Páginas de Claquete

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Momento Claquete # 31

Cameron Diaz, aos 40 anos, mostra que tem muito peito no editorial assinado por Terry Richardson para a edição de outubro da Esquire americana 


 O nome é Bardem: Javier Bardem, moreno, foi capa da GQ italiana de setembro...


Química a gente faz em casa: Jon Hamm e Kristen Wiig, que já fizeram um casal por duas vezes nas telas, mostram sintonia quando as câmeras estão desligadas

Eles já foram namorados na vida real e marido e mulher na ficção. Claquete, no entanto, recupera um olhar indiscreto ocorrido antes disso tudo. Tobey Maguire não resiste e "segue" Natalie Portman pela escadaria de um estádio de baseball. A foto é de 2007


A barriguinha está lá, mas o charme também. Sean Penn joga um xaveco na cantora Florence Welch em evento realizado no sábado (27) em Los Angeles 


S.O.S raridade: essa é um presente de Claquete para cinéfilo nenhum botar defeito. Em foto de 1978, Woody Allen e Nora Ephron, falecida este ano, tricotam sobre alguma coisa a qual só podemos especular... 



O homem que é uma caricatura: Tim Burton, o homem, a caricatura...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

50 anos de James Bond em Claquete - Arquivos 007



Os melhores vilões

Xenia Onatopp (Famke Janssen)
Ex-assassina da KGB ela não se faz de rogada em sair na mão com 007 e mata suas vítimas esmagando-as com as coxas.

Jaws (Richard Kiel)
Gigantesco e com dentes de aço, ele conseguiu aparecer em dois filmes de James Bond.

Le chiffre (Mads Mikkelsen)
Banqueiro de terroristas que chora sangue, é o responsável pelo confronto mais mental já enfrentado por Bond; e logo em sua primeira missão.


Goldfinger (Gert Fröbe)
Um vilão essencialmente capitalista, Goldfinger quer explodir Fort Knox para desvalorizar o ouro dos EUA e aumentar o valor de sua fortuna.

Dr. No (Joseph Wiseman)
O mérito de ser o primeiro vilão, justamente quem estipulou a base megalomaníaca do antagonista de 007.

Os melhores gadgets

O Aston Martin invisível de 007- um novo dia para morrer (2002)
O telefone celular que funciona como leitura de digitais e ainda controla o carro de 007- o amanhã nunca morre (1997)
O relógio que apresenta funções de laser, serra e imã em 007-viva e deixe morrer (1973)
A pasta que abriga munição e uma faca e ainda dispara um gás letal se aberta de maneira convencional em Moscou contra 007 (1963)
Óculos com visão de raio-x em 007 – o mundo não é o bastante (1999)


As maiores bilheterias *

1 – 007 – Casino Royale (2006) = U$ 640 milhões
2 – 007 – Quantum of Solace (2008) = U$ 575 milhões
3 – 007 – Um novo dia para morrer (2002) = U$ 431 milhões
4 – 007 – O mundo não é o bastante (1999) = U$ 375 milhões
5 -007 contra goldeneye (1995) = U$ 351,5 milhões

*em números absolutos, desconsiderada a inflação




domingo, 28 de outubro de 2012

Insight

O lado B dos filmes teen

Duas produções que estrearam nos cinemas brasileiros neste mês de outubro colocam em evidência a opção por um cinema de verve mais artística no tocante a ambientação da fase adolescente. Moonrise Kingdom e As vantagens de ser invisível, no entanto, se diferem da obra de Gus Van Sant sobre o tópico por terem a capacidade de preservar algumas características alinhavadas ao universo pop. Wes Anderson, diretor do primeiro, dono de uma filmografia cult é um tipo estranho e, certamente, um gosto a se adquirir. Já Stephen Chbosky é um diretor estreante, mas não um estranho ao mundo do cinema. Já produziu e roteirizou, por exemplo, o musical Rent – os boêmios (2005) – por sua vez uma atualização de uma bem sucedida peça da Broadway- e a série de TV "Jericho" – cult em seu próprio eixo.
Há pouco mais de dois anos na extinta seção Contexto, Claquete abordou a questão sob um prisma mais abrangente. “Quando a adolescência é ofoco” discutia a boa safra de filmes, capitaneada pelo brasileiro As melhores coisas do mundo, que discutia a adolescência como algo factível e buscava se comunicar com o público retratado nas telas; fosse com bom humor, originalidade ou mesmo boas doses de ironia.
Moonrise kingdom e As vantagens de ser invisível elevam o status dessa discussão. Primeiro porque foram idealizados por dois diretores escritores altamente criativos e recém-ingressos na casa dos 40 anos. No caso de Chbosky, a experiência é ainda mais profunda, já que ele adapta a si mesmo de outra mídia, no caso o livro homônimo que escreveu para remontar sua própria vivência adolescente.
Esses filmes não buscam o diálogo com os adolescentes, mas também não o alienam- como o faz a obra de Gus Van Sant. Eles buscam abrigo na memória de quem já se despediu dessa fase da vida. Por essa beleza nostálgica e por encampar a adolescência em todo o seu esplendor de caos e expectativa, os filmes encontraram aplausos na crítica e respaldo de um público de procedências e faixa-etárias diferentes.
Os dois filmes, justamente por essa característica híbrida, podem representar um oásis na produção hollywoodiana. Fica a expectativa de que reverberem e que a proposta encontre eco entre produtores e diretores. Porque público, definitivamente, ela já encontrou.

