A busca pela mulher interior
O novo filme dirigido por Rebecca Miller, A vida íntima de Pippa Lee, se debruça sobre a agonia do cotidiano que muitas mulheres vivenciam. Presas a uma vida de concessões, renúncias e arrependimentos. No filme, Pippa Lee (Robin Wright) após mudar-se de cidade para ajudar na recuperação do marido adoentado, põe-se a rememorar sua trajetória até aquele momento. Enquanto acompanhamos a protagonista nesse exercício de inflexão, somos testemunhas do ataque de ansiedade que lhe acomete. Isso porque, a medida que as escolhas de Pippa vão ganhando caráter definitivo, ou seja, elas a aproximam da pessoa que se tornou, a que nós encontramos no inicio da fita, mais frustrada Pippa fica.
O filme procura antes de advogar sua protagonista, entendê-la. Esse mérito é algo que escapa a produção corrente sobre esse universo almodovariano, por assim dizer. Pippa não sai com “direito” a um recomeço, sem antes passar pelos estágios inerentes a quem precisa, antes de qualquer coisa, se perdoar pelas besteiras que fez pelo caminho.
A despeito das soluções dramáticas do filme e de todo o discurso que se constrói em torno da figura de Pippa Lee, e da representatividade da mulher na casa dos 30 anos nesse principio de século 21, o filme valoriza o debate proposto pela opção de reconhecer a força de suas personagens e o contexto em que estão inseridos.
Outros filmes se servem do mesmo expediente ou enfocam a questão por perspectivas diferentes. A diretora Sofia Coppola se ocupa de explorar o universo feminino em toda a sua plenitude. Filmes como As virgens suicidas, Encontros e desencontros e Maria Antonieta têm em comum a sensação de deslocamento. É como se para Coppola, em uma sociedade machista como a nossa, ser mulher é estar deslocada. Woody Allen utilizou-se da fantasia para versar sobre o tema. Em A rosa púrpura do Cairo, uma mulher se apaixona por um personagem fictício e descobre que a fantasia é melhor do que a realidade. As voltas com um marido brutamontes, a descoberta não a acovarda, ela deixa-o em busca de escrever a própria história.
Almodóvar atingiu o ponto g da questão com Tudo sobre minha mãe. Ao cercar as fases da vida de toda mulher e a forma como isso influi na relação dela com o mundo a sua volta, o cineasta conquistou o título de cineasta do feminino.
Para quem gostou do tema abordado aqui ou deseja aprofundar a questão, Claquete recomenda:
Tudo sobre minha mãe, de Pedro Almodóvar (ESP 1999)
O piano, de Jane Campion (EUA 1994)
As virgens suicidas, de Sofia Copppla (EUA 2000)
Encontros e desencontros, de Sofia Copolla (EUA 2003)
Thelma & Luise, de Ridley Scoot (EUA 1991)
A bela da tarde, de Luis Buñuel (ESP 1967)
A rosa púrpura do Cairo, de Woody Allen (EUA 1985)
Belo texto!
ResponderExcluirMas essa Pippa parece pertencer de fato a cultura estadunidense.
Um Natal recheado de alegrias, pra ti!
Quero publicar na sexta, no dia do natal.. pode me mandar por e-mail. thiagoomb@hotmail.com
ResponderExcluirabraço e obg :D
Lella: Antes de pertencer a cultura estadunidense, penso que ela representa uma classe burguesa que nos parece muito distante, mas que existe por aí.
ResponderExcluirExcelente natal para vc tb meu amor.
Thiago: Já tá saindo do forno rapá!!!!