Continuações: Elas são tudo a mesma coisa?
Todo mundo gosta de sucessos. Seja no cinema, seja na vida. Hollywood talvez seja um dos mais prolíferos e insidiosos berços do sucesso na modernidade. É a terra dos sonhos e que move os sonhos de muitos terráqueos. É natural que um sucesso tente ser reproduzido ou emulado repetidas vezes. Assim, de maneira quase que orgânica, surge o conceito das continuações. Se um filme fez sucesso, por que não voltar a ele? Se o público teve empatia com um personagem ou uma história, por que não desenvolver -los mais?
Convencionou-se dizer que as continuações cinematográficas são o reflexo do que pior existe em hollywood. Da ganância desenfreada e da busca incessante pelo lucro, a despeito de criatividade e bom senso. Não é que essa percepção esteja inteiramente errada. Só não corresponde inteiramente a verdade. Ela é tão leviana e irresponsável quanto sugere que Hollywood seja.
Mel Gibson e Danny Glover em Máquina mortífera 4: o quarto filme é tão agradável quanto o primeiro
Sempre existiram filmes com apelo e potencial para continuações. Caso da cine-série Maquina Mortífera, cuja estrutura episódica favorece filmes tão interessantes quanto o primeiro exemplar. É verdade que há filmes que surpreendem de tal maneira que os poderosos executivos de Hollywood desejam continuações, mesmo não havendo abertura para isso. Caso de filmes como O fugitivo, cuja trama prescindia de uma continuação e mesmo assim ela foi feita nos mesmos moldes do filme original. U.S Marshalls - os federais repetia em todos os aspectos a história do filme original. Não que fosse menos eficiente em virtude disso.
Há também o consenso de que continuações são por razões inexoráveis, inferiores a seus filmes originais. É outra falácia mal intencionada. O que falar de filmes como O poderoso chefão 2, que não só ganhou o Oscar de melhor filme, algo até então inédito para uma sequência, como foi reconhecido por muitos críticos e artistas como sendo superior a seu filme original. O mesmo se pode dizer de As invasões bárbaras, filme canadense ( o que desmonta a tese de que continuações são um imbróglio hollyoodiano) que foi considerado superior a seu original, O declínio do império americano. A fita de Deny Arcand retoma os mesmos personagens 20 anos depois da história original. Há legitimas razões e interesses movendo a retomada daqueles personagens que passam longe de qualquer relação maniqueísta.
Cena de As invasões bárbaras: Um filme com algo a dizer sobre o mundo
Comerciais mas com conteúdo
Esse fenômeno também, embora há pouco tempo, pode ser observado nas fitas comerciais. Filmes como Batman - o cavaleiro das trevas tem, obviamente, a carreira comercial como objetivo primário. Contudo, há uma genuína motivação em realizar um filme inteligente e que sacie mais do que apenas a ânsia de produtores e fãs megalomaníacos. Entende-se que para arrecadar um bom dinheiro, precisa-se de uma boa história. E esse tem sido o principal parâmetro da produção atual. É lógico que como em todo o negócio há divergências, alternativas e modelos superados que ainda encontram vazão. Contudo, seria injusto afirmar que as continuações cinematográficas são sempre farinha do mesmo saco. Não são e serão cada vez menos.
É preciso romper também com a hipocrisia dominante de que não se tolera a mais escapista e tola continuação. Afinal de contas, filmes como Carga explosiva, Rambo, American Pie, Pânico e loucademia de policia não viabilizaram sequências e mais sequências só pela avidez de certos executivos por dinheiro. O parecer final sobre a viabilidade de um projeto ou filme, será sempre do público.
Heath Ledger como o coringa em Batman - o cavaleiro das trevas: Um blockbuster sim, mas também um filme pessimista sobre a condição humana
Nenhum comentário:
Postar um comentário