sábado, 27 de outubro de 2012

Em off


Nesta edição de Em off, crise no universo mutante; um tubarão que (ainda) assusta muita gente; uma mulher que fez (a ainda fará) muita história na Arábia Saudita; as escolhas sugestivas de Uma Thurman; o bom ano de John Goodman; um remake que promete e um casamento de dar água na boca.


Metáforas e conquistas
Haifa al Mansour fez história. E tudo indica que vai continuar fazendo. Ela é a primeira diretora de cinema saudita e a primeira a ter rodado um filme em seu país. Não é pouca coisa. Sob muitos ângulos, Wadjda é um marco poético e cheio de metáforas sobre a Arábia Saudita e a condição da mulher árabe. À BBC Brasil, Mansour falou sobre as dificuldades de rodar cenas em locações externas e o sentimento de ser essa profissional do cinema destinada a se tornar um ícone histórico. A matéria , publicada no site do jornal O Estado de São Paulo, o leitor pode conferir aqui



Tubarão ainda afiado
Os 100 anos do estúdio Universal estão proporcionando ao cinéfilo uma verdadeira gincana de lançamentos super especiais para o mercado de home video. Neste mês de outubro, um em particular chama a atenção. Trata-se da edição especial em Blu-ray de Tubarão (1975), clássico mor entre os clássicos de Steven Spielberg. Foi com esse filme que Spielberg viabilizou o que hoje chamamos de “temporada pipoca” ou “filmes de verão”. Nas palavras do crítico Inácio Araújo, “Tubarão é coisa mestre. Não é qualquer um que faz a plateia se borrar de medo sem mostrar nada”.
Entre os destaques do material extra do disco estão documentários como “O tubarão ainda funciona: o impacto e o legado de Jaws” e “Os bastidores de Jaws”; cenas excluídas, fotos de produção, campanha de marketing, storyboards originais e um outro doc sobre os muitos processos de restauração do filme.

O casamento de Natalie Portman e Michael Fassbender
O casamento, é claro, é de mentirinha. Ocorreu nesta semana nos sets de filmagens do novo longa de Terrence Malick. O filme, que ainda não tem nome definido e deve ser lançado no final de 2013 nos cinemas, versa sobre amor e traição a partir da história de dois triângulos amorosos. Ryan Gosling, Christian Bale e Rooney Mara também integram o elenco do filme.




Sexaholic Uma
Uma Thurman surgiu para o cinema no thriller erótico chique Ligações perigosas (1988). De lá para cá, virou musa de Quentin Tarantino, se exercitou nas comédias, experimentou os romances... No entanto, dois de seus próximos projetos podem reconduzi-la ás fantasias de muita gente por aí. Uma Thurman já assinou para participar do muito comentado filme pornô artístico de Lars Von Trier. Não se sabe, porém, o tamanho do papel que a atriz terá em Nymphomaniac. Não se sabe também se uma coisa tem a ver com a outra, mas Uma está em negociações para estrelar a adaptação do livro "50 tons de cinza", outro com boa voltagem erótica.  A maturidade definitivamente atiçou Uma!



Você vai saber o nome dela
A refilmagem de Carrie- a estranha estreará no Brasil no dia 15 de março de 2013, mesma data programada para a estreia norte-americana. A informação é da Sony Pictures do Brasil.
O filme, dirigido por Kimberly Pierce, tem Chloe Grace-Moretz no papel que consagrou Sissy Spacek. O cartaz é de babar de ansiedade!




O ano de John Goodman?
Ele é daqueles baita atores que despontaram em papéis cômicos e se ajustaram à percepção do público. Vez ou outra se experimentam em um papel mais dramático, geralmente de menor estatura, e costumam surpreender. John Goodman, nesse sentido, tem um 2012 recheado. Ele está no elenco de O voo, drama de Robert Zemeckis estrelado por Denzel Washington, Curvas da vida, de Robert Lorenz com Clint Eastwood no papel principal, Inside Llewyn Davis, dos irmãos Coen, e Argo, de Ben Affleck. Todos papéis pequenos, mas de alguma maneira marcantes. Já se fala em uma possível presença na temporada de premiações. A dúvida seria por qual filme. Como Argo parece mais bem colocado na disputa, e sua importância na trama é maior, as apostas dão conta de que se ele for lembrado na corrida pelo Oscar, será pelo filme de Ben Affleck.

