Pondo os pingos nos is
Após assistir Alice no país das maravilhas (Alice in wonderland EUA 2010) fica fácil entender o por que de Tim Burton ter refutado a autoria do filme em mais de uma oportunidade.
Aguardado com muita ansiedade, o filme revela-se incompatível com a cinematografia do diretor. A produção da Disney, é bem verdade, tornou-se o maior sucesso de bilheteria da carreira de Burton, marca mais uma colaboração entre o diretor e seu ator preferido, Johnny Depp, e apresenta um visual onírico e impressionante. Essas interjeições levam a crer que trata-se de um legítimo e conceituado trabalho de Burton. Mas engana-se quem precipita-se nessa resposta. Alice no país das maravilhas dilui a obra de Lewis Carroll em uma típica aventura Disney. Ou seja, o que se vê na tela não é um filme de Burton, mas sim um filme Disney. É preciso ter isso em mente na hora de avaliar a produção, que guarda mais semelhanças com os dois filmes As crônicas de Nárnia em termos de estrutura e memória pop do que com a obra infanto-juvenil do século XIX.
Aguardado com muita ansiedade, o filme revela-se incompatível com a cinematografia do diretor. A produção da Disney, é bem verdade, tornou-se o maior sucesso de bilheteria da carreira de Burton, marca mais uma colaboração entre o diretor e seu ator preferido, Johnny Depp, e apresenta um visual onírico e impressionante. Essas interjeições levam a crer que trata-se de um legítimo e conceituado trabalho de Burton. Mas engana-se quem precipita-se nessa resposta. Alice no país das maravilhas dilui a obra de Lewis Carroll em uma típica aventura Disney. Ou seja, o que se vê na tela não é um filme de Burton, mas sim um filme Disney. É preciso ter isso em mente na hora de avaliar a produção, que guarda mais semelhanças com os dois filmes As crônicas de Nárnia em termos de estrutura e memória pop do que com a obra infanto-juvenil do século XIX.
Burton orienta Mia durante as filmagens: Ele não era o homem certo para essa versão de Alice
Na fita, Alice (Mia Wasikowska) está com 19 anos e às vésperas de um casamento arranjado. A jovem Alice, confusa e insatisfeita com o fato de não ter o controle de sua vida, mais uma vez segue o coelho branco até uma toca. Não é preciso dizer que ela cai nesta toca. No país das maravilhas, aqui chamado de subterrâneo, em um trocadilho que funciona muito melhor em inglês (ao invés de wonderland, fica underland), Alice não consegue se lembrar de já ter visitado aquele lugar antes e fixa-se na ideia de que tudo aquilo não passa de um sonho. Ela é orientada e protegida pelas tradicionais e reconhecidas figuras da obra de Carroll, o chapeleiro maluco (um Johnny Depp, por incrível que pareça, fora do tom), pelo gato risonho, entre outros. Alice precisa “assumir o seu destino” e recolocar a rainha branca no trono que lhe foi roubado pela irmã, a rainha vermelha.
A jornada do herói, corrente filosófica e semiótica que já serviu de base para tantas produções Disney, volta a ser a matéria prima de uma produção da casa. Contudo, apesar da obra de Carroll oferecer vasto material inexplorado, ou que pudesse ser atualizado, não há a disposição de sequer aproveitá-lo. A idéia, tudo indica, era somente aproveitar o universo criado por Carroll e se apropriar dele. Embora seja uma alternativa legítima do ponto de vista comercial, como cinema a opção não poderia ter sido mais infeliz. E Tim Burton, definitivamente, não era o homem para esse serviço. Caberia ao diretor se lançar no universo de Carrol, não traduzi-lo para a enciclopédia Disney.
A jornada do herói, corrente filosófica e semiótica que já serviu de base para tantas produções Disney, volta a ser a matéria prima de uma produção da casa. Contudo, apesar da obra de Carroll oferecer vasto material inexplorado, ou que pudesse ser atualizado, não há a disposição de sequer aproveitá-lo. A idéia, tudo indica, era somente aproveitar o universo criado por Carroll e se apropriar dele. Embora seja uma alternativa legítima do ponto de vista comercial, como cinema a opção não poderia ter sido mais infeliz. E Tim Burton, definitivamente, não era o homem para esse serviço. Caberia ao diretor se lançar no universo de Carrol, não traduzi-lo para a enciclopédia Disney.
Johnny Depp como o chapeleiro maluco: quem diria, o ator é um dos pontos fracos do filme
O visual do filme é impressionante, mas por si só não é digno de maior entusiasmo. Há pouco no filme que lembre a veia estilística e subversiva de Burton. Resta ao público o consolo da dispersão proporcionada pelo 3D. Quem não se aventurar pelo 3D poderá se contentar com o trabalho das atrizes. Anne Hathaway faz uma rainha branca afetada que diverte, mesmo que involuntariamente. Helena Bonhan Carter acerta o ponto com sua composição da insegura Rainha Vermelha, mas quem brilha mais é mesmo Mia Wasikowska que faz uma Alice crível. Indefesa, receosa e vacilante, para depois assumir, finalmente, sua identidade. Mia faz o que pode em uma história equivocada. Não é culpa dela se a Alice que lhe deram não é a de Carroll, tão pouco a de Burton, mas a do Mickey Mouse.
Pois é, Johnny Depp perdeu a mão nesse chapeleiro, acho que está precisando fazer uma pessoa normal para se acertar um pouco, hehe.
