Páginas de Claquete

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Tira-teima - O segredo da cabana X A morte do demônio

A seção Tira-teima está de volta e nesse retorno promove um tira-teima entre duas produções pretensiosas dentro do gênero do terror, mas que se perdem lá pelas horas tantas. Com premissas semelhantes, e propostas distintas, os filmes acabam se abraçando no inferno das boas intenções. O segredo da cabana (The cabin in the woods, EUA 2011) e  A morte do demônio (Evil deade, EUA 2013) devassados com o devido “spoiler alert”.



O mote
O segredo da cabana: Grupo de jovens se desloca para uma cabana isolada nas montanhas. Lá se deparam com forças sinistras após mexerem em um objeto obscuro no porão da cabana.

A morte do demônio: Grupo de jovens se desloca para uma cabana isolada na floresta. Lá se deparam com forças sinistras após mexerem em um objeto obscuro no porão da cabana.

Status quo
 O segredo da cabana: Produzido por Joss Whedon, um dos pilares da onda geek atual, a produção tem como objetivo primário ser uma sátira das produções de terror voltadas para o público jovem que colocam jovens em cabanas sinistras. A ordem é “desmoralizar” os clichês do gênero.

A morte do demônio: Remake do filme cult que lançou Sam Raimi. O filme, produzido por Raimi, não economiza no gore e tem como objetivo atualizar a trama para a geração atual. O texto foi revisado por Diablo Cody, de Juno e A garota infernal.

Entretanto...
O segredo da cabana: O filme se perde no sarro que tira do gênero e deixa uma proposta aguçada e original se fragilizar em um banho de sangue cenográfico que não é nem engraçado nem assustador.

A morte do demônio: O ritmo é um problema. A morte do demônio, a princípio, evita o tom trash empregado pelo original e investe no horror sem concessões, mas invariavelmente rende no final ao trash e compromete o “espírito” do filme.

O diretor
O segredo da cabana: Drew Goddard é da geração dos novos talentos. Com 38 anos é apadrinhado por J.J Abrams e Whedon. Antes do roteiro e direção de O segredo da cabana, ajudou a polir o texto do também decepcionante Cloverfield – o monstro.

A morte do demônio: O uruguaio Fede Alvarez foi descoberto por Raimi depois de ter feito um curta sobre uma invasão alienígena em Montevidéu e ter postado no YouTube. Já trabalha na sequência de A morte do demônio.

A protagonista
O segredo da cabana: Aos 32 anos, Kristen Connolly não é exatamente uma figura reconhecível no cinema, mas já participou – sempre como coadjuvante – de produções badaladas como Foi apenas um sonho (2008), Fim dos tempos (2008) e Os delírios de consumo de Becky Bloom.

Kristen Connolly: ok, ela é mais bonita... 

A morte do demônio: Aos 23 anos, Jane Levy ainda está pavimentando seu caminho no cinema. Com relativo sucesso na tv americana, estrela o seriado Suburgatory, debuta no cinema já protagonista em A morte do demônio. Está em outro filme de terror para estrear ainda 2013.

Jane Levy: ok, mas o futuro dela é mais promissor...

O hype da droga
 Como em todo filme de terror para jovens e com jovens, a droga ocupa papel central na trama.

O segredo da cabana: Marty, vivido pelo ator Franz Kranz, é um maconheiro inveterado. Ele faz questão de estar chapado a todo o tempo. Conforme o filme vai avançando, se percebe que mesmo chapado, Marty é o mais lúcido da turma e o único não disposto a fazer as escolhas ruins que os jovens sempre fazem nesses filmes. Mais adiante descobre-se que a maconha inibia um agente químico que, por falta de um termo melhor, “emburrecia” os jovens em questão.

A morte do demônio: Mia, vivida por Jane Levy, é uma dependente de drogas em intervenção. É essa justamente a razão que a leva, junto com dois casais, para a cabana isolada. A abstinência da droga, em certo nível, é pretexto para as alucinações e loucuras que caracterizam a personagem no segundo ato do filme.

O momento WTF
O segredo da cabana: Quando se descobre que tudo não passa de um ritual milenar para evitar a extinção da vida como conhecemos. Ou da humanidade se preferir...

A morte do demônio: Quando Mia arranca o braço das fuselagens de um carro facinho, facinho. Será que ela não viu 127 horas?

Marty, de O segredo da cabana: 'agora me diz que eu não sou o personagem mais bacana desse Tira-teima'?

A morte mais bacana
O segredo da cabana: Acaba sendo a de Chris Hemsworth que envenena uma moto e literalmente se mata.

A morte do demônio: A morte “devagar e sempre” de Eric (Lou Taylor Pucci) que, afinal, foi quem invocou o demônio. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Crítica - Amor profundo

As palavras parecem não estar lá!

Amor profundo (The deep blue sea, ING 2011), baseado na peça de Terence Rattigan, abre com uma mal sucedida tentativa de suicídio da protagonista Helster Collyer (Rachel Weisz) ao som das palavras que ela deixou escritas para o amante Freddie Page (Tom Hiddleston). Logo nos primeiros minutos, o filme – escrito e dirigido por Terence Davies – deixa claro que trata das angústias que movem a existência e confluem para o abrigo do amor – idealização romântica das impossibilidades tangenciadas na possibilidade da plenitude, do bem estar, da felicidade.
Davies pronuncia-se por meio de uma narrativa heterodoxa em matéria de cinema. Com fotografia granulada, flashbacks que se confundem com devaneios dos personagens, elipses, alinearidade, muitos silêncios e closes em seus atores, além da presença constante da música - em tons graves - a ditar o estado de espírito dos personagens.
Amor profundo reverbera o destempero do amor exacerbado. Hester, casada com um proeminente juiz na Inglaterra dos anos 50, se enamora do piloto de avião veterano da 2ª guerra mundial Freddie. O amor deles é apresentado à audiência em memórias gravitadas pela nostalgia melancólica de Hester. Ela, mesmo depois de deixar o marido e na companhia do homem que ama, não consegue desvencilhar-se daquele mal estar da alma de quem não sabe exatamente do que padece. Ela postula que ama Freddie mais do que ele ama a ela. Ele não aceita a responsabilidade pela tentativa de suicídio. O marido (Simon Russell Beale), que nutre um amor menos carnal e mais fraterno por Hester (um comentário estabelecido a partir do momento em que se testemunha seu zelo com a mãe a descobrir-se traído pela esposa), mantém-se devotado a Hester em reveladora descompostura sentimental. Em uma das cenas mais eloquentes do filme, que com seus silêncios transforma-se em experiência mais sensorial, Hester devolve ao marido que insinua sua relação com Freddie ser fruto de luxúria: “Luxúria não é a plenitude na vida, mas Freddie é, para mim. Plenitude na vida. E na morte. Ponha um rótulo nisso, se for capaz”.

