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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

TOP 10 - Diretores bonitões


Sem George Clooney, Ben Affleck, Marco Ricca ou Sean Penn por que aí seria trapacear  Antes de se descobrirem como diretores de talento, esse pessoal já era galã. O TOP 10 do mês em Claquete lista dez diretores de cinema, de ofício, que fariam bonito do lado de cá das telas. Eles não são galãs, mas até que dão um caldo...

10 – Thomas McCarthy

A lista começa com um ator que virou roteirista e que é mais apreciado por seu trabalho como diretor. Como pode se ver, Thomas McCarthy, aos 47 anos, não é exatamente um George Clooney; mas tem sua graça. Diretor de perolas do cinema independente como O agente da estação (2003), O visitante (2007) e Ganhar ou ganhar (2011), McCarthy até poderia herdar os papéis de Colin Firth nas comédias românticas.


9 – Neil Blomkamp

O primeiro garotão da lista já não é mais tão garotão assim. O sul africano descoberto por Peter Jackson tem aqueles olhos grandes de lobo mau para enxergar melhor e cara de quem precisa de colo. Há mulheres que não resistem aos encantos do diretor de Distrito 9 e que será responsável pela estreia do brasuca Wagner Moura em Hollywood com Elysium

8 – Zack Snyder

Considerado um dos diretores mais promissores de sua geração, Zack Snyder só tem cara de garotão. Aos 48 anos pode ter com o próximo filme do Super-homem sua última chance de vingar em Hollywood. Depois de dirigir filmes testosterona como 300 (2006) e Sucker punch (2011) pode achar uma boquinha como o bonitinho insosso em “filmes para mulherzinha”.

7 – Len Wiseman

O mais bonitão da lista até aqui desposou a bela Kate Beckinsale, prova definitiva de que convence como galã de cinema. Diretor de fitas bacanas como Anjos da noite e Duro de matar 4, Wiseman é tão cuca fresca que até dirigiu os amassos de Colin Farrell em sua mulher no remake de O vingador do futuro.

6 – Walter Salles

O mais maduro da lista é brasileiro. Oba? Aos 56 anos, Salles é pura elegância. Desde os ângulos que escolhe para filmar, passando pelos artigos que escreve vez ou outra e culminando na forma de se vestir. O jeitão cidadão do mundo do diretor de Na estrada (2012) e Central do Brasil (1997) também ajuda no charme.

5- Sam Mendes

O inglês já foi mais magro e mais cuidadoso do seu visual. Ficou um tantinho desleixado desde o fim do casamento com Kate Winslet. Mas um homem que já conquistou além de Winslet, Rachel Weisz merece lugar cativo em uma lista como essa. Mesmo desleixado, Mendes tem os olhos e o sotaque trabalhando constantemente a seu favor...

4- Mathew Vaughn

Outro inglês, um pouquinho mais jovem e com senso de humor mais afiado. O diretor do ótimo filme de gangster Nem tudo é o que parece (2004) e da perola do humor negro Kick Ass–quebrando tudo (2010) é aquela beleza que vai cativando aos poucos. Basta experimentar.

3- Paul Thomas Anderson

Com jeitão de atormentado, frequentemente com visual bagunçado e ar de intelectual, Paul Thomas Anderson é uma síntese ambulante de seus filmes geralmente complexos. Avesso à badalações hollywoodianas é reticente em entrevistas e costuma impressionar interlocutores. Faz o ar misterioso até em poses para fotos ocasionais. Uma esfinge que muitas gostariam de se deparar.

2- Guy Ritchie

O inglês mais famoso da lista em que imperam ingleses. Ritchie é o arquétipo do diretor bonitão, mas não levou a coroa na lista de Claquete. Talvez pelos quilômetros rodados e pelo passado com a material girl tenha ficado com um honroso segundo lugar. O homem que reinventou o cinema de gangster inglês com perolas como Jogos, trapaças e dois canos fumegantes (1998) pode não estar no topo de seu jogo, mas ainda tem um belo de um jogo...

1-Guillaume Canet

O francês, e campeão da lista, é outro ator que se descobriu como realizador e em 2013 estreia Blood ties, seu primeiro filme hollywoodiano estrelado por Marion Cotillard, sua esposa. Isso mesmo senhoras e senhores, Canet é caso com Cotillard. Um trunfo digno de primeiro colocado na lista dos diretores bonitões. O francês, que faz lembrar o galã americano Patrick Dempsey, parece estar com tudo... e um pouco prosa também.

Crítica - Duro de matar: um bom dia para morrer


Levando o swing de McCLane à Rússia

Pai e filho em momento família no divertido e exagerado novo filme da série Duro de matar

Pode-se dizer que Duro de matar: um bom dia para morrer (A good day to die hard, EUA 2013) é um filme para fãs de John McClane, o policial mais azarado de Nova Iorque e o herói mais humano do cinema de ação americano. O quinto filme da série leva McCLane à Rússia; onde seu filho, acredita ele, está enrascado. Jack (Jai Courtney), na verdade, é um agente da CIA em uma operação que envolve desde as razões por trás da tragédia de Chernobil ao deslocamento de armamento nuclear. Não é a típica trama de um filme da série Duro de matar – o que incide na ponderação que se segue.
Ainda que acene para os fãs antigos com cenas de ação espetaculares rodadas no “punho” (sem grandes invencionices do CGI) e do peculiar humor de McCLane (e Bruce Willis ainda veste o personagem de maneira notável), Um bom dia para morrer objetiva se ajustar para uma audiência mais jovem e menos criteriosa. Passam por aí desde o aparente fator de cura de McCLane – já que ele nunca se machucou tanto e seguiu “firme e forte” - até a “missão acidental” de impedir o abastecimento nuclear de um alucinado russo.
São, porém, deslizes que não afetam o entretenimento, dessa vez dirigido pelo competente John Moore (de filmes como Atrás das linhas inimigas e O voo da Fênix), que Um bom dia para morrer deseja ser. Apenas o diminui em comparação aos outros capítulos da série.
Em compensação, as piadinhas com a rivalidade histórica entre russos e americanos e as gozações do status quo de azarado e mestre da improvisação de McCLane valem o ingresso. De quebra, há Sinatra e Rolling Stones na trilha sonora. Coisa que só um personagem duro de matar é capaz de segurar!