John Goodman: bom no nome, na carreira e no ano de 2012 


Reincidência
Antigo produtor dos filmes de Guy Richie e francamente um dos diretores mais criativos, originais e habilidosos do mercado, com filmes como Nada é o que parece (2004), Kick ass – quebrando tudo (2010) e X-men – primeira classe (2011) no currículo, Matthew Vaughn é um enigma. Na última semana foi anunciado que o diretor abandonou a pré-produção da sequência de X-men- primeira classe, denominada X-men: dias de um futuro esquecido. As razões não foram divulgadas, mas não é a primeira vez que Vaughn abandona uma produção do gene mutante. Era ele o responsável pela produção do terceiro x-men, mas pulou fora por divergências criativas e o filme acabou no colo de Brett Ratner. Dessa vez, seu substituto deve ser outro insider, Bryan Singer, diretor dos dois primeiros filmes da franquia.
Mesmo que Singer seja o diretor ideal para substituir Vaughn, pela familiaridade e liberdade que já goza junto ao estúdio Fox e personagens, é uma pena a desistência de Vaughn que renovou e potencializou as camadas políticas e humanas da saga mutante no cinema.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

50 anos de James Bond em Claquete - Operação Skyfall


James Bond está de volta. 007- operação skyfall está sendo considerado pela crítica europeia como o melhor filme da franquia. Expectativa é de quebra de recordes e consolidação de Daniel Craig como o James Bond mais lucrativo da história


“Existia a ideia de lançar um filme no aniversário de cinquenta anos do personagem”, admitiu o produtor Michael G. Wilson à reportagem da GQ americana. Mas não necessariamente seria esse filme o 23º da série. O ritmo adquirido pela franquia desde que Daniel Craig assumiu o smoking de James Bond sugeria que o lançamento do cinquentenário de 007 talvez fosse o 24ª da série. Desde Casino Royale, lançado em 2006, as definições no universo de 007  vinham sendo rápidas. No início de 2007, o franco suíço Marc Foster foi confirmado à frente de Quantun of Solace, que por sua vez, chegou aos cinemas em 2008. Em 2009, foi a vez de Wilson e sua sócia, Barbara Broccoli confirmarem Sam Mendes como diretor do 23º filme de 007. No entanto, pouco depois desse anúncio, muitíssimo bem recebido pela crítica e devidamente repercutido em Claquete, um novo processo de falência da MGM (que já havia enfrentado outro no início da década) pôs tudo em suspensão.
Foi apenas em meados de 2011, após uma série de acordos e parcerias comerciais que ratificaram a Sony como principal motor das produções atuais de James Bond, a produção do novo filme foi liberada.

Elenco de peso
"É um dos melhores atores que existe. Ele não só construiu um grande personagem, como também criou um vilão brilhante. Sua habilidade como ator tornou isso possível e fez dele alguém aterrorizador, mas sem esquecer o tipo cinematográfico que é. Não poderia estar mais contente de tê-lo a bordo", disse Daniel Craig sobre Javier Bardem em entrevista à agência Efe.  Inegavelmente, o ator espanhol é o principal destaque do novo 007. Como o enigmático Raoul Silva, que testará a fidelidade de Bond a M, o ator criou um tipo que alguns veículos internacionais chamam de “brilhante”. Bardem disse à revista inglesa Total Film que apreciou entrar para o universo de 007. “Até este filme, o único blockbuster de minha carreira havia sido Comer rezar amar. É muito divertido fazer parte de um filme desse tamanho”.
Mas Javier Bardem não é a única boa novidade que Operação Skyfall tem a apresentar. A francesa Bérénice Marlohe, até então sem grande expressividade mesmo em sua França natal, ascendeu ao time das Bond girls e admitiu em entrevista a GQ que está curtindo muito seu novo status e espera vingar em Hollywood. A lamentar, apenas o fato de não estar presente no set no dia em que Daniel Graig gravou uma cena nu. “Infelizmente não estava lá nesse dia”, disse a bela. A inglesa Naomie Harris faz outra agente secreta, figura comum nos mais recentes filmes de 007, que se envolve com Bond. Mas a adição que desperta mais curiosidade talvez seja a de Ralph Fiennes. O ator que admite preferir os romances de Ian Fleming aos filmes e declara ser Sean Connery o seu Bond preferido vive um integrante do MI 6 cheio de ambiguidades. Judi Dench retorna como M e Operação Skyfall ainda tem pontas de Albert Finney e Ben Wishaw, como uma versão jovem de Q – o homem por trás das engenhocas de 007.

Javier Bardem, loiro, é o grande atrativo de Operação Skyfall


Adele X Amy
 Tudo mundo sabe que a música tema do novo 007, “Let the sky fall” é interpretada por Adele. E Adele deu o tom certo a uma música que tem tudo para entrar na galeria das grandes canções-tema de 007. No entanto, durante a gestação inicial do projeto, quando a ideia era lançar o filme em 2010, a ideia dos produtores era que Amy Winehouse interpretasse a música tema de 007. Como o filme foi adiado, a ideia arrefeceu e o resto é história. Os produtores hoje não admitem esse interesse e dizem que tudo não passou de boato, mas contatos chegaram a ser feitos no final de 2009. É indiscutível o talento de Adele e a potência de sua cativante voz, mas ficará para sempre a curiosidade de ter Amy interpretando uma canção-tema de James Bond.