Hester e um reflexo que não lhe traz paz, mas aflição: a interpretação de Rachel Weisz é certeira na inflexão que faz da personalidade depressiva

A paixão pode ser letal se vivida em toda a sua intensidade, mas não é isso que advoga esse filme de beleza rara e olhar complexo sobre a agudeza de uma depressão. Amor profundo enxerga a beleza do fracasso romântico. Do desequilíbrio proveniente do choque entre as expectativas e a memória. Entre a paixão e a convivência – e algumas cenas que emulam a diferença cultural entre Hester e Freddie são providenciais nesse sentido.
Amor profundo não seria o filme que é sem um trio de atores capazes de erguer a difícil missão de preencher o emaranhado emocional desses personagens em um filme que se reveste ainda mais de complexidade. Rachel Weisz, indicada ao Globo de Ouro deste ano pelo papel, calibra sua Hester de todo o estofo dramático dos depressivos. Sua atuação é pontual no retrato que faz de uma pessoa refém de seus sentimentos difusos e contraditórios. Hiddleston, por sua vez, confere humanidade a um personagem que nunca pode se ler de todo. Já Beale confere dignidade a um personagem talhado pelo texto de Rattigan para ser bobo, ingênuo.
Amor profundo não é um filme fácil. De começo, em sua carta de suicídio, a própria Hester admite: as palavras parecem não estar lá. É um filme para se sentir!

Qual Bond seria melhor?


Tudo indica que Sam Mendes irá retornar como o diretor do 24º filme de 007. Mas, enquanto o contrato não é finalmente assinado, os produtores vão mantendo sondagens a um punhado de diretores que surgem como possibilidades para assumir a cadeira de diretor.
A imprensa americana veiculou na última semana os nomes do dinamarquês Nicolas Winding Refn, dos ingleses Tom Hooper e David Yates e do taiwanês Ang Lee como nomes no radar da EON, MGM e Sony, estúdios responsáveis pela série junto aos produtores Michael G. Wilson e Barbara Broccolli. Com alguns desses nomes, inclusive, já se estaria negociando.
São todos nomes de qualidade e que, certamente, fariam filmes interessantes. Mas a abordagem de Bond e de seu universo seria diferente nas mãos de cada um deles. Mas qual faria o melhor Bond? A cinefilia, às vezes, encontra eco na divagação.
David Yates, por exemplo, é um homem de estúdio. Já provou eficiência na condução de grandes séries inglesas, foi o responsável pelos últimos quatro filmes da franquia Harry Potter, e seria o candidato ideal para rodar um filme de colaboradores. O outro inglês da lista, Tom Hooper, seria uma escolha inusitada. A princípio, sua menção se resumiria ao fato de ser britânico e à intenção de manter o controle criativo de Bond em terra bretã. Uma reflexão mais dimensionada, no entanto, mostra que Hooper é o tipo de diretor clássico que possibilitaria um desenvolvimento coerente da série a partir do ponto em que o também britânico Sam Mendes a deixou. Tanto Mendes quando Hooper vêm do palco londrino, cresceram com o personagem como referência inglesa e de masculinidade e demonstraram perícia técnica em suas incursões no cinema. Seguro dizer, portanto, que a opção por Hooper, assim como Mendes, vencedor do Oscar por seu primeiro longa-metragem, visaria reproduzir os efeitos da escolha pelo diretor de Beleza americana. Ang Lee seria uma escolha corajosa. Principalmente pelo fato de que Hulk, o único blockbuster essencialmente blockbuster da carreira do cineasta ficou aquém das expectativas da indústria e de grande parte do público. Mas seria uma escolha compatível com a fase de Bond ensejada por Operação skyfall. Lee é um cineasta sensível que consegue aliar alma à cenas de ação – como provado em O tigre e o dragão. Mas é sua capacidade de trabalhar com luz e sombras sobre os personagens que faz de Lee a melhor opção entre as aventadas para assumir 007
 
Lee e seu Oscar por As aventuras de Pi: ele poderia finalmente levar Bond aos prêmios
 
Nicolas Winding Refn seria uma aposta até certo ponto incoerente. Os produtores já disseram que não dariam um 007 a Quentin Tarantino por entender que a linguagem não bate. Então porque dariam a Refn, diretor tão estilizado quanto Tarantino e até mais esteta? Não faria sentido contratá-lo apenas para censurá-lo. De qualquer jeito, seria o Bond mais insuspeito e original – ainda que fosse um filme ruim.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Análise da 66ª edição do Festival de Cannes

O cartaz internacional do vencedor da
Palma de Ouro
Nos últimos 20 anos, crítica e júri só concordaram quatro vezes na escolha do grande filme em competição pela Palma de Ouro. Em 2001, com O quarto do filho, em 2004 com Fahrenheit 9/11, em 2007 com Quatro meses, três semanas e dois dias, e em 2009 com A fita branca. Em pelo menos duas dessas concordâncias é possível notar forte apelo político no contexto específico da época. Em 2004, sob o apogeu da era Bush, presidente americano muito contestado internacionalmente, o júri presidido pelo cineasta americano Quentin Tarantino decidiu premiar em ato claramente político o documentário oposicionista de Michael Moore. O prêmio da crítica internacional, FIPRESCI, também. Em 2007, o foco era o aborto no drama romeno que revelou o cineasta Christian Mungiu. Em 2013 há, novamente, convergências nos prêmios do júri e da crítica com La Vie d`Adèle, filme sobre a descoberta da identidade (e sexualidade) por uma jovem. O filme, adaptado da graphic novel "Le bleu est une couleur chaude", de Julie Maroh, mesmerizou Cannes em virtude das cenas longas e francas de sexo explícito entre as jovens atrizes Léa Seydoux e Adèle Exarchopoulos, a quem o júri referendou como realizadoras ao lado do diretor franco-tunisiano Abdllatif Kechiche quando do anúncio da vitória na mostra competitiva do festival. Há um indesviável paralelo político com a situação atual que atravessa a França, em particular, e o mundo de maneira geral, sobre a legalização do casamento homossexual. Steven Spielberg, presidente do júri, até brincou. “No filme não há casamento”, mas não dissipou a forte conotação política que paira sobre a escolha. No domingo da premiação, Paris foi tomada por manifestantes contrários à lei sancionada pelo presidente francês François Hollande que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo.  
Atribuir o prêmio ao filme apenas a um posicionamento político de um movimento artístico francamente liberal como o cinema, e de um festival como Cannes como seu elemento catalisador, é pueril. Ainda que fundamentalmente verdadeiro. Principalmente se tomarmos Steven Spielberg, presidente do júri, como parâmetro. Geralmente, o presidente guia as escolhas, mas havia personalidades bastante enrijecidas no júri como os cineastas Lynne Ramsay – que recentemente abandonou o set de Jane got a gun sem qualquer explicação e o romeno Christian Mungiu sempre monossilábico e com posições bastante fortes quanto a sua visão de cinema. Esse choque talvez explique porque um filme como Inside Llewyn Davis, dos judeus (assim como Spielberg) Coen – o mais aplaudido do festival – acabou com o Grande Prêmio do Júri (o segundo lugar na competição). Figuras persuasivas como o cineasta Ang Lee e o ator Chistoph Waltz devem ter oxigenado os debates nada fáceis para apreciação de uma disputa que credenciou seis ou sete produções à Palma de Ouro. O vencedor entre elas. É justamente aí que surge o componente político. É irresistível crer que a atual conjuntura sócio cultural a respeito da união homossexual não tenha sido um critério – ainda que silencioso – a pautar a decisão do júri. Steven Spielberg é um diretor de filmes pudicos – só rodou uma cena de sexo em toda a sua carreira (no filme Munique). Difícil crer que, por essas e outras razões, La Vie d´Adèle tenha sido sua escolha primária. Parece mais resultado de debate e negociação.
Em um ano em que Cannes flexibilizou-se ao máximo buscando filmes que se debruçavam imperiosamente sobre a natureza sexual – desde filmes como o violento e estilizado Only God forgives na mostra competitiva, que tem uma mãe que apalpa o pênis dos filhos, a L´inconnu du lac, na mostra Um certo olhar, sobre sexo entre homens em uma praia naturalista, o vencedor da mostra competitiva funde sexo e política constituindo uma espiral de relevância ao festival que extrapola o contexto cinematográfico. 
Os realizadores de La Vie d´Adèle diplomados: o filme já tem distribuição garantida no Brasil pela Imovision