O Homem do mês - Daniel Day Lewis


Quantos têm três Oscars de melhor ator? Apenas Ele! Com "e" maiúsculo mesmo. Daniel Day Lewis é o ator definitivo, pelo menos para o Oscar. Depois de conquistar a terceira estatueta por seu desempenho paranormal como Abraham Lincoln no filme de Steven Speilberg, Day Lewis - que também é um legítimo homem de família - merece a distinção em Claquete. Fevereiro de 2013 se despede à sombra do poderoso e hipnótico Day Lewis.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Momento Claquete #33

 Oscar 2013

Jack Nicholson é o penetra na festa de George Clooney, Grant Heslov e Ben Affleck, produtores premiados por Argo 

Adele, que não desgrudou de seu Oscar, bate um papo com Richard Gere: fãs mútuos? 

Daniel Day Lewis e Meryl Streep posam para os fotógrafos no backstage do teatro Dolby 

Anne Hathaway e Jennifer Lawrence posam para as lentes da revista Entertainment Weekly 

Anne Hathaway em momento "vamos cair essa ficha?" no backstage do teatro Dolby 

Robert De Niro e Bradley Cooper compartilham um momento de descontração durante a cerimônia do Oscar 

George Clooney e Denzel Washington posam para uma foto que foi parar no instagram da Academia

Jennifer Lawrence faz cara de "me poupe" e se pronuncia graficamente no backstage do teatro Dolby

Laços de família: Se Summer Phoenix viu seu irmão Joaquin perder a disputa de melhor ator, seu marido, Casey Affleck, testemunhou a consagração de seu irmão, Ben, no Oscar 2013 

Catherine Zeta Jones prestes a dançar All that Jazz dez anos depois de tê-lo feito pela primeira vez no Oscar 

Joseph Gordon-Levitt e Daniel Radcliffe foram parar no Instagram 

Natalie Portman, no after party da Vanity Fair, provocou boatos de uma nova gravidez. Será?


Fotos: Just Jared, Entertainment Weekly, reprodução/Instagram, Vanity Fair

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Crítica da 85ª edição do Oscar


Confissões de uma academia em crise...

Humildade ou falta de autonomia? Ebulição institucional ou equilíbrio fora do comum? Quais as depreensões da vitória, previsível e ainda assim surpreendente, de Argo no Oscar 2013


O triunfo de Argo confirmou uma suspeita eriçada ao longo da temporada de premiações. A de que o Oscar, a despeito dos esforços da direção da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para diminuir a influência de premiações periféricas e do marketing avassalador dos estúdios,  a instituição ainda é (muito) suscetível a esses fatores. O raciocínio é simples: Quando os acadêmicos foram votar para definir os indicados, nenhum prêmio de maior projeção havia sido entregue e apenas a lista do indicados ao Globo de Ouro divulgada. Naquele momento, Argo não era um top contender para a Academia. Sim, tinha sete indicações assim como as oito de Os miseráveis em categorias que, assim como Argo, lhe deixavam no meio termo entre os figurantes e aqueles que realmente brigavam pelo título de melhor filme. Passada a consternação com a surpreendente exclusão de Ben Affleck dos indicados a melhor diretor, teve início uma campanha irascível em sua naturalidade para a vitória de Argo. Em parte pela solidariedade de outros setores da Academia para com Affleck que se viram incumbidos da necessidade de remediar a franca omissão do brunch de diretores da Academia (responsável por definir os indicados na respectiva categoria); e, em parte, pelo fato de que ciente de que prêmios como Globo de Ouro, Critic´s Choice Awards e os principais sindicatos de Hollywood estavam se alinhando a Argo, a Academia – enquanto colegiado coletivo – ensimesmou-se das reações adversas que se levantaria se continuasse a ignorar um filme tão celebrado. A combinação desses dois fatores resultou em um Oscar previsível quando se aguardava com alguma ansiedade pelo imprevisível. Condição esta também fomentada pela antecipação das indicações por parte da Academia. Efetivamente, à luz dos resultados da temporada, é possível dizer que essa medida não surtiu efeito. Será preciso repensá-la mais adiante.

Incorreto, inteligente e ligeiramente amoral, o anfitrião do ano, Seth MacFarlane, não agradou à maioria da imprensa americana, mas foi o principal responsável pela elevação de audiência do Oscar nos EUA; principalmente entre a faixa demográfica chave (18-49 anos) que subiu quase 20% em relação a 2012

Se Argo não é o melhor filme do ano, ou mesmo entre os nove finalistas, é uma escolha digna e que congrega a expressão do gosto médio dos acadêmicos nesse momento. É um filme fácil de se gostar, que exalta a esperteza americana e referencia Hollywood de maneira lisonjeira – ainda que não deixe a crítica de lado. No entanto, será julgado pela história à sombra de toda essa miscelânea que precedeu sua consagração. Ainda mais por ter sido apenas o quarto filme a ter ganhado o prêmio principal sem ter tido seu diretor indicado. Para ficar no único exemplo disponível nos últimos 60 anos, Conduzindo miss Daisy (1989), que levou o prêmio de melhor filme sem que Bruce Beresford tenha sido indicado a melhor diretor, é um dos vencedores mais discutíveis da história do Oscar.
Reminiscências à parte, o Oscar 2013 já se enunciava disputado. A ótima safra de estúdios e a ausência de um filme maiúsculo sugeriam uma edição equilibrada e foi o que se viu. Com quatro Oscars (direção, trilha sonora, fotografia e efeitos especiais), As aventuras de Pi foi o grande vencedor da noite. Seguido por Argo que faturou os prêmios de filme, roteiro adaptado e montagem. Ainda foram bem contemplados Os miseráveis (maquiagem, som e atriz coadjuvante), Django livre (roteiro original e ator coadjuvante) e Lincoln (ator e direção de arte). Este último, apesar dos dois prêmios, se subscreve como um dos maiores perdedores da história do Oscar. Converteu em vitória apenas duas de suas doze indicações. A bem da verdade, apesar da robustez narrativa e do rigor técnico, o filme de Spielberg não era o tipo de material que o Oscar costuma reconhecer. Seu favoritismo se alimentava mais do vazio de grandes filmes e da força da grife Spielberg.
Com ótimos, mas sem grandes filmes, a Academia resolveu segmentar seus prêmios. Contudo, poderia tê-lo feito de maneira mais calejada. Optou pelo melhor ator entre os que concorriam ao prêmio, mas não necessariamente pela melhor atuação. Não que se possa dizer que um prêmio à assombrosa performance de Daniel Day Lewis seja injusto. O Oscar se viu até mesmo em face de um improvável empate. O sexto de sua história. Foi na categoria de edição de som entre os filmes A hora mais escura e Operação skyfall. O empate é sintoma inegável do equilíbrio do ano verificado em muitas categorias. O choque entre os eleitores liberais e conservadores, jovens e velhos, americanos e estrangeiros, propiciou alguns novos paradigmas. Christoph Waltz, que venceu há três anos, voltou a prevalecer como ator coadjuvante – em sua segunda indicação – em uma categoria marcada pelo nível mais alto visto em anos. A vitória de Waltz talvez não acontecesse em outra época. Assim como a vitória de Tarantino, que sempre encontrou restrições entre os conservadores, mas eles já não são maioria. Ao que tudo indica, o texto mais fraco de Tarantino – e o mais fraco entre os roteiros originais – não foi impedimento para que ele recebesse, 18 anos depois de Pulp Fiction, um novo Oscar por roteiro. São mudanças graduais que vão se dando no pensamento da Academia. Passa por aí, também, a opção de redimir Argo (e Ben Affleck) mesmo depois de, em um primeiro momento, considerar o filme um competidor circunstancial.

