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domingo, 30 de agosto de 2009

Insight

Coluna nova em Claquete. Insight, conforme adiantado ontem, trará sempre um olhar analitíco e reflexivo sobre algum elemento do mundo cinematográfico. Pode ser uma tendência de mercado, a obra de um diretor, ou até mesmo o frisson em torno de um filme. O tema inaugural de insight são as comédias brasileiras e seu sucesso acachapante. Em enquete promovida essa semana aqui em Claquete, sobre a melhor das comédias brasileiras da retomada, deu empate entre O auto da compadecida e Se eu fosse você, ambos com 40% dos votos.
Espero que gostem de Insight.

Por que tanto sucesso?
Chegou na última sexta – feira ao país a mais nova comédia do cinema nacional. Os normais 2 - a noite mais maluca de todos os tempos, de José Alvarenga Júnior estreou em 430 salas. Recorde para um filme nacional. Equiparável a blockbusters americanos como Homem – aranha 3 ( 510 salas) e Piratas do caribe 2 ( 480 salas). Esse dado reforça não só o crescimento do cinema nacional, passível inclusive de comparações como a que abre o artigo, como denota o sentimento de produtores, distribuidores e exibidores de que essa força reside nas comédias populares.
É bem verdade, que é difícil dissociar esse sucesso da globo filmes. Afinal de contas, todas as últimas grandes bilheterias de comédias brasileiras vem com o selo da produtora e com artistas da casa. Só nesse ano Seu eu fosse você 2 quebrou todos os recordes possíveis e se estabeleceu como o filme mais rentável da retomada do cinema nacional que data de 1995. Para efeito de comparação, Daniel Filho, diretor da fita, acaba de lançar um outro filme, Tempos de paz, drama oriundo do teatro, que após duas semanas em cartaz e com público sofrível já amarga redução de salas exibidoras.
Os normais 2 também é da Globo filmes. É um filme com público cativo, o seriado o qual o filme se baseia fez grande sucesso, e reproduz um humor muito próximo dos outros filmes que levaram multidões aos cinemas esse ano. Casos de A mulher invisível, de Claúdio Torres e Divã do mesmo Alvarenga Júnior.
A explicação mais palpável do sucesso das comédias nacionais, especialmente nesse 2009, se encontram em dois eixos. O primeiro deles é fruto de um paradoxo. Existe ainda uma grande parcela dos freqüentadores de cinema que alimentam preconceito quanto ao cinema nacional. Mas são flexíveis quanto a comédia. Em parte por ela emular( as vezes por demais) a estrutura dos programas televisivos do horário nobre, em parte por representar em escala geral e planetária, (são raras as comédias indicadas ao Oscar ou participantes de um festival, por exemplo) um gênero menos ostensivo e por conseqüência menos passível de despertar frustração em quem se experimenta à assisti-la.
No outro eixo, espremem-se a constatação de que a produção nacional está evoluindo no sentido da profissionalização e a constatação de que o público brasileiro ainda prescinde de um cinema mais ousado, artístico e abrangente.
As comédias não fazem tanto sucesso pela qualidade inequívoca que apresentam. Até porque não a apresentam. Seria também uma falácia afirmar que isso é tudo que o brasileiro sabe fazer. Heitor Dhalia, Fernando Meirelles e Claúdio Assis são alguns exemplos de que isso não é verdade. As razões estão aí. Resta-nos a incerteza do que fazer com elas.

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