A crítica internacional, de maneira geral, recebeu bem a escolha. A crítica italiana, em particular, mostrou-se descontente com a ausência de La grande belezza, de Paolo Sorrentino entre os premiados. A crítica americana saudou a boa performance dos filmes do país com os prêmios concedidos a Nebraska, melhor ator para Bruce Dern, e Inside Llewyn Davis. O júbilo definitivo, no entanto, é francês. É a segunda vitória do país em cinco anos. Um feito que o país não alcançava desde os primórdios do festival – quando a competição era bem menos ferrenha. Em uma edição com forte pulso político, todos os continentes concorrentes foram lembrados. Melhor para o México, que assegura pelo segundo ano seguido o prêmio de melhor diretor. Este ano foi para Amat Escalante por Heli, único premiado que não figurou entre as unanimidades do festival, mas confirma a tendência já apontada por Claquete em outros artigos que reside no cinema latino-americano a criatividade em termos de linguagem e estética que o cinema internacional busca globalizar .

domingo, 26 de maio de 2013

Insight - 50 tons hollywoodianos



De vez em quando um projeto suscita muito interesse nos bastidores de Hollywood. Não há projeto que se adeque melhor a essa noção do que "50 tons de cinza". Os produtores ligados ao projeto não têm pressa. A pré-produção já vigora há quase um ano. A Focus Pictures, braço do cinema independente da Universal, já detém os direitos de adaptação desde meados de 2012. De concreto, apenas a roteirista Kelly Marcel. Ela vem da TV e seu primeiro roteiro é do ainda inédito Saving Mr. Banks. Kelly foi anunciada em outubro do ano passado. Desde então, nenhuma outra novidade concreta surgiu na pré-produção do filme. O processo de casting tem sido mais longo do que o habitual; assim como a escolha de um diretor. Essa aparente hesitação só tumultua o noticiário cultural que faz pipocar boatos sobre quem está na dianteira para assumir as principais cadeiras de "50 tons de cinza" no cinema. A direção, o papel de Christian Grey e o de Anastasia Steele.
Bledel e Bomer em pôster feitos pelos fãs
Há atores se oferecendo ao papel, caso dos atores Stephen Amell (mais conhecido pela série de TV "Arrow") que vazou que negociava com a produção do filme e Alex Pettyfer (de Magic Mike) e há atores que refutam todos os esforços da produção – como seria o caso de Emma Watson.
A mais recente onda de boatos dá conta de que Matt Bomer, o favorito de muitos fãs tanto nos EUA como no Brasil pode, enfim, ser o Christian Grey do cinema. Há, na verdade, uma fan page no Facebook que pede para que o ator seja o escolhido e indica a atriz Alexis Bledel (de filmes como Recém-formada e Sin city- a cidade do pecado) como a “Anastasia Steele” dos sonhos.
O último nome aventado para a direção foi o de Joe Wright. De acordo com reportes da Variety, a opção por Wright se daria por ele já gozar de um bom relacionamento com o estúdio. Gus Vant Sant, que já havia se oferecido para dirigir o último capítulo de Crepúsculo – dividido em dois filmes – voltou a se oferecer para ser o diretor de um fenômeno pop literário com forte apelo junto ao público jovem. Ainda não se sabe se sua reivindicação surtirá algum efeito.
Tanto Wright como Van Sant seriam boas escolhas, mas talvez fossem escolhas aborrecidas. Wright por seu academicismo exacerbado, ainda que detenha vigor no enquadramento do feminino (tão bem emulado por ele em obras como Desejo e reparação e Anna Karenina), e Sant por sua tendência de “problematizar” um produto que vive para ser entretenimento. Cineastas como Jane Campion, Adrian Lyne e mesmo Paul Verhoeven talvez fossem melhores opções. Se a ideia é surpreender, boas pedidas seriam Anne Fontaine, Atom Egoyan, Cristian Mungiu ou Roman Polanski. Mas é improvável que qualquer um desses nomes seja considerado ou aceite a proposta.

Joe Wright dirige Keira Knightley nos bastidores de Anna Karenina: ele já disse não a 50 tons de cinza

Wright, envolvido em outros dois projetos, já disse que não tem agenda para fazer o filme. Mas tudo é negociável em Hollywood. A escolha do diretor, no entanto, é algo que habitualmente antecede o casting.
A boataria sugere que os atores não devem ser celebridades do primeiro escalão. O que já cortaria nomes como Ryan Gosling, James Franco e Jake Gyllenhaal da bolsa de apostas. Matt Bomer não deixa de ser um bom nome, mas assim como seu rival mais lembrado – Iam Somerhalder – fraqueja nos dotes dramáticos. Mila Kunis é muito sensual para o papel de Anastasia. Watson seria a escolha perfeita, mas ela parece hesitante. A escolhida deve vir da TV. Enquanto essas definições não chegam, e não se sabe ao certo até que ponto essa demora tem a mão da autora E.L. James no zelo de sua cria, a fogueira das vaidades hollywoodiana vai ardendo.

sábado, 25 de maio de 2013

O saldo de Cannes 2013




Vida longa ao cinema francês
Um filme Francês, é de lei, sempre é premiado em Cannes. Mas em 2013 o júri presidido pelo americano Steven Spielberg não passara por constrangimentos e pode até mesmo premiar todos os exemplares franceses em competição. Os quatro filmes do país em competição, sem contar Jimmy P., primeiro filme em língua inglesa de Arnaud Desplechin, são bastante premiáveis. Tanto Jeune et Jolie, de François Ozon, La Vie D'Adele, de Abdellatif Kechiche, Venus in Fur, de Roman Polanski e Le Passé, de Asghar Farhadi agradaram a crítica internacional e, especialmente, a exigente crítica francesa.

A queda
Only God forgives talvez fosse o filme mais antecipado do festival de Cannes. Justamente por isso a decepção tenha sido tão monstruosa. Ainda que o filme tenha agradado setores da crítica internacional mais suscetíveis a exercícios de virtuosismo, o consenso geral é de que o filme do celebrado Nicolas Winding Refn é das maiores decepções em anos no festival. As críticas foram cruéis com o filme e, desde já, Refn é ameaçado pela aura de ser um novo M. Night Shyamalan do cinema de autor.