Peace out: a vitória de Tarantino não deixa de ser um sinal dos tempos de mudança pelos quais a maior premiação do cinema atravessa

O Oscar 2013, e as ilações que se podem fazer dele, sugerem que a Academia experimenta algumas crises. A necessidade de reinvenção, ensaiada com mais propriedade neste ano com a inserção do voto digital e do host Seth MacFarlane, está à frente. Mas também a percepção que se tem do Oscar na própria temporada de premiações. Está-se diante de um prêmio de chancela ou de uma instituição com voz própria? Essa questão, no entanto, o Oscar 2013 anuviou.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Cenas de Cinema Especial (85ª edição do Oscar)


Passando recibo...

Confirmaram-se as expectativas mais controvertidas com a vitória de Argo, o filme mais celebrado da temporada. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood voltou atrás, por assim dizer, e sagrou Argo o filme do ano. O movimento patenteia de maneira jamais vista a influência do Globo de Ouro, sempre questionada e em 2013 levada às últimas consequências e em particular de uma premiação menos badalada que é o Critic´s Choice Awards. Era claro, no momento do anúncio dos indicados ao Oscar, que Argo não era para a Academia um “top contender”. Se “voltar atrás” é um sinal de humildade e, nesse contexto precisa ser louvado, é também um sinal de que enquanto instituição, o Oscar renunciou completamente a sua autonomia.

Argo fucked everyone: Com três prêmios, Argo será um daqueles filmes que a história proverá diferentes justificativas para seu sucesso no Oscar


Pero no mucho
A 85ª edição do Oscar tem tudo para entrar para a história como uma das mais esquisitas de todos os tempos. Não só pela pulverização um tanto injustificada entre alguns dos principais concorrentes, mas pela estrutura do show mesmo. Se não foi a oitava maravilha do mundo, Seth MacFarlane foi um anfitrião competente. Boas piadas, ótimo timing cômico e boa inserção com os números musicais – em alta no ano. Mas as homenagens pareciam descalibradas (a aguardada homenagem a James Bond foi frustrante), as gafes se enumeraram (o que foi a entrega do Oscar de canção e a descortesia com alguns concorrentes? E a insistência da homenagem a Chicago que foi produzido pelos produtores da edição do Oscar deste ano?) e o ritmo da produção severamente prejudicado. Não ajudou o fato do Oscar atentar contra a própria coerência.

Porém...
Alguns elogios precisam ser feitos. A Academia mostra reiteradamente que está se desligando de certos paradigmas inconvenientes como o de não premiar repetidamente atores já consagrados. Meryl Streep entregando o Oscar a Day Lewis é um feliz sintoma disso. A vitória de Christoph Waltz entre os coadjuvantes – ele havia vencido em 2010 por Bastardos inglórios – é ainda mais eloquente nesse sentido. O austríaco conquistou sua segunda vitória em sua segunda indicação e tudo isso em um espaço de quatro anos. E mais: concorria com quatro celebrados atores americanos, também oscarizados, mas que estavam há mais tempo sem vencer.


O fator Lee I

Ang Lee derrotou pela segunda vez Steven Spielberg em uma disputa direta entre os dois pelo Oscar de direção. Lee é, também, o primeiro cineasta asiático a ganhar o Oscar e o segundo também. O primeiro a ganhá-lo novamente. Mais importante: Ang Lee é o primeiro diretor a vencer o Oscar por um filme dirigido em 3D. Honra negada aos americanos James Cameron (Avatar) e Martin Scorsese (A invenção de Hugo Cabret).

O fator Lee II
Ang Lee, no entanto, entra para uma outra seletíssima lista. É o primeiro cineasta a ter dois Oscars de direção sem que um dos filmes pelos quais ganhou o Oscar tenha prevalecido na disputa de melhor filme. 

A culpa é do Day Lewis...
É sabido que Daniel Day Lewis rouba atenções para si, mas raciocínio rápido do desempenho dos últimos filmes estrelados por ele com múltiplas indicações no Oscar. Gangues de Nova Iorque há dez anos teve dez indicações, e Day Lewis era favorito ao prêmio de melhor ator, e não levou nada. Há cinco anos, Sangue negro divida as atenções e oito indicações com Onde os fracos não têm vez dos irmãos Coen. O filme só faturou os troféus de fotografia e ator para Day Lewis. Lincoln, este ano, tinha 12 indicações e novamente apenas dois prêmios: direção de arte e ator para Day Lewis.

Empate
Foi apenas a sexta vez na história que houve empate no Oscar. O inusitado se deu na categoria de edição de som com as vitórias de A hora mais escura e Operação Skyfall. Ou seja, em 2013, foram 25 vencedores em 24 categorias do Oscar...

Affleck para senador?

Ben Affleck o grande vitorioso da noite está com seu discurso cada vez mais lapidado. Soube enobrecer Spielberg tão logo aproximou-se do microfone para agradecer pelo prêmio de melhor filme dado a Argo e soube voltar-se com afetuosidade e brandura à esposa Jennifer Garner. Humilde, Affleck 15 anos depois da efusiva vitória pelo roteiro original de Gênio indomável volta a vencer um Oscar e, talvez, se prepara para uma nova empreitada. Seu nome é bastante comentado em corredores democratas para uma cadeira no Senado americano. Endosso hollywoodiano é o que não vai faltar!

 4,3,2,1...
Foi um grande Pi! A Academia pulverizou seus prêmios e, como não ocorria desde 2005, o melhor filme do ano não liderou o número de Oscars. Naquele ano, O aviador ganhou cinco Oscars e Menina de Ouro, o melhor filme, quatro. No ano seguinte, um empate quádruplo: Kink Kong, Memórias de uma gueixa, O segredo de Brokeback Mountain e Crash - no limite empataram com três prêmios cada. Sendo o último o vencedor de melhor filme. Este ano, As aventuras de Pi faturou quatro estatuetas (direção, fotografia, trilha sonora e efeitos especiais) e na segunda posição vieram Argo (filme, roteiro adaptado e montagem) e Os miseráveis (atriz coadjuvante, maquiagem e mixagem de som). Ainda teve Oscar para Django livre (ator coadjuvante e roteiro original), Lincoln (ator e direção de arte), Operação skyfall (canção original e edição de som), Anna Karenina (figurino), Amor (filme estrangeiro), O lado bom da vida (atriz), A hora mais escura (edição de som) e Valente (animação).