Futuro
Ninguém admite, mas a ideia dos produtores é não deixar outro hiato tão grande se impor entre os filmes. Um novo contrato com Daniel Graig, atualmente com 44 anos, já foi assinado para mais dois filmes. O ator, no entanto, evita fazer prognósticos. "Fazemos filmes para o público, esse é o segredo. Sem os espectadores nada existiria e, por isso, tratamos de fazer o melhor produto e o mais excitante possível. Assim foi antes que eu chegasse e assim seguirá sendo".

La femme: a bela francesa Bérénice Marlohe entrou para o time das Bond girls e lamentou não estar presente no dia em que Daniel Craig gravou uma cena pelado


Curiosidades do 23º filme de James Bond

- É a primeira vez que um diretor vencedor do Oscar dirige um filme de 007
- São 41 indicações ao Oscar presentes no filme, entre elenco e equipe de produção. O recordista é o diretor de fotografia Roger Deakins com 10
- O filme de 007 preferido de Sam Mendes é Moscou contra 007
- Será o filme de 007 com maior quantidade de ações promocionais. Dentre os quais se destacam os já tradicionais relógios Ômega, cristais Swaroviski, automóvel Jaguar e os novatos Coca cola zero e Heiniken.
- Sam Mendes admitiu ter sido influenciado pela trilogia do cavaleiro das trevas assinada por Christopher Nolan
-É o terceiro filme de James bom com locações na Turquia. Os outros foram Moscou contra 007 e 007 – o mundo não é o bastante
-Será o segundo filme da série em que James Bond surgirá com barba. O primeiro foi 007- um novo dia para morrer

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Crítica - Moonrise Kingdom


Os desajustados

Wes Anderson sempre foi peculiar e, dessa maneira, alçou seu cinema a um estrato autoral difícil de ser tangenciado no cinema contemporâneo. Seu mais recente filme, que abriu o último festival de Cannes, Moonrise kingdom (EUA 2012) é, de alguma maneira, seu filme mais acessível e, também, aquele mais incomum. Essa aparente ambiguidade se deve ao amadurecimento de Anderson enquanto cineasta na arquitetura do discurso cinematográfico e na maturação, não menos fascinante, de suas opções estéticas. Essa convergência resulta em um filme plasticamente belo e emocionalmente encantador.
Na trama, que se ambienta em uma ilha afastada na costa da Nova Inglaterra (EUA) na década de 60, acompanhamos a busca por dois adolescentes que mobiliza a cidadezinha. Um deles, Sam (Jared Gilman), órfão e escoteiro, foge do acampamento supervisionado pelo abobado mestre Ward (Edward Norton) para ir ao encontro de Zusy (Kara Hayward, uma revelação hipnótica) e juntos fugirem para um local ao qual Sam guarda algum fascínio. Anderson então equilibra a ação entre a busca desajeitada perpetrada pelo xerife local (um Bruce Willis encantador), pelos pais de Suzy (Bill Murray e Frances McDormand) e pelo escoteiro Ward e seus comandados e a fuga planejada, mas com gosto de improviso, de Sam e Suzy.
Moonrise kingdom revela a partir dessa divisão seus interesses. O primeiro e mais palatável está no flagra que faz do despertar de uma paixão – daquelas irremediadas pelo torpor da adolescência. Toda a inocência, a excitação e a inadequação da infância contraposta a sisudez e amargura da fase adulta ganham ainda mais viço na segunda frente do filme: Anderson nos diz que crescer nos priva de um certo encantamento circunscrito àquela fase da vida em que Suzy e Sam experimentam.
Os adultos aborrecidos, acovardados e entristecidos (e cada personagem é um comentário particular e intercambiável) são o contraponto perfeito à esperança ingênua e adornada de sentimentos das crianças que descobrem a adolescência.

O olhar: a jovem Suzy, brilhantemente interpretada por Kara Hayward, costuma observar atentamente tudo e todos a sua volta




Todos os personagens recusam a convenção. Mas são os apaixonados e “perturbados” Suzy e Sam quem preservam o romantismo de mudar, transmutar, viver...
Moonrise kingdom, como revela a poética cena final, é mais um estado de espírito do que um lugar. O filme de Anderson se inscreve como fervorosa referência tanto em sua obra quanto na cinematografia que se pretende estudiosa da adolescência, na qual Gus Van Sant parece ter tomado cadeira cativa. Moonrise kingdom parece destinado a puxar, talvez ao lado de Os excêntricos Tenenbauns (2001), a fileira da filmografia cult do diretor.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

50 anos de James Bond em Claquete - Quem, afinal, é o melhor intérprete de James Bond?