A queda II
A credibilidade de Refn não foi a única atingida com a má recepção a Only God forgives. Ryan Gosling, até há pouco tempo um dos atores mais celebrados pela crítica, foi execrado com especial desdém. O ator não compareceu ao festival por estar ocupado com as gravações de How to catch a monster, sua estreia na direção. Some-se a isso uma atuação “em que uma paisagem seria mais expressiva”, nas palavras da crítica do The New York Times, e dá para ter uma ideia de como Gosling sai com a imagem fissurada da riviera francesa. Muitos veículos internacionais chegaram a ironizar a atuação do ator no filme, expediente que poucas vezes se viu na cobertura de um festival de cinema.

Ousadia ou ego – o enigma Franco
As I lay dying, exibido na mostra Um certo olhar do festival, marca a quarta participação consecutiva de James Franco em um festival de cinema. Um feito que poucos artistas são capazes de ostentar. O filme, adaptado da obra de William Faulkner, decepcionou grande parte da crítica, e caiu nas graças de uma minoria, em virtude do que o Le Monde chamou de “delírios estéticos” de James Franco. A jornalista e crítica Mariane Morisawa na Veja.com escreveu que “o projeto é tão ruim que não pode nem ser considerado um filme” e lançou o enigma: “James Franco é ator, artista visual, escritor, professor e diretor. Como ele consegue fazer tudo isso, ninguém sabe. Mas também não quer dizer que faça bem, como se viu em As I Lay Dying”. Out!

 James Franco e parte do elenco de seu filme na premiere em Cannes: imagem arranhada

Expectativas invertidas
Não havia nenhum blockbuster a ser exibido fora de competição, ainda que o filme de abertura, O grande Gatsby, vestisse muito bem essa indumentária. O filme foi uma decepção alarmante. Há muito tempo, um filme de abertura não recebia críticas tão negativas. Em 2010, Robin Hood foi o que chegou mais perto da defenestração experimentada pelo filme de Baz Lhurmann. Mas os outros filmes exibidos fora de competição (All is lost, de J.C Chandor e Blood ties, de Guillaume Canet) agradaram. Quem não agradou tanto foi Jerry Lewis,estrela de Max Rose, filme exibido em sessão especial em Cannes. O gênio da comédia chutou bola fora ao afirmar que não vê graça nas comediantes mulheres. A direção do festival quebrou o protocolo e  realizou a coletiva com Lewis antes mesmo da exibição do filme, mas não esperava por esse balde de água fria do ator. Não foi nenhum Lars Von Trier, mas não pegou bem!
Outros filmes que protagonizaram inversões de expectativas foram The bling ring – a gangue de Hollywood, de Sofia Coppola, que agradou mais do que se esperava, e Les salauds, de Claire Denis, que agradou menos do que o habitual tratando-se dos filmes da diretora francesa.

We L.O.V.E USA!
A gente já sabia, mas Cannes de maneira geral reagiu mais do que positivamente à safra americana que integrou a mostra competitiva. Três dos seis que integram a mostra oficial ostentam chances reais de saírem com prêmios do evento. São eles Nebraska, de Alexander Payne, Inside Llewyn Davis, dos irmãos Coen e Behind the candelabra, de Steven Soderbergh.

Os astros sumiram
Desde que as atrações do 66º festival de Cannes foram anunciadas, já se sabia que não seria um festival com muitas estrelas – talvez por isso a direção do festival tenha feito um esforço a mais para garanti-las no júri da mostra principal. Mas alguns dos nomes mais esperados simplesmente não compareceram. Aumentando a frustração nesse departamento. Casos de Joaquin Phoenix e Ryan Gosling. 

MVPs
O encolhimento da oferta de astros não está necessariamente relacionada a quantidade surpreendente de artistas que trouxeram a Cannes mais de um projeto. Mas é uma maneira de olhar a questão. Marion Cottilard, Mathieu Amalric, Carey Mulligan, Léa Seydoux, Roman Polanski, James Gray e Oscar Isaac defenderam mais de um filme na croisette.

A violência...
Como sempre, filmes violentos fizeram parte do cardápio do festival. A violência irrompeu crua e nua logo no primeiro filme em competição, o mexicano Heli e apareceu em outros filmes menos festejados como Only God forgives e Wara No Tate. A violência só foi razoavelmente bem justificada, segundo reporta majoritariamente a cobertura da imprensa internacional, no chinês A touch of sin.

... e o sexo
Se houve algo mais presente, e bem vindo, do que a violência em Cannes foi o sexo. Dois filmes com franca voltagem homossexual (Behind the candelabra e La vie d´Adele) estão entre os mais festejados dessa edição. Mas o sexo, direta ou indiretamente, pautou as mais diversas produções que passaram pela riviera francesa. Tanto em mostras paralelas, como As I lay dying na mostra Um certo olhar, como na competição oficial com Venus in fur e Jeune et Jolie.

Sem obra-prima, mas...
Não houve na edição deste ano a percepção de ter surgido uma obra-prima. Em compensação, há muitos anos Cannes não apresentava uma seleção tão sólida e com elogiável qualidade. Apenas dois filmes, o já citado Only God forgives e o japonês Wara No Tate, foram considerados abaixo da média. Não deixa de ser uma boa notícia para o evento que viu pelos menos seis filmes se credenciarem com propriedade à Palma de Ouro.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Espaço Claquete - Possuídos


À primeira vista, Possuídos (Bug EUA 2006) poderia ser confundido por um filme de David Cronenberg, em parte por versar sobre o estado de paranoia, em parte pela fusão que propõe entre o gênero de terror e ficção científica com o corpo como ponte. Trata-se, no entanto, de um filme de William Friedkin baseado em peça do dramaturgo Tracy Letts.
O filme passado quase que exclusivamente no interior de uma casa não esconde as raízes teatrais, mas se beneficia do domínio cênico de Friedkin – diretor capaz de sempre valorizar tremendamente seus cenários.
Agnes White (Ashley Judd) é uma garçonete solitária que vive da expectativa sombria do retorno do ex-marido (Harry Connick Jr.), um tipo violento que cumpriu pena por motivos nunca de todo esclarecidos. Agnes, que vive em um hotel de beira de estrada, é apresentava a Peter Evans (Michael Shannon) por sua colega de trabalho R.C (Lynne Collins). A princípio, Peter parece apenas recatado, mas com o tempo se mostra um sujeito paranoico. Antes mesmo de descobrirmos que Peter é, na verdade, um veterano da guerra do golfo e possivelmente cobaia de experimentos bancados pelo exército americano, descobrimos que Agnes – que mantém sua cota de vícios em dia – é receptiva às vibrações de Peter. Talvez em virtude de sua solidão, talvez por ser ela mesma um pouco paranoica. Perdeu o filho em um supermercado, mora em um hotel de beira de estrada, tem um ex-marido bandido... razões para a paranoia não lhe faltam aponta o roteiro.
Possuídos, é preciso dizer antes de outra qualquer elaboração, é um filme de terror diferente. Do tipo que aterroriza pela dúvida que incute a respeito da paranoia dos protagonistas ser fruto da loucura em estado bruto deles ou da sociedade que vivemos. Outra aproximação pertinente ao cinema de Cronenberg, portanto. E que loucura seria essa? Peter, abstêmio de sexo, cede ao interesse desesperado de Agnes por ele. Imediatamente depois de consumarem a paixão desajeitada que os aproximava, Peter começa a ver pequenos insetos na cama de Agnes. Ele demonstra uma irritação mais aguda do que se poderia imaginar para a situação. Agnes, a princípio, não vê os tais insetos, mas acompanha a inquietação de Peter – como seria natural.
A partir de um determinado momento ela começa a vê-los também, mas apenas depois de Peter compartilhar com ela sua angústia. A de que era uma cobaia do exército americano. Seria ele o hospedeiro de uma devastadora arma biológica?
A grande sacada de Possuídos, valorizada pela forma como Friedkin tece o registro, é a total impossibilidade de uma conclusão efetiva a respeito. O filme, ele mesmo em tensão crescente, fustiga a teoria da conspiração, mas não nega a verdade dos protagonistas – enamorados na loucura. Seriam os insetos responsáveis por esse rompante de insanidade? O terror, para a audiência, reside na possibilidade.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Momento Claquete #35