A Áustria contra-ataca
Não foi como o esplendor francês do ano anterior, mas foi uma vitória expressiva. Além do triunfo entre os filmes estrangeiros com Amor, o candidato submetido pelo país, a Áustria ainda viu Christoph Waltz triunfar pela segunda vez em quatro anos no Oscar.

Peace out!
Quentin Tarantino quase 20 anos depois de sua primeira vitória no Oscar, voltou a empunhar a estatueta. Dessa vez pelo roteiro de Django livre, que acabou tendo um dos melhores desempenhos da noite com dois prêmios em cinco possíveis. Tarantino se mostrou respeitoso com a Academia e com seus concorrentes na categoria no que chamou de “o ano dos escritores”. O Tarantino paz e amor foi uma das boas surpresas da noite – ainda todos os candidatos na categoria fossem melhores.

A estrela da noite
Não foi a oscarizada Jennifer Lawrence ou a bela e histórica Emmanuelle Riva, mas sim a barba. Nada polarizou mais as atenções no Dolby Theatre do que a barba. Ou as barbas. George Clooney, Paul Rudd, Ben Affleck, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman foram alguns dos que adotaram o visual barbado. Em diferentes traçados, é claro. A barba esteve tão poderosa que as duas performances masculinas premiadas se deram por personagens barbudos no filme e os três produtores de Argo foram receber o prêmio devidamente barbados... 

"Três barbudos sexies" nas palavras bem humoradas de Grant Heslov (à esquerda), seguramente o mais sexy dos barbudos...

And the Oscar goes to…
Os temidos discursos de Anne Hathaway e Jennifer Lawrence que andaram exagerando no tom dos agradecimentos em algumas premiações prévias não comprometeram. Anne foi elegante e grata. Jennifer foi afetuosa e bem humorada – principalmente depois da queda que sofreu enquanto se caminhava para o palco. Contudo, mais uma vez, Daniel Day Lewis mostra que também é o craque definitivo em matéria de discursos. Começou louvando Meryl Streep – que lhe entregara o Oscar: “Meryl era a primeira opção de Steven para viver Lincoln” e na mesma frase ainda saiu-se com essa “ainda bem que não se tratava de um musical”. Uma referência de duplo sentido tanto a Nine – seu trabalho menos elogiado em anos quanto ao principal elemento das homenagens da noite. O sagaz Day Lewis, no entanto, não se furtou a emoção pela história que estava fazendo e agradeceu, comovido, o gesto da Academia para com ele.

Algumas frases:

“É legal que nós não estejamos só fazendo filmes para adolescentes. Até porque eu já não sou mais adolescente”, Quentin Tarantino no backstage do Oscar

“Talvez na terceira vez a gente consiga, mas eu estou muito feliz de vencer”, de Ang Lee no backstage após vencer o Oscar de direção por As aventuras de Pi

“Me desculpem, eu tomei umazinha antes de vir aqui”, Jennifer Lawrence aos jornalistas no backstage ante de falar sobre sua vitória no Oscar

“Argo conta uma história secreta sobre o resgate de um grupo de americanos no Irã pós-revolucionário. A história foi tão secreta que o diretor do filme permanece desconhecido pela Academia”, Seth MacFarlane em uma de suas piadas como anfitrião do Oscar

“Se você não encontra suas palavras em situações como essa, eu acho que seria um pouco triste”, Daniel Day Lewis ao responder questionamentos sobre se recebia assistência em seus sempre maravilhosos discursos

"Django livre. Esta é uma história de um homem lutando para recuperar sua mulher, que é mantida sob uma violência impensável - ou como Chris Brown e Rihanna chamam, ‘encontro no cinema...’”, Seth MacFarlane em uma de suas piadas como anfitrião do Oscar

“Ele é engraçado”, Tommy Lee Jones quando perguntado sobre Seth MacFarlane

“Eu não sei, talvez que faça um documentário na HBO como fez a Beyoncé”, Adele sobre seus planos pós- Oscar


Passando a régua...
Tommy Lee Jones riu, Jack Nicholson estava lá, Jessica Chastain foi a mais linda da noite, Steven Spielberg perdeu de novo, Ben Affleck riu por último (e também lacrimejou), Quvenzhané Wallis curtiu de montão, Samuel L. Jackson bancou o fotógrafo, Anne Hathaway se emocionou, Meryl Streep compareceu, Jean Dujardin melhorou no inglês e George Clooney esbanjou charme. Que venha o Oscar 2014!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - Crítica dos indicados a 85ª edição do Oscar


Neste domingo, 24 de fevereiro, irá acontecer uma das mais imprevisíveis edições do Oscar em anos recentes. O que é muito bom. A despeito das surpresas e esnobadas de sempre, a lista que compõe os indicados na 85ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é das mais coerentes dos últimos anos. O que não quer dizer que seja a que apresenta mais qualidade. De maneira geral, os filmes desse Oscar 2013 são bons, mas não há nada de excepcional. Não há um A rede social ou Cisne negro como em 2011, ou Shame, Precisamos falar sobre o Kevin, Os homens que não amavam as mulheres, A separação e O artista, filme que gravitaram o Oscar do ano passado. A média, no entanto, é bem satisfatória em uma produção destacada por sua inteligência, modernidade e universalidade.
Lincoln, que lidera a corrida com 12 indicações, é um paradoxo. É um filme talhado para o Oscar pelos artistas que reúne e pelo tema nobre que aborda, mas não é um material do qual o Oscar se aproxima na maneira como é desenvolvido. Argo, por sua vez, que desde que foi lançado era apontado como um “Oscar contender” é muito pop para um prêmio que tem se ressentido de sua veia pop nos últimos anos. De qualquer maneira, a essa altura do campeonato, a disputa parece restrita a eles dois. Com alguma chance de O lado bom da vida, o melhor dos nove indicados a melhor filme, se beneficiar da rebarba de uma disputa em que a coerência da academia está posta a prova. Se premiar Argo, tendo deixado seu diretor (Ben Affleck) de fora da lista dos nomeados, o Oscar atentará contra o próprio bom senso e homogeneidade institucional - além de admitir ser influenciado por premiações como Globo de Ouro e Critic´s Choice Awards de maneira jamais ensaiada. Se for com Lincoln, jamais se desvencilhará da sombra de que o prêmio talvez tenha sido outorgado para cobrir os próprios rastros. Uma opção para fugir à polêmica talvez seja a vitória do filme de David O. Russell e, nesse caso, se premiará o melhor pelas razões erradas. Algo que, ironicamente, o filme Lincoln esmiúça na melhor linha de “os fins justificam os meios”.

