque Fábio Barreto não é um bom diretor (não sei como conseguiu uma indicação ao Oscar).

    O grande problema é a lógica da escolha, como você bem falou. Só pela declaração de um dos componentes do júri "não escolhemos o melhor filme, mas o que tem mais chances", já dá para snetir. Realmente, pela lógia, Lula é um filme de superação, coisa que americano adora. Lula tem uma boa aceitação internacional, Obama já disse que ele era O Cara. Fábio Barreto já tem uma indicação ao Oscar e sua família tem grandes influências no mercado americano. E ainda tem o detalhe macabro do diretor estar em coma, uma comoção a mais. tudo certo, exceto pelo fato de o Oscar não ser tão matemático assim. Vide a última premiação. Por essa lógica, quem diria que O Segredo dos seus Olhos, um filme de suspense, ganharia de A Fita Branca, que fala no tema preferido da academia: holocausto???

    Temos que mandar nosso melhor filme, não o que achamos que tem chance.

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  3. Não assisti ao filme, por isso não posso analisar se é bom ou ruim, mas quanto a escolha tenho certeza absoluta que se trata de cartas marcadas. Assim como os indicados de anos anteriores, são todas grandes produções de Globo Filmes.

    Abraço

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  4. É mais uma vez o governo se interferindo para depois não entrar nem entre os 5 classificados. Se fosse a história do Nixon, do JFK, do Obama, mas do Lula (será que nos EUA eles sabem realmente quem é o Lula ou isso é só papo de jornal?)

    Cultura na web:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

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  5. Ainda não assisti ao filme, mas tenho certeza que foi questão de política. rsrsrs.

    Beijos! ;)

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  6. Alan: Obrigado Alan. Os motivos da escolha do filme são públicos e notórios, mas pode escrever aí: não será indicado. Abs

    Amanda:E vc foi a cereja do meu bolo com esse comentário. Bjs

    Hugo: Sim, são cartas marcadas mesmo. É lógico que um filme da globo filmes sai em disparada. Repare que os selecionado são todos campeões de bilheteria. É um contrasenso em um período histórico que a acadêmia tem reconhecido dramas menores... abs

    Pseudo -autor: Não os americanos não sabem quem é Lula. Este conhecimento está restrito apenas ao foro político. E olhe lá! Lembremos da gafe do governador Schawarzenegger no encontro com Serra.rsrs. Quem vota na academia não conhece, muito menos o seleto grupo responsável pela nomeação dos postulantes estrangeiros... (e lembremos que o filme não agradou a crítica american, então a vontade vai ser ó...) abs

    Mayara: Assista sem pressa.rsrs. bjs

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