A discussão é eterna. Como os diamantes. É impossível desviar-se de certa subjetividade na avaliação que se faz dos intérpretes de 007. Mas alguns critérios e balizas podem ser adotados para a aferição de um resultado mais objetivo.
É comum a constatação de que Sean Connery, o primeiro a dar vida a James Bond, é o melhor. Será mesmo? Recentemente, Roger Moore, que sempre foi tido como o maior desafiante a essa hegemonia de Connery, declarou que o atual Daniel Craig foi quem “melhor encorpou Bond, lhe aferindo força física e profundidade emocional”. O voto de Moore pode ter segundas intenções. Ele pode estar interessado em naufragar a corrente que atribui a Connery o posto de “James Bond definitivo”.
É inegável que o peso de ter sido o primeiro joga a favor de Connery. Afinal, ele ajudou a fundar os cânones de 007 e moldou sua representação no cinema com seu charme, beleza rústica e carisma indomável. O humor escocês de Connery, uma variação bem urdida do sarcasmo inglês, também ajudou na engenharia do personagem. Foi Connery quem fez de James Bond uma mania. Além de lhe somar generosos pontos, esse fato contribui para que Connery se estabeleça como referência, tornando inglório o objetivo de relegá-lo a um segundo plano na historiografia de Bond.
No entanto, pesa contra Connery o desapego que ele vira e mexe mostra para com Bond, coisa que os outros dois interpretes que costumam frequentar a preferência de fãs em todo mundo não manifestam. Tanto Roger Moore, que chegou a escrever duas autobiografias que tem Bond no título, como Pierce Brosnan convivem muito bem com o estigma de Bond. Daniel Craig, por sua vez, até melhorou como ator depois de vestir o smoking do espião.

Reinado em disputa: Sean Connery é o Bond definitivo. Mas definitivo até quando?


Os pingos nos is
Se Sean Connery fez de Bond um símbolo de masculinidade, foi Roger Moore quem consolidou o personagem libertando-o justamente da sombra de Connery – depois da mal recebida participação de George Lazemby. Com Moore, a franquia se consolidou e pôde finalmente aspirar eternidade. Moore trouxe humor para 007 e sua fase foi das mais prolíferas com os filmes se enfileirando. Não à toa, é o ator que mais viveu 007 em filmes oficiais (sete) e foi Bond por doze anos. Para se ter uma ideia, Daniel Craig já detém o título há seis e ainda vai para o terceiro filme.
Roger Moore tinha beleza e elegância a seu favor, mas não a rudeza e o charme indevassável de Connery. O humor ajudou a tornar mais tolerável essas diferenças e o público aceitou bem a mudança.
O galês Timothy Dalton, de formação shakespeariana, não teve a mesma sorte. Na verdade, Dalton já foi segunda opção. O irlandês Pierce Brosnan era a primeira opção dos produtores. Com esse feedback, Dalton amargou a pior época para ser Bond. Com o fim da guerra fria, o personagem estava aparentemente sem sentido e o mundo estava perplexo com o surgimento da AIDS o que incidiu também na característica predadora de Bond. Resultado? Dalton, que só ficaria mais charmoso dos anos 2000 para cá, amargou o título de pior Bond. Isso por que em defesa do australiano Lazemby podem argumentar sobre a pressão de substituir Connery e o fato de não terem lhe dado uma segunda chance. Dalton tem poucas desculpas a seu alcance.

Roger Moore trouxe humor e sofisticação para a série e a libertou da sombra de Sean Connery 

Pierce Brosnan trouxe classe ao personagem e soube equilibrar as virtudes de todos os seus antecessores


Nos anos 90, com o avanço da tecnologia, os orçamentos dos filmes ficando mais gordos e o maior hiato da história para os filmes de 007 (sete anos), tudo parecia conspirar a favor de Pierce Brosnan. E ele não decepcionou. Classudo, cheio de charme e bonitão, Brosnan conseguiu conciliar as melhores características das versões de Connery, Moore e até Dalton. Parecia ser o Bond perfeito. De fato, o ator se apoderou do personagem de tal maneira que foi difícil imaginar 007 pós- Brosnan. Talvez isso ajude a explicar a razão dos produtores terem vendido o peixe do reboot quando confirmaram Daniel Craig como seu substituto. Craig foi bastante questionado. Eram questões legítimas. Seria o primeiro Bond loiro, baixo e, vá lá, feio. Descrição completamente distinta das bases propostas por Ian Fleming. Mas Craig também é charmoso, sexy e seria o primeiro Bond com tórax definido.
No final das contas, Daniel Craig se beneficiou do momento que vive o cinema de ação e como isso influenciou a nova safra dos filmes de Bond. Bom ator, imprimiu um estilo pessoal que faz lembrar as origens de Bond com Connery, mas se permite aprofundar emocionalmente o personagem. Algo que não ocorria com Connery, em parte porque o objetivo não era esse.
Daniel Craig talvez disponha do melhor James Bond. Essa seria uma definição mais acurada. Roger Moore é o principal responsável por esse Bond ter chegado a Daniel Craig. Connery é a referência suprema e, talvez, Pierce Brosnan mereça mais justiça. Se não tivesse vingado como Bond, com o personagem fora dos cinemas há sete anos, tudo teria acabado ali. Em 1995.