O enigma de Argo: o filme de Ben Affleck representa um desafio institucional para a Academia...

Entre os diretores o imbróglio é semelhante. Ang Lee, por As aventuras de Pi, e Steven Spielberg, por Lincoln, estão na dianteira da disputa por terem constado da lista do sindicato dos diretores. Mas em um ano tão atípico, e pelo fato de nenhum deles ter ganhado prêmios de expressão (todos foram para Ben Affleck), não podem ser apontados como favoritos genuínos. Se favorecem pelo fato de serem também vencedores do Oscar. Se a Academia optar por O lado bom da vida, é provável que o cada vez melhor David O. Russell fature como diretor. Se Argo for a opção, ou mesmo Lincoln, o peso do nome Steven Spielberg deve prevalecer.
Entre os roteiros, principalmente na categoria de roteiro adaptado, a briga está diretamente vinculada à disputa principal. Para Argo vencer como melhor filme é essencial que triunfe aqui, o que não é necessariamente o caso de O lado bom da vida e Lincoln. De qualquer maneira o melhor roteiro é o de Lincoln, o grande trunfo do filme de Spielberg. Assim como a melhor direção é de Ang Lee, verdades que não aumentam as chances de vitórias destes nessas categorias. O mais provável é que Argo vença entre os roteiros adaptados.
Michael Haneke deve prevalecer entre os roteiros originais pelo belo texto de Amor. Há precedente na categoria. O grande Pedro Almodóvar já ganhou por Fale com ela em 2003. Uma opção pode ser o ótimo trabalho de Mark Boal em A hora mais escura. Quentin Tarantino por Django livre, apesar das vitórias no Globo de ouro e no Bafta, é zebra aqui.

Atuações
Como de hábito, a disputa por melhor ator traz cinco trabalhos fascinantes. Há três grandes atores na disputa, dois já duplamente oscarizados. Recaí sobre um deles, um imortal da atuação, o favoritismo. Mas Daniel Day Lewis, que inglês pode ser o primeiro a faturar um Oscar por viver um presidente americano – e logo o maior de todos, Abraham Lincoln – não tem o melhor trabalho do ano. Ainda que seja um belo trabalho. Joaquin Phoenix, por O mestre, é de longe o melhor ator do ano e entre os indicados. Ele, francamente, é o único com chances de vencer Day Lewis. Ainda que o terceiro Oscar do britânico seja uma das apostas seguras da edição. Hugh Jackman (Os miseráveis), Bradley Cooper (O lado bom da vida) e Denzel Washington (O voo), todos defendendo os grandes papéis de suas carreiras, não têm chances.
Entre as atrizes a disputa é mais intensa. Via de regra, apenas Naomi Watts (O impossível) não tem chance alguma. A favorita, com méritos, é Jennifer Lawrence (O lado bom da vida), a vitória, no entanto, deve ser de Emmanuelle Riva (Amor). Além do burburinho em torno de sua candidatura no melhor dos momentos (quando os votos estavam sendo preenchidos e enviados para a Academia), seria uma opção hypada (estabelecer um novo recorde no Oscar, global – sempre um bálsamo em termos de mídia – e digna) a um eventual Oscar precoce – como cravam alguns – à bela Lawrence.

Day Lewis em Lincoln e Phoenix em O mestre: o melhor ator enfrenta o ator com a melhor atuação. O que vale mais para o Oscar?

Entre as coadjuvantes femininas, a maior certeza da edição: Anne Hathaway por Os miseráveis ganhará seu primeiro Oscar. A melhor é Helen Hunt, mas ela já ganhou e Hathaway é jovem, pop, boa e incrivelmente midiática. São fatores que nas circunstâncias em que essa disputa se encontra, desestabilizam-a.
Já o páreo entre os coadjuvantes masculinos é mais difícil. Todos já vencedores do Oscar e, de alguma maneira, com chances de repeteco. Os prêmios satélites do Oscar se dividiram e Tommy Lee Jones, vencedor do prêmio do sindicato dos atores, chega com um favoritismo inventado. Na verdade, um prêmio a Jones está diretamente vinculado à força de Lincoln no Oscar. O mesmo seria para Alan Arkin (Argo). Mais provável é que a academia opte por Philip Seymour Hoffman (O mestre), ator que pressiona a Academia na parede por um novo Oscar com atuações cada vez mais espetaculares, ou Robert De Niro que em O lado bom da vida lembra o ator que desafiou Nelson Rodrigues a reclamar para si o manto da unanimidade. Ainda que especulado, um segundo Oscar para a Christoph Waltz por Django livre seria uma surpresa e, francamente, tido o nível da categoria, uma injustiça.

O melhor do resto
Amor deve faturar o Oscar de filme estrangeiro, mas o chileno No é uma ameaça tangível, ainda que distante. As aventuras de Pi pode ser o campeão de prêmios do ano com eventuais triunfos nas categorias técnicas como efeitos visuais, trilha sonora – que também pode ir para Argo – fotografia – que também pode ir para Operação Skyfall – e direção de arte.
O prêmio de montagem é outro curinga da noite. A melhor edição é mesmo de Argo, mas o discreto e eficiente trabalho em O lado bom da vida ou os bem costurados A hora mais escura ou As aventuras de Pi podem prevalecer. Fato é que se Lincoln faturar nesta categoria, saiba que ganhará o Oscar de melhor filme mais adiante na noite.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - A peleja dos filmes

1- As aventuras de Pi; 2- Amor; 3- Indomável sonhadora; 4- Argo; 5- Django livre; 6 - O lado bom da vida; 7 - Os miseráveis; 8 - Lincoln; 9 - A hora mais escura



Quando perder é ganhar

Argo é sobre Hollywood e sobre como as aparências são cruciais em jogo de manipulação e dissimulação que aproximam CIA e Hollywood. A melhor pior ideia que Hollywood teve, por sinal, foi deixar Ben Affleck de fora da lista dos diretores indicados. A solidariedade com o filme o impulsionou a um favoritismo na corrida que parecia impensável há alguns meses. Ótimo storytelling, Argo é um filme fácil de se gostar ainda que não seja especialmente notável. Sua vitória seria um legítimo “argo fuck yourself” para alguns cânones hollywoodianos.

