Páginas de Claquete

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ESPECIAL ABRAÇOS PARTIDOS - Almodóvar em cinco tempos

A lei do desejo (1987)

Em um de seus primeiros trabalhos já como cineasta conhecido, embora a consagração internacional viesse no ano seguinte com seu próximo filme, Almodóvar explora a sexualidade em seu estado mais bruto. Em A lei do desejo os protagonistas Pablo (Eusébio Poncela) e Tina (Carmem Maura), que antes de ser Tina era Tino, são submetidos a um vendaval de desilusões e tragédias amorosas. Todas desencadeadas por um forte, e muitas das vezes insalubre, desejo. Incesto, transexualismo e homossexualismo formam o eixo central de uma história que se banha tanto do drama inerente aos personagens reféns de impulsos e repressões quanto de um erotismo pulsante e, invariavelmente, chocante para a época.

Mulheres a beira de um ataque de nervos (1988)

Depois de A lei do desejo, Almodóvar realizou esta comédia dramática com retoques de tragédia grega em que uma atriz vivida por Carmen Muara mergulha em crise afetiva após ser abandonada pelo amante. Ela não entende as razões para tal atitude. Almodóvar apimenta sua trama com uma fauna de personagens improváveis (um casal de classe média que se aboleta na casa da protagonista, uma nora maníaco-depressiva e até um terrorista xiita), para dar viço a um discurso feminista e de independência a certas tradições machistas. O sentimento feminino nunca tinha sido tão bem capturado e adornado com tamanha leveza e senso de humor no cinema.

Carne trêmula (1997)

Se há alguém capaz de divagar, e surpreender a cada divagação, sobre as fases e reboliços da paixão, esse alguém é Almodóvar. Em Carne Trêmula, ele desvela um emaranhado de crimes, desejos, ciúmes, impulsos e todo o tesão que move os personagens a fazer o que fazem. De casualidades a irreversibilidades, tudo em Carne trêmula é movido por sentimentos tão fugazes quanto poderosos. Vitor (Liberto Rabal) perde sua virgindade com Elena (Francesca Neri) em um ato sexual quase selvagem, de pouco minutos. Apaixona-se e põe –se a procurar por Elena. Um belo dia a encontra, mas ela não compartilha do mesmo sentimento que ele. As coisas daí em diante só se complicam. Interessante notar como Almodóvar aproxima e envolve seus personagens em uma perversa busca por afirmação emocional, que para o cineasta está diretamente relacionada a satisfação sexual.

Fale com ela (2002)

Esse talvez seja o filme mais premiado de Almodóvar. É também o que marca uma ruptura em sua filmografia. Aqui os homens, e seus conflitos, deixam de ser periféricos em sua obra para se ocuparem dela. Em Fale com ela, Marco (Dario Grandinetti) não sabe ao certo como situar seus sentimentos por Lydia, acidentada e em coma profundo, enquanto que o enfermeiro Benigno (Javier Cámara) nutre um amor platônico por Alicia, também em coma. Esses dois homens desenvolvem uma amizade e põem-se a falar entre si e com elas sobre suas aflições, temores e anseios. Um sensível retrato da consternação do macho. De quebra, Almodóvar faz implodir a platéia ao aferir a um crime, tido como covarde, a pecha de prova incondicional de amor. E faz mais. Tira desse ato, o sopro da vida. Um filme belíssimo e que muitos consideram o último grande trabalho do cineasta.

Volver (2006)

O último trabalho do diretor (antes de Abraços partidos) foi um tratado de paz com seu passado. Mais precisamente com sua mãe. A maternidade, e por consequência, a feminilidade, sempre foi um elemento forte na obra do diretor. Mas em Volver ela não é só o fio condutor, é também o objeto de análise do cineasta. Raimunda (Penélope Cruz) é dessas personagens fortes, que Almodóvar cria tão bem. Por mais que seu destino lhe pregue peças, ela se recusa a abaixar a cabeça. Raimunda, no entanto, esconde algumas mágoas e frustrações que serão remediadas quando o fantasma de sua mãe (Carmen Maura), que já estava aparecendo para sua irmã Sole (Lola Dueñas), lhe visitar para tirar o passado a limpo. Um filme sobre a capacidade de perdoar e de amar, e de como um, invariavelmente, depende do outro.

3 comentários:

  1. Volver é uma falha na minha cinemateca Almodoviana, preciso ver logo.

    Retribuindo sua visita e já te seguindo, também.

    bjs

    ResponderExcluir
  2. Corrigindo, já estou tentando te seguir, mas está dando algo errado, eu clico e a janela não abre, mas pode ser a conexão aqui no trabalho, a noite tento de novo.
    bjs

    ResponderExcluir
  3. Obrigado Amanda pela gentileza. Espero que goste do meu blog. Sei q eu gostei do seu. Bjs

    ResponderExcluir