Daniel Craig em registro dos sets de Operação Skyfall: Moore já declarou apoio para elegê-lo o melhor Bond de todos os tempos, mas cabe à história julgar

domingo, 21 de outubro de 2012

Insight

Atrizes em evolução


Algumas atrizes que já estão há algum tempo ativas no cinema carregam consigo a máxima de não serem boas atrizes. Na vertente majoritária, são boas estrelas ou atrizes bonitas. Para pelo menos algumas delas, o panorama está mudando. Keira Knightley é um bom exemplo. Revelada na franquia Piratas do Caribe, a inglesa estrelou longas como Rei Arthur (2004) e Domino-a caçadora de recompensas (2006) sem causar grandes inquietações. Mesmo a indicação ao Oscar em 2005 por Orgulho e preconceito não foi levada a sério. Mas de uns tempos para cá, Keira tem demonstrado evolução dramática. Além de ter selecionado melhor seus projetos e seus papéis.
Desejo e reparação (2007) talvez, na revisão que se propõe esse artigo, seja um bom marco zero para esse "turn" na carreira. A segunda colaboração com o diretor Joe Wright, no entanto, não exigia tanto assim de Keira. A duquesa, do ano seguinte, já exigia uma atriz com mais dotes dramáticos e alguma capacidade de fluxo narrativo. Ali, como principal elemento narrativo, Keira surpreendia efetivamente pela primeira vez como atriz. Mas a partir de 2010, Keira atingiu outra patamar. Começou com Não me abandone jamais, um filme inglês muito sensível sobre humanidades. A atriz está discreta, mas com forte presença em cena. Encarna uma personagem potencialmente desagradável com candura e perspectiva. Ainda em 2010 esteve em Apenas uma noite, lançado apenas em 2012 no Brasil. Neste filme, ela solta uma sensualidade marota em uma personagem em confusão emocional e deixa transparecer uma atriz mais sugestiva do que se podia imaginar. Em Um método perigoso ela arrebata. Em um papel difícil, com uma personagem que no começo do filme apresenta um quadro de histeria em um época em que a ciência ainda não dominava exatamente o diagnóstico, ela evita a caricatura. Uma atuação com extrema eficácia física e acerto na construção emocional da personagem envolvida em uma batalha de egos entre os pais da psicanálise. Já no agridoce Procura-se um amigo para o fim do mundo, Keira se permite certo histrionismo dramático em uma composição menos exigente, mas mais traiçoeira. Ela brilha como uma otimista ingênua apaixonante nessa comédia romântica que tem o apocalipse como pano de fundo.

Keira em Um método perigoso: Tão boa e tão fiel na caracterização de um quadro de histeria que muita gente achou que ela estava exagerada


Keira é o principal expoente de um conjunto de atrizes que deseja ser levado a sério. Veneza aplaudiu a ucraniana Olga Kurylenko por sua performance em To the wonder, novo filme de Terrence Malick. A ucraniana já declarou que espera que o filme lhe renda convites mais sérios no cinema americano.
Rachel McAdams, que está no mesmo filme, é outra que tenta se desvencilhar do histórico de produções água com açúcar. Depois de trabalhar com Woody Allen em Meia-noite em Paris, ela também poderá ser vista em Passion, novo longa de Brian De Palma. A atriz também já está confirmada no novo drama de Anton Corbijn, diretor de Control, A most wanted man (baseado em romance de John Le Carré).
Outro exemplo bastante nítido, e certamente precoce, desse movimento é Rooney Mara. “Surgida” para o cinema no remake de A hora do pesadelo (2010), a atriz logo no ano seguinte foi ao Oscar pela atuação acachapante em outro remake, dessa vez com mais pedigree. Mas Os homens que não amavam as mulheres não foi um espasmo. A atriz já está envolvida nos novos de Terrence Malick e Steven Soderbergh. Uma demonstração de que quer realmente acontecer.
Emma Waltson, a Hermione da saga Harry Potter, é outra que anseia valorização artística. Com o fim da saga criada por J.K Rowling, Emma até ensaiou um pausa na carreira como atriz, mas mudou de ideia. E engatou uma série de projetos ousados e dramaticamente interessantes. Ela está em cartaz nos cinemas brasileiros com o elogiado e independente As vantagens de ser invisível. Já terminou as filmagens do novo de Sofia Coppola, The bling ring e já está gravando o épico Noah, de Darren Aronofsky.

