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domingo, 16 de agosto de 2009

On TV

Ensaio: As bifurcações empalidecem o mistério de Lost

Como uma grande idéia se tornou um grande pepino?
Em 2004 tomou de assalto a TV americana e alguns meses depois todo o resto do mundo, um seriado de tv com premissa inovadora e cheio de referências que extravasavam a cultura pop. Lost, programa idealizado por J.J Abrams que se tornaria grife em virtude do êxito da série, Carlton Cuse e Damon Lindelof para a ABC, dos estúdios Disney, versa a principio sobre sobreviventes de um acidente aéreo perdidos em uma ilha deserta.
A pedido dos executivos do canal entretanto, Abrams acrescentou alguns elementos fantásticos que remetiam diretamente a clássicos da ficção científica como Twin Picks e Além da imaginação. Injetou ainda consideráveis componentes filosóficos e religiosos em uma trama segmentada e de narrativa fragmentada, como viria a ser marca tanto do programa quanto de Abrams que a reproduziria em seus outros projetos como o filme Missão impossível 3 e a série Fringe.
O vôo Oceanic 815 entrou para o âmago da cultura pop. Em uma ilha de paradeiro e origem desconhecidas, personagens de diferentes lugares do mundo e com personalidades conflitantes se viram obrigados a conviver e a lutar pela sobrevivência. Aos poucos a série ia revelando suas camadas, o recurso narrativo conhecido como flashback sugeria um propósito maior para aquela fatalidade que dava partida na série, já que não havia necessidade de lançar mão dele apenas para conhecer melhor os personagens.
Logo no episódio piloto, Abrams incutiu altas doses de mistério na trama. Como a existência de um urso polar em uma ilha tropical e coisas do tipo. A primeira e a segunda temporada foram proliferas em fabricar questionamentos; muitos dos quais distantes de qualquer lógica, mas foram exatamente essas duas primeiras temporadas que emularam melhor a representação filosófica a qual a série se predispusera.
Confrontando visões de mundo, promovendo de forma bastante intuitiva alteração de percepções, os personagens de Lost se mostraram um celeiro dos mais prósperos para toda e qualquer manifestação por parte de seus autores. A ciência e o ceticismo representados na figura de Jack ( Mathew Fox) contra a fé e a crença em um propósito maior representada na figura de John Locke ( Terry o´Quinn) deram o tom da segunda temporada.
Lost se mostrou pertinente também ao enfileirar criticas sociais a partir daquele contexto bastante específico. Seus criadores também foram eloqüentes na síntese dos elementos que buscavam trabalhar. Muitos episódios funcionavam maravilhosamente bem singularmente e também para a cronologia da série, algo que a própria série teria dificuldade de ostentar mais adiante.
A galeria de personagens era plural e aumentava a cada temporada, assim como os insolúveis mistérios, que começaram a inquietar e levantar suspeitas sobre a capacidade dos criadores de resolvê-los. Apesar destes assegurarem que tudo já estava delineado e que as respostas e os mistérios se resolveriam gradualmente, a terceira temporada de Lost sofreu com baixos índices de audiência e a reprovação da crítica.
Na terceira temporada, os produtores intensificaram o confronto entre Os Outros (habitantes que já moravam na ilha) e os sobreviventes do vôo Oceanic, na tentativa de renovar o interesse na série, não foi suficiente, o final da temporada contudo foi revigorante, Abrams e sua trupe surpreenderam e lançaram mão de flashforwards. Assim caia uma série de teorias sobre a série e resgatava-se um interesse legitimo de sua audiência.
A quarta temporada então foi desenvolvida para que a cronologia construída até ali se ajustasse a revelação do fim da temporada anterior. Nesse momento, a ABC em acordo com os produtores já havia fechado uma data para Lost terminar.2010. Seriam então 6 temporadas, e tornava-se imperativo portanto começar a amarrar as pontas. Só que a quarta temporada sofreu um revés. A greve dos roteiristas a diminuiu. Por consequência aumentando as duas últimas. Como de praxe no universo do seriado, muitas respostas surgiram( mais do que a média) mas junto com elas um sem número de perguntas, algo que continuava a impacientar os fãs, cada vez mais escassos.
A quinta temporada findada em maio último, foi aquela para por a história nos eixos. Os personagens agora não são mais o foco. Dar respostas é. Mas como? Como depois de semear tantas dúvidas com respaldo filosófico e verniz religioso, será possível saciar racionalmente algo que prescinde da racionalidade?
Da forma mais irracional possível, mas manipulando com argumentos que parecem lógicos. Assim, evocando O exterminador do futuro. Lost da inicio as viagens temporais em que relativiza tudo o que aconteceu, a ordem em que aconteceu e as responsabilidade de cada um acerca de tudo que gravita a ilha e o que ela significa.
Dessa maneira Lost, em sua quinta temporada, embora revigore o interesse por aquilo que tem de mais atraente - seu mistério escandescente, o faz de maneira pálida e rocambolesca, propositadamente confusa e contraditória para que não se possa alegar furos e omissões. Uma tacada de mestre de produtores espertos, inteligentes e muito bem informados, mas que inegavelmente não tinham noção de como terminar de maneira racional e satisfatória, tremendo fenômeno pop. Ao evitar uma lógica uníssona e clarividente, eles perpetuam o mito e garantem o sucesso de sua estratégia inicial.
O fim da quinta temporada resgata um pouco do elemento religioso que pautou a série no inicio. E dita também o tom daquilo que veremos na sexta temporada. No fim das contas, parece que Lost será uma alegoria filosófica para a terra e como Deus e o Diabo agem sobre ela. Ainda é precipitado afirmar isso, mas é a impressão deixada no fim do quinto ano. É preciso muita habilidade narrativa( o que há), e espaço para desenvolve-la( o que não há) para reverter essa impressão no último ano.
Fato é, que Lost não irá terminar sob o mesmo status que começou. E essa simples constatação já empobrece seu legado.