Prós:
- Ganhou absolutamente todos os prêmios majors da temporada
- É a maior unanimidade em uma temporada de premiações desde Quem quer ser um milionário? em 2009
- Ganhou os prêmios de direção e filme no Critic´s Choice Awards, no Globo de Ouro e no Bafta, uma demonstração de que sua candidatura a melhor filme está bem consolidada
- Ganhou os prêmios dos sindicatos dos atores, diretores e produtores. Nos últimos dez anos, apenas três filmes (O discurso do rei, Quem Quer ser um milionário? e Chicago) contaram com o apoio dos três sindicatos e eles ganharam o Oscar de melhor filme.
- A percepção de que há muito voto solidário em favor de Argo pelo fato da Academia ter esnobado Ben Affleck entre os diretores. Vale lembrar que apenas o brunch de diretores da Academia elege os indicados a melhor diretor, mas todos os membros da academia escolhem os vencedores. Tanto na categoria de filme, como na de diretor.
- Ser um filme basicamente sobre Hollywood. Isso tem contado pontos nos últimos anos.
- Ter uma veia patriótica, ainda que moderada
- O vencedor do ano passado, O artista, também era sobre Hollywood

Contras:
- O vencedor do ano passado, O artista, também era sobre Hollywood
- Apenas três vezes na história do Oscar um filme venceu como melhor filme sem ter o diretor indicado e apenas uma vez nos últimos 60 anos
- O fato de ter relativamente poucas indicações em que pode ser considerado favorito depõe contra suas chances
- Muitos acadêmicos podem optar por um filme que tenha o diretor indicado por questões de coerência


Bom, mas nem tanto

Os miseráveis até conseguiu uma presença robusta no Oscar com suas oito indicações. Mas se tem um filme que parece fadado a não conquistar nenhuma das estatuetas a qual concorre é o musical de Tom Hooper. Prova disso é que é o único dos concorrentes a melhor filme que não tem uma indicação por roteiro. O desalento só não é maior porque Anne Hathaway é favorita na categoria de atriz coadjuvante e deve lavar a alma do musical de Tom Hooper. De qualquer jeito, a coragem do cineasta de fazer um musical do clássico de fundo social de Victor Hugo recebeu valiosa distinção da academia.

Prós:
- Prevaleceu nas categorias técnicas em premiações como o Bafta e o Critic´s Choice Awards
- É um sucesso de bilheteria até certo ponto improvável para um musical
- Ganhou o Globo de ouro de melhor comédia/musical
- Tem sua força em suas interpretações e isso pode cativar o maior colegiado da academia que é o dos atores
- Deve agradar o voto mais conservador
- É uma história essencialmente francesa e os franceses estão em voga no Oscar nos últimos anos

Contras:
- Não ter sido indicado em montagem, direção e roteiro praticamente liquida qualquer chance de vitória
- O fato de Tom Hooper ter ganhado em grande escala no Oscar recentemente com O discurso do rei
- É um musical até certo ponto vanguardista e as liberdades tomadas por Hooper podem incomodar o voto mais conservador


Blockbuster de coração

As aventuras de Pi é o filme mais família dos indicados. É também o de narrativa mais complexa já que boa parte do tempo se passa em um bote salva vidas em que um adolescente tem um tigre digital como companhia. Ang Lee realiza um filme com forte conotação espiritual sem ser presunçoso. É um filme digno das 11 indicações que recebeu. Pode ser uma opção mais convencional a filmes sisudos ou modernos demais para o Oscar.

Prós:
- É um épico de alma intimista. Hollywood costuma apreciar filmes assim
- Foi indicado a todos os prêmios major da temporada
- Tem uma das maiores bilheterias internacionais entre os indicados a melhor filme. Como o Oscar hoje é um prêmio global...
- Está presente em praticamente todas as categorias técnicas

Contras:
- Não tem nenhuma performance indicada. É o único dos indicados a melhor filme nessas circuntâncias
- A percepção de que merece mais prêmios por sua destreza técnica
- A pecha de que a indicação já é reconhecimento suficiente
- Ter sido rodado em 3D e a tecnologia ainda não conquistou muitos acadêmicos


Um clássico menor

Django livre é uma desforra à tarantina. O western sobre um escravo vingador de Quentin Tarantino não é o filme que se esperava dele depois de Bastardos inglórios, mas ainda é entretenimento em alto nível. Django livre consolida Tarantino como uma das figuras do Oscar, mas é seu filme com menos chances de vitória nesta categoria.

Prós:
- Diverte como poucos dos incluídos entre os indicados e isso há de contar para alguma coisa
- O espírito de reescrever a história que Tarantino tem apresentado pode cativar muitos eleitores
- Tem ótimas atuações e bons diálogos
- Quentin Tarantino é um sujeito com muitos fãs

Contras:
- Ser muito inferior a Bastardos inglórios que é relativamente recente pode afugentar votos
- Quentin Tarantino é um sujeito ao qual muitos têm restrições
- O fato de Tarantino não ter sido indicado a melhor diretor
- Não é tão inventivo quanto seus principais filmes


Realismo fantástico

A Academia parece cada vez mais propensa, mais do que selecionar um pequeno indie, a selecionar um de narrativa imaginativa. Foi assim com A árvore da vida no ano passado e com Distrito 9 em 2010. Indomável sonhadora embarca no realismo fantástico e ganha o apoio do Oscar. É o tipo de filme que ainda não tem chances de ganhar, mas que pavimenta o caminho para que outros que venham depois possam sonhar mais alto.

Prós:
- É o time pequeno do ano e tem muita gente, dentro da academia inclusive, que gosta de torcer para time pequeno
- Pode se beneficiar do hype da indicação para Quvenzhané Wallis de apenas 9 anos

Contras:
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- A existência de outro independente muito mais baladado: O lado bom da vida
- Não ter tido uma campanha de marketing forte na corrida pelo prêmio


O melhor?

O lado bom da vida é um filme excelente em todos os predicados que caracterizam o bom cinema (direção, roteiro, atuação, montagem, etc), mas é também uma comédia romântica – ainda que bifurcada com um drama sobre transtornos psicológicos. Há quem entenda que não é “material de Oscar”, mesmo sendo o melhor entre os filmes indicados. Para vencer precisa superar esse paradigma.