O desafio de Emma: ela quer ser popular e cult simultaneamente e tudo indica que vai conseguir


Jennifer Lawrence é outra que não quer saber de ficar restrita a sua beleza. Depois de uma acachapante boas vindas com Inverno da alma, que lhe rendeu indicação ao Oscar, ela escolheu protagonizar uma franquia (Jogos vorazes) cujos temas agradam muito mais à crítica do que outras tantas por aí. Jennifer também se abrigou sob a batuta de diretores festejados. Já vê seu nome especulado para o próximo Oscar pelo trabalho em Silver Linings playbook, de David O. Russell. Seria a segunda indicação na categoria de atriz em três anos e com apenas 22 anos de idade.
Juntas, essas atrizes buscam mais do que um lugar ao sol em Hollywood. Elas desejam mostrar que não estão no cinema em busca do estrelato pelo estrelato. E o talento cada vez mais lapidado dessas belas feras faz com que o cinema, de maneira geral, saia como o grande vencedor.

sábado, 20 de outubro de 2012

Em off


Nesta edição de Em off, as novas polêmicas de Joaquin Phoenix; o filme que pode reunir David Fincher e Brad Pitt pela quarta vez e James Bond, James Bond e James Bond.

O Oscar é uma cenoura...
Joaquin Phoenix simplesmente se recusa a afastar-se de polêmicas. Pelo menos no tom das declarações. O ator, cotadíssimo para o Oscar 2013 por O mestre, disse em entrevista à revista Interview que abomina a temporada de premiações e que quando esteve no olho do furacão, por Johnny & June, vivenciou o período de maior desconforto de sua carreira. “Eu não quero ser parte disso. Eu não acredito nisso. É a pior cenoura que eu já provei em toda a minha vida. Eu não quero essa cenoura”, disse o ator.
Phoenix continuou: “Eu não quero experimentar isso novamente. Eu não sei explicar – e não é como se eu me achasse superior a tudo isso – mas eu não quero jamais ficar confortável com esse tipo de coisa”.

Joaquin Phoenix em foto para a Interview: muita pose, muita atitude e um punhado de polêmicas

...saudável?
Analistas divergem sobre o impacto das declarações de Phoenix. Para alguns, ele enterrou suas chances de indicação ao Oscar. Até mesmo porque Phoenix já não apresenta um histórico lá muito favorável. O agravante é que tem muita gente que simplesmente não tolera o estilo “I don´t fucking care” do ator. Mas a grande maioria especula que a declaração, mesmo que a revelia do ator, deve impulsionar sua candidatura. Isso porque o ator provoca um debate em torno de si, de sua atuação e sobre a lógica das campanhas por indicações. Hollywood é mesmo um lugar estranho.


Pitt e Fincher juntos novamente
Pode finalmente sair do papel a versão de David Fincher para o clássico 20.000 léguas submarinas que a Disney planeja há pelo menos três anos. Segundo a Variety, David Fincher e Brad Pitt já estão trocando ideias e a Disney está animada com a possibilidade de ter Pitt como protagonista do projeto.
Se confirmada, esta será a quarta colaboração de Fincher com seu ator favorito. Eles tentaram fazer com que Os homens que não amavam as mulheres fosse essa quarta colaboração, mas Pitt não quis assinar para estrelar a produção sem ler o roteiro e a retomada da parceria teve de ser adiada.


Capas de 007 – operação Skyfall
É o evento do ano! Que nos perdoe O hobbit e o relativamente frustrante Batman – o cavaleiro das trevas ressurge. Talvez Os vingadores seja o paralelo mais forte em 2012. Mas 007 tem um charme que excede as revistas de cinema. A uma semana da chegada do 23º filme de Bond nos cinemas, Claquete destaca as principais capas com o tema Bond que fizeram 2012 (que ainda não acabou).



Mais Bond – parte 1
A Total Film, com um espírito dos mais fanfarrões, listou 15 atores que jamais poderiam ser Bond. Os motivos são diversos e plenamente aceitáveis. Claquete selecionou os melhores:

George Clooney: Apesar de lindo, elegante e charmoso, a Total Film lembra que ele afundou a franquia do Bond americano, o Batman.

Brad Pitt: a revista lembra que Pitt já viveu espiões antes em Jogo de espiões (2001) e Sr. & Sra. Smith e que já mandou bem no sotaque britânico em Inimigo íntimo (1994), mas cisma que um Bond loiro não funcionaria, mas aí lembra que Craig funcionou...

Tom Cruise: A revista reconhece que a franquia Missão impossível é Bond com outro nome, mas adverte que a frase de 007 é “Batido, não mexido” e não “Você me completa”, em referência à famosa frase de Cruise em Jerry Maguire – a grande virada.

Daniel Radcliffe: Apesar de ser inglês, pesa contra o ator, de acordo com a Total Film, o fato de que a audiência não quer saber como Bond era quando criança...


Mais Bond – parte 2

Leitura obrigatória para quem gosta de James Bond, para quem deseja conhecer mais o personagem e sua história no cinema ou para quem deseja aquecer as turbinas para o novo filme, é a série dedicada ao personagem na sessão trailer do Cine Rodrigo, blog mantido pelo cinéfilo e fã de carteirinha de 007, Rodrigo Mendes. Clique aqui para conferir!