Filme do dia:

Segunda – feira 17

O suspeito na HBO às 20:15hs
Filme dirigido por Gavin Hood, que esse ano lançou Wolverine, sobre os efeitos devastadores que a guerra ao terror produz tanto na sociedade civil quanto nos valores americanos. Um cidadão de origem egípcia é barrado clandestinamente e interrogado por suspeita de terrorismo, sem que haja para tanto, uma prova sequer de sua participação. Existe um cena impagável entre a durona personagem de Meryl Streep, uma raposa do governo, e o assessor parlamentar vivido por Peter Saarsgard discutindo sobre os prós e os contras de tal politica de prevenção.

Terça – feira 18

A fantástica fábrica de Chocolate na TNT ás 19:30 hs
Remake visualmente arrojado de Tim Burton para a célebre e educativa história de Charlie e Willy Wonka. São os efeitos especiais e os malucados umpa lumpas que diferem essa versão de Burton da original. E como não poderia deixar de ser, Johnny Depp impressiona em uma composição andrógena e afetada.

Quarta- feira 19

A.I – inteligência artificial no Telecine Light ás 22:00hs
O filme de Steven Spielberg realizado a partir de uma idéia de Stanley Kubrick é um conto, entre outras coisas, sobre a capacidade de amar. E é na figura frágil do robô vivido por Haley Joel Osment e sua saga para ser amado, que Spielberg realiza o filme do pinóquio definitivo. Pois assim como a cria de Gepeto, o que impede a felicidade do protagonista aqui, é o fato dele nã ser um menino de verdade.

Quinta-feira 20

Evidências de um crime no MaxPrime ás 20:15 hs
Com elenco de peso, Ed Harris, Samuel L. Jackson e Eva Mendes, essa fita preenche suas expectativas. Jackson faz um ex -policial que toca um ramo em expansão, limpa cenas de crime, após a policia liberar é claro. Só que depois de não receber por um serviço e se ver suspeito do homicidio que ajudou a esconder, ele tem de voltar a rotina de investigações. Suspense básico sem grandes variações, mas bem delineado.

Sexta-feira 21

O amor nos tempos do cólera no Telecine Premium ás 17:40hs
Adaptado da obra de Gabriel Gargia Marquez, é improvável que o filme surta o mesmo efeito que o livro em quem leu. Contudo a obra de Marquez encontra dignidade no registro de Mike Newel e tem em um contido Javier Barden um bom catalisador da paixão inveterada de um homem por uma mulher que desconhece limites, até mesmo os do tempo.

Sábado 22

Até que a fuga os separe no Telecine Light ás 22:00hs
Grande momento dos comediantes Eddie Murphy e Martin Lawrence em que interpretam dois amigos que passam a vida inteira na prisão por um crime que não cometeram. Entre tentativas de fuga e treinos de beisebol, a dupla de comediante celebra os filmes de camaradagem com muito humor e bom gosto. Algo que ambos viriam a abrir mão com perolas escatológicas como Norbit e A vovozona 2.

Um comentário:

  1. Muito bom! Realmente muito boa sua análise ao final da 5a temporada... De fato a sériue pode acabar sem trazer todos os resultados mas já serviu para mostrar uma habilidade narrativa acredito que nunca vista anteriormente. E o que é melhor: com tanta gente acompanhando...

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