Prós:
- O filme caiu nas graças do colegiado dos atores e em uma disputa parelha isso pode ser uma vantagem
- É independente e os independentes têm prevalecido no Oscar nos últimos cinco anos
- É o mais leve e otimista dos indicados a melhor filme
- Os últimos filmes com indicações para melhor ator e atriz, direção e roteiro e filme, o chamado big five, venceram o Oscar de melhor filme: Menina de ouro e Beleza americana entre eles
- Ser promovido por ninguém menos que Harvey Weinstein também conhecido como papa Oscars

Contras:
- É para todos os efeitos uma comédia e comédias não costumam ganhar o Oscar de melhor filme
- Não ganhou nenhum prêmio major na temporada
- A percepção de que é um “filme de atores”
- Weinstein levou a melhor nas duas últimas disputas por melhor filme. Três consecutivas pode ser demais até para ele

O maior herói americano

Não é super-homem, mas um “self made man”, como gostam de classificar os americanos. Abraham Lincoln também é um “self made politician” e Lincoln, o filme de Spielberg que lidera a corrida pelo Oscar, é mais sobre essa faceta do único presidente capaz de unir democratas e republicanos em vias de consenso. Nem sempre foi assim e o ótimo filme de Spielberg se ocupa dessa história. O Oscar seria apenas mais um estandarte na gloriosa história do político mais influente da América.

Prós:
- É o filme líder de indicações no ano
- Apresenta um personagem com uma base consolidada de fãs e admiradores dentro e fora da Academia
- É dirigido por uma figura muito querida que é Steven Spielberg e tem como protagonista outra figura querida e admirada que é Daniel Day Lewis
- Não é uma biografia quadrada
- Esteve presente em todas premiações majors da temporada e na liderança da corrida em todas elas
- Depois de filmes estrangeiros brilharem nos últimos dois anos, é uma produção essencialmente americana sobre a grandeza americana
- É um filme de rara inteligência tanto na filmografia de Spielberg quanto na média das produções premiadas com o Oscar de melhor filme
- É o maior sucesso de bilheteria nos EUA entre os indicados a melhor filme
- A badalação em torno da atuação de Day Lewis pode computar votos para o filme
- Muitos propensos a votar a favor de um terceiro Oscar para Spielberg podem se decidir pelo filme, mesmo que não o enxerguem como o melhor do ano

Contras:
- Não ganhou nenhum prêmio major na temporada
- É considerado anticlimático demais para os padrões de Spielberg e pode afugentar votos habituais do diretor
- É mais um filme sobre política do que sobre Lincoln propriamente dito e filmes políticos não costumam prevalecer no Oscar
- Apesar das muitas indicações em diversos prêmios, Lincoln não converteu as indicações em vitórias e adquiriu a pecha de “filme derrotado”
- Não é o melhor filme do ano e, para alguns, nem mesmo o melhor sobre escravidão no ano 


Honesto e sem concessões

A indiferença da vida especialmente a essa fabricação humana que é o amor é um dos eixos centrais desse doloroso e pouco passional filme de Michael Haneke que foi surpreendentemente abraçado com ímpeto pela Academia. Mais uma investigação da fragilidade da vida e de suas reminiscências do que um tratado sobre o mais nobre dos sentimentos, Amor é um filme agigantado por sua humanidade. Faz bem ao Oscar tê-lo em seu pool de nomeados.

Prós:
- É um filme calcado no desempenho dos atores, algo sempre reverberante junto ao maior colegiado que compõe a Academia
- É um filme extremamente humano e atemporal
- É falado em francês e a França anda em alta em Hollywood
- É simples no seu desenvolvimento e complexo em sua contextualização. Menina de ouro, com estrutura semelhante, já triunfou no Oscar em situação parecida
-É um filme estrangeiro e de um diretor cult. Há muito apelo nessa convergência de características; especialmente em um ano sem grandes filmes

Contras:
- Tem ritmo demasiado lento em comparação com a média de filmes vencedores do Oscar e dos filmes contra os quais concorre neste ano
- A percepção de que é um “filme de atores”
- A resistência ainda bastante forte de se premiar uma produção estrangeira
-Filmes com temática semelhante já receberam bastante atenção do Oscar nos últimos anos como Menina de ouro, Longe dela e Mar adentro
-A percepção de que basta a vitória na categoria de filme estrangeiro para honrar o trabalho de Haneke


Mais escuro do que claro

Certamente o mais fraco dos indicados a melhor filme, A hora mais escura é também o que reunia mais expectativas. Ainda que uma condição não esteja relacionada à outra, o filme sobre a caçada a Osama Bin Laden se revela oportunista e perigosamente impreciso em suas formulações episódicas e estruturais. A polêmica pode ter diminuído o tamanho do filme no Oscar, mas o hype de ser o primeiro filme a abordar um dos maiores feitos americanos na guerra contra o terror lhe garantirá um lugar distinto na história.

Prós:
- É um registro no estilo documental que tanto agradou os votantes que deram a vitória à Guerra ao terror há três anos
- É um elaborado misto de thriller de espionagem com filme político. Em um eventual revival dos anos 70, é um candidato imbatível no Oscar
- Foi o filme mais premiado pela crítica na temporada
- Estabelece um novo paradigma no cinema comercial americano: o filme-reportagem

Contras:
- É nitidamente oportunista ao flertar com ideias republicanos e democratas as vezes em uma mesma cena
- É um filme demasiadamente anticlimático para um vencedor do Oscar
- Há pouco espaço para os atores brilharem e isso pode ressentir o voto desse colegiado
- Reza a mesma missa de Guerra ao terror
- As polêmicas barulhentas acerca do terrorismo e da tortura podem fazer acadêmicos que apreciem o filme pensarem duas vezes antes de votar nele
- O fato de Kathryn Bigelow não ter sido indicada na categoria de direção  

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Oscar Watch 2013 - A peleja dos diretores

Da esquerda para a direita: David O. Russell (O lado bom da vida); Steven Spielberg (Lincoln); Benh Zeitlin (Indomável sonhadora); Michael Haneke (Amor); Ang Lee (As aventuras de Pi)



(Des)spielbergizado

Há cineastas que são grifes e há Steven Spielberg. Um filme com sua chancela ou dirigido por ele pode ser reconhecido à milhas de distância. Lincoln, no entanto, exige um olhar mais atento. Muitas das idiossincrasias do cinema spielberguiano não estão em seu filme mais adulto. Ele pode ganhar o Oscar por sua contenção e comedimento em ser o Spielberg que todos conhecemos. Não deixa de ser inusitado.