O 66º festival de Cannes ainda não acabou, mas Claquete já selecionou alguns dos melhores clicks do evento

Os homens atrás do candelabro: Steven Soderbergh, elenco e equipe do elogiado Behind the candelabra da HBO

A estonteante Allison Williams, da série Girls, também marcou presença na premiere do filme da HBO 

Sangue azul: Chiara Mastroianni no photocall de Les salauds, filme exibido na mostra Um certo olhar que marca sua terceira colaboração com a diretora Claire Denis  

O inglês Clive Owen cumprimenta seu diretor em Blood ties, o francês Guillaume Canet, na ensolarada manhã do dia 21 de maio em Cannes 

O cabelo combina: os galãs do novo filme dos irmãos Coen, Inside Llewyn Davis, Garrett Hedlund e Justin Timberlake não economizaram no gel...

 Black &White: Jennifer Lawrence deu o ar da graça para promover a sequência de Jogos vorazes

Roman Polanski e o ex-piloto de fórmula 1 Jackie Stewart apresentam documentário produzido pelo primeiro sobre as façanhas do segundo

Bruce Dern, elogiado por sua atuação em Nebraska, posa para fotos ao lado da filha coruja Laura Dern

Amor em Cannes: Os namorados Louis Garrel e Veléria Bruni Tedeschi apresentam Un château en Italie, dirigido por Valéria e estrelado por Garrel

Sem Gosling: Kristin Scott Thomas, na esquerda, e Nicolas Winding Refn promovem Only God forgives no evento francês

Favorito: O diretor italiano Paolo Sorrentino, à direita, conquistou simpatia da crítica com La grande bellezza, estrelado por Toni Servillo, à esquerda


Fotos: Getty Images, Telegraph e Festival de Cannes

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Crítica - Em transe


Filme em transe

Há filmes engenhosos e filmes que simulam serem engenhosos. Em transe (Trance, ING 2013) se ajusta à segunda leva. O diretor Danny Boyle não é exatamente um novato em manipular a audiência além do desejável. Ele ganhou um Oscar fazendo isso com Quem quer ser um milionário?, filme que rasga a cartilha do bom gosto. Em transe não chega a esse ponto; na verdade, nem merece a comparação, mas não deixa de ser a representação de um vício que Boyle precisa abandonar para que a História lhe seja mais afável.
Em transe tem um roteiro frágil, com reviravoltas mal articuladas e um problema capital: o excesso de truques a simular coerência em reviravoltas que não são coerentes. Além do mais, “a reviravolta definitiva”, aquela que revela o segredo mor do filme, é perceptível com pouco mais de meia hora de filme. Boyle e o roteirista John Hodge tentam submergir esse segredo ou revelação, em uma classificação mais categórica, em um balaio de lembranças, memórias forjadas e falsas revelações.
Em transe, para quem está perdido, mostra o pós jogo de um roubo a uma galeria de arte. Simon (James McAvoy), funcionário da galeria que faz parte da quadrilha, se esqueceu do local em que guardou a obra roubada e, depois de breve sessão de tortura, Franck (Vincent Cassel), o mais próximo de líder do grupo, sugere hipnose para se descobrir onde Simon, afinal, escondeu a obra roubada. É aí que entra em cena a personagem de Rosario Dawson, Elizabeth.

Vincent Cassel é uma presença sólida em um filme frágil...

Nada é o que parece ser em Em transe, exceto pelo fato de que tudo é exatamente como parece ser; o que caracteriza uma falha grosseira de argumento. A sofisticação visual do filme, que abusa de uma direção de fotografia arrojada e inventiva – os transes são achados visuais sempre surpreendentes, não esconde a trucagem narrativa. Em transe é um filme que quer parecer mais do que é. É diferente, portanto, de Quem quer ser um milionário? que quer parecer algo que não é – no caso, um filme humanista.
Em transe, além da boa trama, reclama para si uma engenhosidade narrativa que na verdade não existe. A hipnose de Boyle, dessa vez, não funcionou.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Crítica: Reality - a grande ilusão

Tubo de ensaio

Uma comédia que investiga a vacuidade da fama com toques surrealistas. Essa é a melhor definição para Reality – a grande ilusão (Reality, ITA 2012), novo filme de Matteo Garrone. Exercitando-se em um gênero distinto do que obteve consagração internacional (via o elogiado Gomorra), Garrone oscila no registro, mas não perde de vista o teor crítico do comentário que deseja materializar com seu filme.
E que comentário seria esse? De que a obsessão pela fama desvirtua tanto o indivíduo quanto a sociedade. Em Reality – a grande ilusão, Luciano (vivido com incrível energia e despudor por Aniello Arena) sustenta sua família – que se insere dentro do estereótipo das grandes famílias italianas – de pequenos golpes e de uma peixaria. Instigado pelos familiares, ele se inscreve para participar da nova edição do Big Brother. Pré-selecionado, em um misto de vaidade e ansiedade, passa a respirar o programa e pautar sua vida inteiramente pela iminente (em sua lógica) participação no Big Brother.
O mote é relativamente trivial, mas é o tratamento que Garrone dá a ele que eleva Reality ao panteão dos filmes mais robustos nas análises que propõem.
O filme começa com um plano aberto do alto. O plano vai fechando em uma carruagem que se locomove para dentro do que parece ser um castelo. É um hotel. Da carruagem saem dois noivos. Estamos em um casamento em que a encenação, o faz de conta, impera. A encenação, a próxima cena sacramentará, é um valor que muito interessa à realização em Reality – a grande ilusão. Como discurso e como mise-en-scène. Flagramos Luciano se vestindo de velhinha em um quarto. Ele animará o casamento? A sobrinha reclama que a velhinha é um personagem desgastado. Luciano é invadido por uma angústia que voltará a estampar sua face em outros momentos do filme. No salão em que ocorre a festa chega Enzo (Rafaelle Ferrante), ex-participante do Big Brother, que goza de grande popularidade no país, e que participa desses eventos constituindo um outro tipo de encenação.
Luciano, ao centro, de calção azulo com detalhes amarelos:
ansiedade que 
Esse primeiro ato tem como propósito, mais do que apresentar o protagonista, apresentar uma sociedade que tem a representação – e a ostentação – como paradigma vigente. Nesse contexto, a fama é objetivo ou necessidade? O aspecto surrealista de Reality instiga não só à reflexão como a indefinição do debate. Mas Reality- a grande ilusão, ao submeter a progressiva obsessão de Luciano ao ridículo, aponta para o vazio existencial dessa perseguição obstinada por um pertencimento qualquer.
O filme objetivamente prescinde de ser conclusivo, mas peca ao negar à plateia uma comédia menos semiótica. Não é um humor fácil o que se vê em Reality. Mal comparando é como piada de judeu. É preciso conhecer a cultura judaica para desfrutar melhor do humor negro que a satiriza. Em Reality- a grande ilusão é preciso sentir-se a vontade com risadas nervosas e diretrizes sociológicas diversas para vivenciar uma experiência mais completa.
Passa por aí a cena final, a mais surrealista que se tem notícia no cinema recente, em que o plano fechado no protagonista rindo alucinadamente vai abrindo – em diálogo direto com a abertura do filme.