ResponderExcluirEu nunca gostei da história de Alice, confesso. E acabei me divertindo com essa versão mistureba, nem lá nem cá. Agora essa tradução "Disney" que você fala e a jornada do herói, acredito que se deva muito mais ao roteiro que a Burton. Ele deu seu tom na direção de arte, em algumas cenas sombrias, mas com certeza, não entra para o hall de seus grandes filme.
bjs
Não achei que Johnny Depp perdeu a mão como o Chapeleiro. Acho que ele deu um tom certo ao personagem. Não gostei da Anne Hathaway, aqui. Achei que ela, sim, perdeu a mão.
ResponderExcluirO visual de "Alice" é mesmo impressionante, mas acho que faltou mais ousadia ao Tim Burton. Ele foi um tanto convencional e essa história pedia um pouco de desordem!
Estou curioso, mas por causa de críticas como a sua, um tanto apreensivo. Vejo esta semana.
ResponderExcluirRs...
ResponderExcluirCursar jornalismo é um objetivo distante, pq pra fazer isso terei que mudar de cidade. Por isso estou na licenciatura de matemática, msm nao tendo nada a ver é algo que me agrada.
Eu assisti o filme e gostei.
Embora prefira o primeiro que foi o meu filme preferido na infancia. rs
Obrigada pela visita, volte sempre!
Abraço
Valeu a pena esperar pela sua crítica: muito interessante o viés que você deu para o "insucesso" da parceria Disney-Tim Burton.
ResponderExcluirBeijos
Como eu comentei no meu blog, este filme teria funcionado melhor como 'Alice no País das Maravilhas 2' em animação convencional!!!
ResponderExcluirhttp://cinema-em-dvd.blogspot.com/
Bela análise! Um ponto de visão distante da estreia sempre é mais interessante porque parece que fica menos despreendido do que se diz por aí...
ResponderExcluirVocê falou tudo, é um filme DISNEY. só nos resta esperar o próximo trabalho de Burton =)
ResponderExcluirOlá Reinaldo,
ResponderExcluirGostei do teu olhar, mas não concordo que a Mia é quem mais brilha, pelo menos,não nos meus olhos. Concordo que talvez ela não tinha muito o que fazer dada a sua falta de experiência e um diretor que estava distante de tomar os riscos de sua própria estilística diretiva, mas prefiro o trabalho da Helena mesmo.
Como deixei em um dos meus comentários sobre Tim Burton e essa produção, realmente teve o "dedo" da Disney e acho complicado Burton fazer um trabalho com um estudio como a Disney em uma jornada heróica mesmo. Colocaram uma roteirista que já tinha experiência com Disney (a do Rei Leão) e , no final, diretor e roteirista se ajoelharam ao estúdio. Uma pena! Tim tem que ser rebelde igual Tarantino, essa é a verdade!
Bjs
Gostei da expressão que você deu "A Alice do Mickey Mouse". E, concordo que se não fosse a Disney, o Tim poderia fazer uma versão mais ousada da história. Mas, como fã da história do Carroll, fiquei satisfeita com o resultado, com destaque para a parte técnica, Helena Bonhan Carter e gostei da Mia Wasikowska, mas não gostei da Anne Hathaway, para mim, ela não combinou com a personagem.
ResponderExcluirBeijos! ;)
Amanda:Vc foi perfeita em seu comentário Amanda. conforme matéria publicada aqui mesmo em Claquete, Burton abriu mão da autoria do filme, cedendo-lhe a roteirista Linda Wooverton (de clássicos Disney como O rei leão, Mulan e Alladin). Definitivamente, um filme de estúdio e que não entra para a galeria dos melhores de Burton. Bjs
ResponderExcluirKamila:Então Ka, acho que Deep cedeu a caricatura banal. Seu personagem é uma sombra de arquétipos de outros personagens seus em filmes de Burton. Não ficou legal. Não achei Anne Hathaway boa no filme, falei que sua personagem diverte, mesmo que involuntariamente. Assim como Helena, que para mim não está nada demais, perto do conjunto de equívocos, ela acerta e por isso ganha destaque. Quanto ao visual do filme, sinceramente, até nisso acho que Burton decepcionou. Embora ele não tenha feito questão de esconder que dirigiu com as mãos atadas pelo estúdio.
Bjs
Wally: Veja para o bem de sua cinefilia meu caro. E só!
ResponderExcluirBianca: Que isso, obrigado vc. Estendo o convite, volte sempre. Bjs
Khalil: O filme funciona Khalil, mas como um filme Disney. Não como uma criação de Burton. ABS
Fernando: Obrigadão meu brother! ABS
Alan: É isso aí. Vamos aguardar!ABS
Aline: Obrigado pelo prestígio e reconhecimento Aline. É sempre gratificante o respiro que vc me dá com suas ponderações precisas. Bjs
Madame: Eu me recordo da sua critica madame. Mas respeitosamente discordo quanto a sua posição em relação a Mia. Para mim, ela é a única coisa inteiramente boa em Alice no país das maravilhas. E quanto a rebeldia de Burton, bem, o Tarantino roda filmes independentes, o Burton não. De certa forma, Burton é até mesmo mais bem sucedido, pois tem conseguido (na maioria das vezes) subverter uma lógica comercial (e de estúdios, como FOX, Warner e Universal) à seu estilo. Tarantino teve que atuar à margem do sistema.
ResponderExcluirNo caso de Alice, no final das contas, o marketing saiu vitorioso. Entregou-se um filme de produtor, vendido como de diretor.
Bjs
Mayara: Obrigado pelo comentário Ma. Acho que o filme é ótimo entretenimento. A minha crítica não visa diminuí-lo como tal, apenas dimensioná-lo como obra cinematográfica.
Bjs