4 - "Now, imagine she´s white!", Matthew McConaughey em Tempo de matar
Se há algo que os americanos adoram é serem moralistas. Se há um tema que o moralismo americano abraça com gosto é o preconceito. Principalmente o racial. É inegável, porém, o apelo humanístico inerente a esses filmes e a força dramática de algumas cenas que reverberam no inconsciente cinéfilo e encontram algum respaldo sociológico. Queiramos admitir ou não. Uma dessas cenas é o tradicional “closing arguement” de um tribunal de júri no filme Tempo de matar (1996). Um jovem, e ainda não ingresso nas comédias românticas, Matthew McConaughey vive com expressividade um jovem advogado idealista e pobretão. O tipo clichê vinha a calhar no filme de Joel Shumacher. Havia muitos outros clichês ali também. Mas McConaughey, que possivelmente terá essa como a melhor cena de sua carreira como ator, injeta passionalidade e transforma uma cena bem escrita e moralista em um grande momento do cinema. Um advogado que se envolveu demais, que se desapaixonou pela profissão, que errou, que acertou, que foi chamuscado pela causa que defende e que tem, ao mesmo tempo em que proporciona ao público e aos jurados, uma epifania.
Tempo de matar, como muitos dramas de tribunal, tem grandes cenas, grandes personagens, diálogos irrepreensíveis e monólogos memoráveis. Contudo, poucos se assentam em tamanha simplicidade arrasadora. Essa cena é matadora porque não pretende emular a verdade, ela se apropria da verdade com descomunal veracidade.
No filme, o personagem de McConaughey defende um homem negro (Samuel L.Jackson) que matou os estupradores brancos de sua filha que estavam prestes a serem inocentados por um júri. Levado a julgamento, em uma cidade segregada, ninguém esperava um julgamento justo. O monólogo do advogado, no entanto, desmonta expectativas.
Olá Reinaldo,
ResponderExcluirAcredita não assisti a esse filme? Mas o argumento é interessante, e a questão da verdade poderosa que toma conta do julgamento. Falta isso ao meio jurídico do Brasil. bjs!
Belíssimo texto, Reinaldo. Mas, eu sou muito mais os argumentos finais que, por exemplo, encontramos em "O Sol é Para Todos". :)
ResponderExcluirMadame: é um filme muito bom madame. Merece ser visto. Um bom Samuel L. Jackson, um prazeroso Kevin Spacey e uma iniciante Sandra Bullock já seriam boas razões, mas o filme vai muito além. Todo tribunal é um teatro. Os bons advogados sabem disso e dominam essa verdade.
ResponderExcluirBjs
Kamila: Tb gosto muito de O sol é para todos Ka. Porém, tive de me render a contundÊncia dessa cena e como o personagem expõe o ponto de vista esfacelando um jogo de aparências que os jurados desenvolviam mesmo que de forma incosciente. O sol é para todos é um filme muitíssimo superior a esse aqui (esse filme inclusive emula o drama estrelado por Gregory Peck), mas essa cena é reluzente em seu esplendor. Bjs
Lúcido comentário "todo tribunal é um teatro". É isso mesmo!
ResponderExcluirTenho que aplaudir... Estou no inicio do Curso de Direito e me apaixono a cada dia... O filme é uma explosão de sentimentos. é o Direito Natural em conflito com o Direito Positivo. Aquil o que é correto ao coração de um Pai e "errado" ou "certo" aos olhos de um Julgamento. E de um juri como o do filme em particular
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