domingo, 19 de maio de 2013

Euro & Travelling


Vinterberg, o terrível

Com 29 anos ele causou em Cannes. Sob o signo de uma estreia arrebatadora na direção de longas-metragens para cinema – com o intenso e perturbador Festa de família (1998), o dinamarquês Thomas Vinterberg parecia ter para si um caminho glorioso, mas não foi o que se verificou. As expectativas não foram cumpridas e o cineasta se viu sob o hostil território das promessas que não vingaram.
Foi no ano passado, também em Cannes, que Vinterberg fez as pazes com a crítica internacional ao apresentar o não menos intenso e perturbador A caça. O diretor não deixou por menos e rebateu as afirmações de que seu cinema estava em uma maré baixa. “Gosto de todos os meus filmes”, disse o dinamarquês em entrevista coletiva em Cannes. “Não mudaria nada. Um ou outro pode ter tido uma resposta melhor da crítica, mas são todos meus filhos”, metaforizou Vinterberg.
A verdade é que o diretor sofreu um pouco por ter sido o único que levou a ferro e fogo os fundamentos do Dogma 95, movimento que fundou juntamente com Lars Von Trier, em face de um cinema mais naturalista, menos intervencionista por parte da realização. Mas não foi o dogma 95 que o recrudesceu. Filmes como Dogma do amor (2003), Querida Wendy (2004) e Quando um homem volta para casa (2007) preservam o despudor temático de Vinterberg, mas as narrativas são frouxas e perdulárias. Em O submarino, sobre dois irmãos assombrados por chagas passadas que se reencontram no funeral da mãe, o diretor já dava sinais de uma reconsolidação de seu cinema em sua articulação estética e propósito narrativo. A confirmação veio com A caça, filme que tem um ponto de partida dos mais interessantes: relativizar o conceito de inocência que temos incauto em uma criança. A partir de uma falsa acusação de pedofilia, e da análise ensimesmada de todo o circo que dela deriva, Vinterberg propõe, ainda que inconscientemente, um diálogo prolífero com seu filme até então mais famoso: Festa de família. Com a pedofilia como parâmetro, ele opõe o alcance devastador de traumas no foro íntimo e também na coletividade.
Se Vinterberg se aposentasse agora, além de despedir-se no topo, deixaria uma obra de musculatura robusta e fina integração estética e temática. Ainda que capitaneada por esses dois filmes distanciados por quase duas décadas. É um feito que poucos cineastas, principalmente se considerarmos a opção por um cinema de burilação estética, são capazes de ostentar.

sábado, 18 de maio de 2013

Crítica - Homem de ferro 3

Futuro incerto


Homem de ferro 3 (Iron man 3, EUA 2013) é um filme de transição. Depois de consolidar o universo Marvel no cinema, é a hora de consolidar o universo Tony Stark. Esse terceiro filme se presta a esse intuito. Robert Downey Jr. pode ou não renovar para mais uma bateria de filmes, mas é preciso pensar além do futuro imediato e a Marvel – como deixa claro o “Tony Stark will return” depois da cena pós-créditos – vê no personagem o seu James Bond.  Tudo em Homem de ferro 3, seus defeitos e qualidades, convergem para a consolidação desse “universo Tony Stark”. O filme, seguramente mais frágil do que os anteriores, escala a megalomania característica dos vilões ‘bondianos’ na figura de Aldrich Killian (Guy Pierce); investe mais em Tony Stark na tela do que no Homem de ferro e até enseja as “stark girls”, ainda que timidamente nesse primeiro rascunho, na figura da personagem de Rebecca Hall. O cálculo está muito bem feito. O perigo é que Homem de ferro integra outro universo, o Marvel, e essa dupla pretensão pode gerar desequilíbrios no longo prazo. Além do mais, ainda resta a incógnita se o personagem conseguiria sobreviver sem Robert Downey Jr. Não é porque Bond sobreviveu sem Sean Connery, que o mesmo aconteceria aqui.
A questão, no entanto, merece uma análise à parte. O filme, ainda que decepcione na comparação com seus predecessores – em especial o primeiro, se firma como um blockbuster digno. Sob muitos aspectos, como filme evento, Homem de ferro 3 é um triunfo. Há um roteiro que se passa muito bem por inteligente, ainda que não o seja, personagens cativantes (os novos e os de sempre) e Robert Downey Jr. provando que consegue se manter no auge mesmo com a pressão maior sobre seus ombros. Mais tempo em tela com menos cenas de ação e um personagem já conhecido e relativamente desgastado não diminuíram a força de Downey Jr. para autoparódia e muito menos tornaram seu cinismo menos efetivo. O ator continua responsável pelo melhor que Homem de ferro tem a oferecer como cinema, o que põe em dúvida se a série tem condições de evoluir sem o ator.

Robert Downey Jr. em cena do filme: ele ainda vale o ingresso

Os efeitos especiais, desnecessário dizer, são de brilhar os olhos. O clímax do filme, em que diversas versões do Mark (nome de batismo do traje do Homem de ferro) funcionam automaticamente e Tony migra de um para outro conforme as circunstâncias exigem talvez seja o mais próximo da HQ – no sentido visual – que um filme da Marvel já chegou.   
Homem de ferro 3, com sua massiva bilheteria, esconde um esgotamento criativo da Marvel. Os vingadores não foi a coca-cola que se esperava e a transição ensejada por Homem de ferro 3 talvez já seja reflexo disso. É cedo para dizer. Certo é que a Marvel precisa mais do que nunca de Robert Downey Jr., que já não precisa mais da Marvel. É a resolução dessa história que decidirá o futuro do personagem daqui para frente.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Em off


Nesta edição da seção Em off, as atrizes mais cults da atualidade, os labirintos das escolhas da Warner Bros, o retorno à boa forma de Tom Hanks, a largada em Cannes e a nova menina dos olhos de Hollywood.
  