Prós:
- É o diretor mais Hollywoodiano entre os indicados
- Em um ano sem um favorito declarado na categoria, o peso de seu nome pode prevalecer
- É certo que merece ser elevado à grandeza dos diretores vencedores de três Oscars
- Defende um trabalho pouco intervencionista, mas como um escultor de bom texto e atuações. A academia costuma premiar esse perfil de direção

Contras:
- Já tem um Oscar e o último diretor a ganhar o Oscar já tendo sido vitorioso previamente foi Clint Eastwood em 2005
- É certo que merece ser elevado à grandeza dos diretores vencedores de três Oscars, mas muitos podem pensar que este ainda não é o momento
- Muitos votantes podem entender que os grandes méritos de Lincoln são o texto de Tony Kushner e a atuação de Daniel Day Lewis
- Está longe de ser o melhor trabalho de direção de Spielberg dentre os que ele foi nomeado ao Oscar
- O fato de seu filme ter perdido força na temporada de premiações

Décima quinta indicação
Indicações anteriores
Diretor por Contatos imediatos do terceiro grau (1978)
Diretor por Os caçadores da arca perdida (1982)
Diretor por E.T – o extraterrestre (1983)
Produtor por E.T – o extraterrestre (1983)
Produtor por A cor púrpura (1986)
Diretor por A lista de Schindler (1994)
Produtor por A lista de Schindler (1994)
Diretor por O resgate do soldado Ryan (1999)
Produtor por O resgate do Soldado Ryan (1999)
Diretor por Munique (2006)
Produtor por Munique (2006)
Produtor por Cartas de Iwo jima (2007)
Produtor por Cavalo de guerra (2012)
Produtor por Lincoln (2013)

Vitórias anteriores:
Diretor por A lista de Schindler (1994)
Produtor por A lista de Schindler (1994)
Diretor por O resgate do soldado Ryan (1999)

Entre o espetacular e o sensível

Ang Lee é daqueles cineastas que a cada novo trabalho nos surpreende de maneira efusiva. Capaz de destrinchar narrativas épicas ou intimistas faz maravilhas com o material tido como infilmável do livro de Yann Martel. Seu trabalho em As aventuras de Pi, exuberante visualmente e profundo em termos de discurso, é dos mais encantadores do ano.

Prós:
- É o melhor uso do 3D no ano
- Lee alia exuberância técnica a esmero narrativo no desenvolvimento do plot, uma qualidade que não pode ser desprezada
- Assim como Spielberg é o único dos indicados ao Oscar que foi nomeado para o prêmio do sindicato dos diretores
- Esteve em todas as listas de melhores diretores do ano
-Seu filme tem forte apelo emocional
- É um diretor que reúne muitos admiradores
- Fora Affleck e Bigelow, que não estão indicados, é o único que ganhou prêmios da crítica na temporada

Contras:
- Já tem um Oscar e conquistado em sua última indicação
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- A impressão de que seu filme mereça mais distinção por seu apuro técnico do que por suas qualidades narrativas pode lhe roubar votos importantes nesta categoria
- Até hoje nenhum diretor ganhou o Oscar por um filme rodado em 3D

Quinta indicação
Indicações anteriores
Produtor por O tigre e o dragão (2001)
Diretor por O tigre e o dragão (2001)
Direção por O segredo de Brokeback mountain (2006)
Produtor por As aventuras de Pi (2013)

Vitória anterior
Diretor por O segredo de Brokeback mountain (2006)

Crescendo e aparecendo

Desde que despontou na cena independente do cinema americano dos anos 90, David O. Russell chamou atenção. Diretor de técnica invejável, com um bom olhar para personagens disfuncionais e com talento para escrever roteiros também, Russell esbarrava em seu gênio difícil. São célebres seus desentendimentos com figuras da estampa de George Clooney. De uns tempos para cá, no entanto, Russell parece ter posto a casa em ordem. Seu cinema nunca esteve em melhor forma. Alcança sua segunda indicação ao Oscar, e por trabalho consecutivo, pela direção minimalista, mas crucial, em O lado bom da vida – um filme moderno e inteligente como poucos deste novo século.

Prós:
- É notável diretor de atores e isso pode lhe valer votos do brunch dos atores, o maior da Academia
- Está em alta junto ao acadêmicos que preferiram nomeá-lo ao indicar uma segunda vez o vencedor do Oscar no ano em que concorreu, o inglês Tom Hooper que estava no páreo com Os miseráveis
- Dirige o filme que conseguiu emplacar nomeações no chamado big five (filme, direção, roteiro, ator e atriz). O último a conquistar isso foi Menina de ouro em 2005 e Clint Eastwood venceu como diretor naquele ano
- Dirige um filme independente e nos últimos seis anos o diretor vencedor do Oscar dirigia um filme independente. Lee e Spielberg dirigem produções de estúdio
- Apareceu em algumas listas de melhores do ano como no Critic´s Choice Awards
- A história de que dirigiu o filme como uma forma de se comunicar com seu filho, também bipolar, pode conquistar alguns votos decisivos

Contras:
- Não ganhou nenhum prêmio na temporada
- Não estava na lista do sindicato dos diretores
- Diretores de comédias não costumam prevalecer nesta categoria

Segunda indicação:
Indicação anterior:
Diretor por O vencedor (2011)

Gênio do cinema

É muito justo que Michael Haneke, em 2013, seja o cara do Oscar. Há muito tempo ele já se inscreveu como um dos mais importantes e significativos cineastas de nosso tempo. Com Amor, ele concorre em quatro categorias no Oscar (direção, roteiro original, produção estrangeira e produção do ano). Não é pouca coisa. Pelo menos um Oscar ele leva para casa.

Prós:
- É uma direção calculista e inteligente na manipulação dos sentimentos e do espaço físico
- O irresistível apelo de reconhecer um diretor cult com um prêmio da indústria do cinema
- O fato de dirigir um filme duro, triste, mas de apelo universal pode lhe valer votos indecisos

Contras:
- Diferentemente de Lee, é um estrangeiro que dirige um filme falando em língua estrangeira
- O fato de diretores estrangeiros terem vencido nos últimos dois anos
-A pecha de que a indicação já é suficiente

Primeira indicação

A adorável surpresa

Ninguém, absolutamente ninguém esperava por Benh Zeitlin entre os indicados a melhor diretor no Oscar. Nem o próprio Zeitlin. Mas se ponderações forem feitas sobre os concorrentes do ano e sobre o trabalho de Zeitlin em Indomável sonhadora, ficará bem óbvio que a nomeação deste americano de apenas 30 anos é mais do que justa.

Prós:
- Já foi elemento surpresa uma vez e pode ser novamente
- Seu filme tem encantado plateias e sua contribuição para isso é perceptível
- É um filme em que se percebe a mão do diretor até mesmo no trabalho dos atores (semiamadores)
- Pode se beneficiar de alguns votos de protesto de acadêmicos insatisfeitos com a configuração final da categoria no Oscar

Contras:
- Trata-se de um filme de estreia e um filme independente de estreia. Será que Hollywood se renderia incondicionalmente assim?
- A pecha de que a indicação já é suficiente
- Ser muito jovem também pode pesar contra suas chances de vitória

Primeira indicação