Páginas de Claquete

domingo, 12 de setembro de 2010

Claquete repercute - Separações


Domingos de Oliveira é fã de Woody Allen. Ele não faz questão de esconder e potencializa essa condição a cada filme que faz. Toda vez que o diretor americano lança filme na praça, lá está Domingos para levantar a bola. Seja em uma carta aberta publicada na revista cultural Bravo, seja em uma entrevista qualquer. Tal qual seu ídolo, e nítida influência, Domingos de Oliveira aprecia o cinema falado. Do fluxo de ideias, das referências mitologias, da alusão às artes, do pesar filosófico, de personagens imersos em neuroses cotidianas e de falar de amor. Todo esse repertório woody alleniano está presente no que o próprio Domingos de Oliveira considera seu melhor filme, Separações (Brasil, 2002).
Na trama, Oliveira foca nas angustias de Cabral (o próprio Oliveira em mais uma de suas similitudes com o cineasta americano), um sujeito inteligentíssimo, que já fora casado 4 vezes, e que, embora ame Glorinha (vivida pela mulher do cineasta, a atriz e co-roteirista da fita Priscila Rozembaum), não consegue parar de pensar no divórcio (pois crer amar mais sua liberdade).
É a partir dessa circunstância um tanto quanto prolixa que o diretor vai desalinhando seus personagens com vistas a tecer seu comentário. Que comentário? Que somos todos hipócritas. Um bando de egoístas que buscam amar loucamente e que loucamente recusam a rejeição. Essa interjeição pode ser pressentida nas conversas (e no teor delas) entre Cabral e sua filha (vivida pela atriz Maria Ribeiro). Assim como o pai, a menina acredita que a fidelidade é uma utopia e que ama seu marido incondicionalmente, mesmo que o traia constantemente. Não antes de avançar nessa matéria, nessa construção de raciocínio, Domingos de Oliveira desarma estes personagens. Apresenta-lhes o inesperado. Oliveira, logo de partida, apresenta uma analogia que, embora contumaz, não reforça o sentido do filme. Em uma mesa de bar, os personagens que irão dividir conosco suas angústias ouvem atentamente a Cabral discorrer sobre os quatro estágios que um paciente terminal atravessa: negação, negociação, revolta e aceitação. É nessa lógica que Oliveira enquadra seus personagens e encena suas idas e vindas.

Domingos e Priscila na vida real: todas as etapas do amor...

Separações não é um grande filme. Empaca em seu ritmo as vezes e o elenco é irregular. Há bons atores e há atores desorientados. Contudo, é um filme com alma. Que se pretende verdadeiro. Romântico. Perene. É, sem dúvidas, um engajamento muito benéfico para o cineasta (não à toa é sua realização favorita) e para o espectador que nutre interesse pelo tema no cinema. Separações, em sua lógica rocambolesca, reproduz com fidelidade a tragédia humana: a de amar, amar e amar.

5 comentários:

  1. Olha, eu li muitos comentários positivos sobre esta obra e, sinceramente, o seu texto (mesmo apontando defeitos e qualidades) me deixa com muita vontade de conferir "Separações".

    ResponderExcluir
  2. É, também fiquei com vontade de conferir o filme.

    ResponderExcluir
  3. Kamila:Obrigado Ka. Espero que vc possa conferi-lo em breve. Bjs

    Amanda: rsrs. Valeu Amanda. Bjs

    ResponderExcluir
  4. Também quero muito conferí-lo!
    Adoro a temática! Do muito bem escrito e coerente texto que li, presumo tratar-se de uma representação cartesiana e sthendiana do Amor.
    E, como disse, sou aficcionado em estudar o que chamo de "A Destruição do Amor no Cinema", a qual acho que iniciou com Mike Nichols e seu "The Graduate".

    Muito obrigado mesmo, Reinaldo!!!
    Certamente, que devo adquirí-lo quando o encontar um dia desses!
    Abração!
    ;)

    ResponderExcluir
  5. Poxa Cássio, obrigado pelo entusiasmo e pela nobreza do comentário. Pois é. Tb sou plenamente atraído por esse tema tão bem elaborado por vc: " a destruição do amor no cinema". Aliás, acho que Mike Nichols, tal qual Woody Allen, são ótimos expoentes nesses termos.

    Separações pode ser encontrado em locadoras que trabalhem com selo de arte como a 2001 aqui em SP. Recentemente, uma caixa com os principais trabalhos de Domingos de Oliveira acabou de ser lançada no mercado. Logo, imagino que em breve alguns filmes dele devem pipocar com maior destaque pelas megastores do país. De qualquer maneira, Separações pode ser encontrado em algumas lojas como a livraria Cultura.
    Abs

    ResponderExcluir