A ressurreição de Tom Hanks

Recentemente eleito por uma pesquisa feita entre americanos e divulgada pela revista Time como a personalidade americana mais confiável, Tom Hanks está caminhando de volta ao topo. Depois de uma série de projetos malogrados como A viagem (2012) e Larry Crowne- o amor está de volta (2011), o ator ensaia as pazes com público e crítica. O primeiro passo desse “reencontro” reside em “Lucky guy”, peça e autoria de Norah Ephron – que antes de falecer era contumaz colaboradora do astro – que marca a estreia de Hanks na Broadway. Os elogios se enumeraram e antecederam a nomeação ao Tony (o Oscar do teatro), no qual o ator desponta como favorito.
No fim de 2013, Hanks voltará às telas de cinema em duas aguardadas prodições. A primeira é Captain Phillips, novo filme de Paul Greengrass, em que Hanks faz o capitão de uma embarcação americana invadida por piratas somalis no início dos anos 2000. Já em Saving Mr. Banks, que assim como Captain Phillips é aventado para o próximo Oscar, o ator vive ninguém menos que Walt Disney em pessoa.
Há muito tempo Hanks não dispunha de tamanha evidência e com adornos extremamente promissores.

A Warner e seus adiamentos
Foi anunciado recentemente que a Warner Brothers decidiu adiar o lançamento de 300: a ascensão de um império de agosto deste ano para março de 2014. Não houve uma justificativa oficial para a mudança, mas foi sugerida a percepção de que seria melhor lançar o filme em harmonia com a época do lançamento da produção original (300 foi lançado em março de 2007). Esse tipo de mudança, por mais indesejada que seja para fãs, é relativamente comum no sistema de estúdios, mas a Warner tem tornado a prática frequente com seus superlançamentos. Em 2008, adiou a estreia do aguardadíssimo sexto filme da saga Harry Potter (O enigma do príncipe) porque não tinha um filme de grande potencial comercial para o verão de 2009 - em virtude da greve de roteiristas que paralisou a indústria no fim de 2007 e início de 2008. Depois de arrecadar horrores com O cavaleiro das trevas naquele verão, a Warner não queria deixar de lucrar acintosamente na temporada em questão no ano seguinte.
Processo semelhante ocorreu com o novo Superman. O homem de aço estava originalmente programado para o fim de 2012, mas o estúdio resolveu adiá-lo para 2013 por já ter um filme de super-herói de grande projeção (a conclusão da trilogia do cavaleiro das trevas de Nolan) no ano. Com isso, o filme de Zack Snyder será lançado em julho deste ano.
O Grande Gatsby, que canaliza alguma atenção em virtude da première mundial em Cannes, é outro caso interessante. Também programado para o fim de 2012, o estúdio resolveu adiá-lo para o verão deste ano sob justificativa de que teria mais tempo de trabalhar os efeitos do 3D na finalização. A época, setores da crítica chamaram a atenção para um possível descontentamento do estúdio com o filme. Os boatos nunca foram combatidos com firmezas e agora, lançado, o filme reúne quantidade assombrosa de crítica negativas.

A glória só chega em 2014...

50 tons de cinza: a mina hollywoodiana
Na última semana foi divulgado por diversos veículos noticiosos de que o diretor inglês Joe Wright, de filmes como Desejo e reparação e Anna Karenina, é o favorito do estúdio Focus – que detém os direitos de adaptação para o cinema da trilogia best-seller "50 tons de cinza" – para dirigir o primeiro filme. O boato se baseia no fato de que Wright e Focus mantêm boa relação – todos os filmes do diretor com exceção de Hanna foram lançados pelo estúdio. Wright, no entanto, está comprometido com outros projetos e não se pronunciou a respeito do boato. Quem se engajou para conquistar a direção do filme foi Gus Vant Sant. O diretor de Inquietos e Milk – a voz da igualdade teria até mesmo rodado uma fita teste com uma cena erótica do livro e enviado ao estúdio.
"50 tons de cinza" é a grande mina de ouro do momento em Hollywood. Sites de cinema promovem enquetes periódicas com seus leitores para checar suas preferências para os papéis centrais. Jovens atores e atrizes em busca de serem os novos Robert Pattinson e Kristen Stewart digladiam-se por testes. Uma seção Insight deste mês de maio irá repercutir essa corrida ao ouro, contextualizá-la e apontar os nomes que devem, no final das contas, ficar com o ouro.

Foi dada a largada...
Já começou e quem quer saber os melhores detalhes sobre o 66º festival de cinema de Cannes precisa acompanhar de perto a fanpage do blog no Facebook. Serão postagens diárias, majoritariamente à noite, destacando o que de melhor aconteceu no dia na Riviera francesa. Curiosidades, bastidores e avaliação da crítica presente no evento dos filmes exibidos nas diversas mostras que dominarão o bate- papo cinéfilo nos próximos dias.

Atrizes cult
O TOP 10 do mês destacou os dez atores mais cults da atualidade. Mas e as atrizes? Elas estão aqui, devidamente adornadas pela informalidade cult da seção Em off. As dez mulheres que valem o culto no cinema atual não estão tão democraticamente distribuídas pelo globo como no caso dos homens. As francesas, (o que tem na água da França, né?) são maioria com três menções. A Itália segue firme com a onipresente, embora menos presente no cinema, Monica Belluci. Inglaterra e EUA têm duas menções e Brasil e Espanha surgem com uma representante cada.



As dez eleitas: Monica Bellucci, Ellen Page, Julianne Moore, Vanessa Redgrave, Mariana Lima, Isabelle Huppert, Kristen Scott Thomas, Penélope Cruz, Marion Cotillard e Juliette Binoche


terça-feira, 14 de maio de 2013

Crítica - Somos tão jovens



Olhar inconformista

Somos tão jovens (Brasil 2013), recorte sobre os anos de formação de Renato Russo como músico, é daqueles filmes que se agigantam na polarização que insinuam. É, sob certo aspecto, um filme homenagem que reveste seu protagonista de carinho e fala diretamente aos fãs – geralmente desprovidos do senso crítico. Em um segundo momento, é, também, um filme sobre um dos últimos movimentos genuinamente criativos com marca nacional – ainda que situado em um espaço-tempo de prolificidade de movimentos de rebeldia e inconformismo tutelados pela juventude no mundo.
Somos tão jovens, na direção enérgica de Antonio Carlos da Fontoura, concilia essa aparente dicotomia de maneira muito orgânica. É um filme vibrante, não apenas por retratar a gênese de um dos mais celebrados músicos da história do Brasil, mas também por buscar entender o momento em que Renato Manfredini Junior se torna Renato Russo.
É nessa investigação que Somos tão jovens, até então um registro cheio de vida, cai na mesmice. O roteiro de Marcos Bernstein adota os caminhos conhecidos e menos ousados e torna Somos tão jovens um produto que flerta perigosamente com a trivialidade enquanto cinema. Se essa entrega ao óbvio não acontece de todo é em virtude do talento messiânico de Thiago Mendonça que vive com coração e minúcia Renato Russo. Desde trejeitos característicos do cantor até a composição emocional robusta de suas aflições existenciais.
Mendonça afia o baixo e se revela o às de Somos tão jovens
Mendonça destaca-se ainda por uma proeza improvável. Quando Renato Russo começa a cantar, seja nos vocais do Aborto elétrico, como trovador solitário ou na Legião urbana, Mendonça se conecta à memória de Russo redefinindo-a com vibração, afinação e carisma que, talvez, não sobejassem dessa maneira em Russo.
Esse fator, que poderia ser um problema em certa ótica, acaba reforçando o olhar inconformista pretendido pela realização para essa geração brasileira, no geral, e brasiliense, em particular, que resolveu protestar via Rock´n roll.
Somos tão jovens ainda é capaz de exercer uma nostalgia diferenciada, justamente por apresentar uma juventude tão distinta da que existe hoje. Nesse sentido, ao som das músicas tão envolventes de autoria de Renato Russo, o filme adquire certa amargura.  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

TOP 10 - Os dez atores mais cults da atualidade

Para se ter uma ideia do rigor da lista dos dez atores mais cults da atualidade, que marca o TOP 10 do mês em Claquete, há uma pluralidade de nacionalidades – com o esperado predomínio francês com três menções. Há atores da Argentina, Brasil, Alemanha, Canadá, México, EUA e China. Não há muita margem para discussão. Estão aí os dez atores mais tchan da cinefilia contemporânea. Os critérios vão desde a famigerada predileção por papéis desafiadores à constante colaboração com cineastas identificados como autores.


10 – Mathieu Amalric

O ator e cineasta francês é quase uma grife. Daquelas que poucos conhecem, mas que quem conhece não abre mão. Dono de uma carreira já consolidada, e relativamente longa (estreou como ator em 1984), Amalric alterna participações no cinema autoral americano (Munique de Spielberg, Maria Antonieta de Sofia Coppola, Comóspolis de David Cronenberg) com o trabalho com grandes cineastas franceses como Roman Polanski, Alain Resnais, Jean-François Richet, Arnaud Desplechin e Claude Miller.

9 – Ryan Gosling

Ele está ficando popular, mas não dá sinais de que pretende renunciar sua aura cult. Ryan Gosling desenhou-a com filmes como Namorados para sempre, Tudo pelo poder, Drive, Half Nelson e Tolerância zero. O lado pop surge em produções como Amor a toda prova e Diário de uma paixão, projetos que de alguma maneira ajudaram a sedimentar sua veia cult. Em 2013 com os filmes The place beyond the pines e Only God forgives deve atingir novos picos nessa “Gosling fever”.

8 – Gael Garcia Bernal

O mexicano é mais cult no Brasil do que em qualquer outro lugar, mas é certo que as opções de Bernal reforçam sua vocação para culto. Ele já colaborou com cineastas brasileiros no cinema americano, diretores argentinos no cinema brasileiro, ajudou a levantar o cinema chileno e é responsável direto pela elevação do cinema mexicano à festivais e festejos da crítica. Até em suas incursões pelo cinemão mais comercial, Bernal denota apelo cult em produções como Babel, Cartas para Julieta, Sonhando acordado, Jogo de sedução e Ensaio sobre a cegueira.
No, Má educação, Sem notícias de Deus, Diários de motocicleta, O crime do padre Amaro, Amores brutos e E sua mãe também, no entanto, manterão para sempre seu status de ator cult.

7 – Irandhir Santos

Ele não tem o charme de Wagner Moura ou a carreira longeva de Selton Mello, mas se isso o afasta do grande público, de certa forma o aproxima de um público mais interessado no talento. Nesse departamento, Santos se equivale aos outros dois, mas se destaca pelas escolhas ousadas. A que lhe deu certa notoriedade foi antagonizar com o herói nacional capitão Nascimento no segundo Tropa de elite. A experiência valeu a Santos respeito e admiração que lhe renderam convites para filmes menores como Febre do rato e O som ao redor que ajudaram a firmar seu nome como do ator nacional que melhor se assenta sobre a pecha de cult.

6 – James Franco

Ele até pode ser popular, mas só o é porque é cult. E James Franco investe pesado na aura de cult. Tem um homem aranha e Oz no currículo, mas é a geração beat, a cena homossexual e o sexo, de maneira geral e também em suas muitas particularidades, que interessa a Franco que projeta uma carreira como cineasta enquanto surge em filmes como Milk – a voz da igualdade, Tar, Lovelace, 127 horas, Uivo e Segurando as pontas.

5 – Ricardo Darín

Ele é muito popular na Argentina, mas no Brasil veste a indumentária de cult. Darín é um baita ator e o principal termômetro da bonança do cinema argentino. No Brasil é lembrado principalmente por seus maiores acertos, não necessariamente por seus melhores trabalhos. Destacam-se em sua filmografia O filho da noiva, Abutres, Um conto chinês, O segredo dos seus olhos, Nove rainhas e Kamchatka.

4 – Tony Leung

Quem admira a cinematografia asiática sabe que não há hoje ator mais cultuado e venerado do que Leung, nascido em Hong Kong e colaborador assíduo do cineasta Wong Kar Wai, ele marca presença nos filmes mais marcantes do oriente nos últimos anos. É dos atores mais premiados dessa lista e sinônimo de sofisticação seja qual for o gênero, seja o filme de gangster – como em Infernal affairs (filme que deu origem ao vencedor do Oscar Os infiltrados) – ou em um drama de época com fundo de espionagem, como Lust, Caution de Ang Lee.

3 – Michael Fassbender

O alemão de ascendência irlandesa é poliglota, o que ajuda a capitalizar como ator cult. Apareceu falando alemão e inglês em Bastardos inglórios de Quentin Tarantino, mas alcançou a glória mesmo em 2011 com os elogiados trabalhos em Um método perigoso, X-men: primeira classe, Jane Eyre e, principalmente, Shame. Consegue ser cult até nos filmes mais comerciais como Prometheus e A toda prova. Colaborando com cineastas como Terrence Malick, Ridley Scott e Steve McQueen – que o colocou no mapa com o tenso Hunger – Fassbender quer a primeira posição em uma nova edição da lista.

2- Vincent Cassel

O segundo francês da lista, e segundo poliglota (já atuou em inglês, italiano, português, espanhol e até em russo, além do nativo francês), é um ator que não tem medo de ousadias e experimentações. Já trabalhou com cineastas consagrados ou iniciantes, já fez filmes contestados ou louvados por seu valor artístico e enobreceu produções comerciais com vocação cult -  como o recente Em transe. Cassel, que recentemente mudou com mala e cuia para o Rio de Janeiro, é um ator que privilegia o cinema, lhe aferindo dimensão e estatura. Entre seus principais trabalhos se destacam Cisne negro, À deriva, Inimigo público nº 1, Senhores do crime, Doze homens e outro segredo, Irreversível e Rios vermelhos.

1- Louis Garrel

Se ser cult é ser francês, o pódio fica com Garrel. O cinema corre em suas veias, já que pai, mulher e mãe também estão imersos nesse universo. Garrel é o ator fetiche do cinema que se pretende intelectual, passional e, por que não, europeu. Entre seus principais trabalhos estão A bela Junie, A fronteira do alvorada, Canções de amor, Amores imaginários, Um verão escaldante e Os sonhadores.