Rápidas e ligeiras

+ Nicole Kidman abandonou o projeto Nymphomaniac, de Lars Von Trier, após saber que teria de gravar cenas reais de sexo

+ O novo de David O. Russell, Silver Linings playbook, deve se chamar O lado bom da vida no Brasil

+ Keith Richards gostou da brincadeira e já se ofereceu para voltar a viver Teague Sparrow no quinto Piratas do Caribe

+Shailene Woodley, que quase roubou a cena de George Clooney em Os descendentes, foi confirmada como a Mary Jane da sequência de O espetacular Homem aranha


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Crítica - 360


Distopias emocionais

Não que 360 (360, Aus, Ingl, Can, Bra 2012) não seja sobre o amor, como muito se proliferou na mídia nessas últimas semanas; indiscutivelmente o tema gravita todas as subtramas interligadas do novo filme de Fernando Meirelles, mas 360 é, na verdade, um drama sobre escolhas. E as indesviáveis consequências delas. O que torna o material do filme ainda mais atraente, sob a perspectiva dramatúrgica, é o desenho do acaso; jamais subestimado pela narrativa alinhada por Meirelles e pelo roteirista Peter Morgan, e seu impacto em circunstâncias diversas.
Talvez seja do confronto do acaso e do arbítrio que 360 se erija como um filme de muitas potencialidades, alguns acertos e um discurso bem azeitado sobre ciclos.
Diferentemente do que se poderia supor, com base no histórico de filmes com múltiplos personagens, a narrativa não oscila e Meirelles com o préstimo do montador Daniel Rezende, mantém bem costuradas as transições entre os plots. A trilha, supervisionada por Ciça Meirelles, é outro bálsamo que acrescenta ao termostato da narrativa.
Mas 360 não escapa de outro problema crônico de filmes corais. O pouco, por vezes pobre, desenvolvimento dos personagens. Alguns não excedem o arquétipo como é o caso do dentista mulçumano que se apaixona por sua assistente casada e padece de um conflito mais espiritual do que ético. Há núcleos, porém, que não só recebem mais atenção da caneta de Morgan como contam com atores inspirados. Maria Flor protagoniza o arco mais bem adornado do filme. Laura (Flor) seguiu para Londres para tentar a vida ao lado do namorado fotógrafo. Depois de descobrir a traição dele, ela parte de volta para o Brasil. Em pouco mais de 24 horas, e cruzando com dois outros personagens cativantes, ela precisa externar toda a fragilidade e erupção emocional a qual a personagem está submetida. Não é uma tarefa fácil, mas Maria Flor a cumpre com tamanha desenvoltura que se equipara aos bem mais badalados Ben Foster e Anthony Hopkins, que também apresentam momentos de brilho.

Maria Flor em cena do filme: uma atriz surpreendente e cativante


Em comum, todas as subtramas de 360 têm a bifurcação nos caminhos de seus personagens. Em alguns casos, mais de uma escolha. Como é o caso da prostituta eslovaca Mirka (Lucia Siposová) que, não coincidentemente, abre e fecha o filme. O amor e a forma como lidamos com ele, obviamente, passa por essas escolhas e Fernando Meirelles é hábil em sinalizar isso. Seja no olhar de culpa que o marido reconhece na esposa (em grande momento silencioso de Jude Law), seja na opção de manter-se alinhado a uma certa visão de mundo em detrimento de um lampejo de felicidade ou quando se flerta com um agressor sexual.
360, nesses momentos, rejeita a frieza de quem apenas observa e permite que o sangue corra por suas veias. São momentos muito bem escolhidos por Meirelles. Em um filme de difícil realização, mas que o diretor soube tirar dessa dificuldade certa poesia.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Crítica - Ruby Sparks-a namorada perfeita


Porque se apaixonar é mágico...

Pode parecer publicidade oca, mas faz toda a diferença as mentes criativas por trás de Ruby Sparks – a namorada perfeita (Ruby Sparks EUA 2012) serem dois casais em fases diferentes da vida e da relação. Isso porque, em um primeiro momento, Ruby Sparks fala sobre expectativas que gravitam uma relação amorosa e, em um segundo momento, sobre o peso do desenvolvimento de uma relação amorosa.
Posto de maneira simples, o que Ruby Sparks – a namorada perfeita propõe é um choque entre o conto de fadas – de onde o filme tira sua fascinante premissa – e a realidade – que vai sendo pincelada com contornos cada vez mais sombrios. Ainda assim, Ruby sparks se mostra um filme solar, meigo e engraçado. Não à toa, os responsáveis são Jonathan Dayton e Valerie Faris – que há seis anos chamaram a atenção à frente do indie Pequena miss sunshine. O outro vértice que provê equilíbrio a essa tese disfarçada de comédia romântica que é Ruby Sparks é Paul Dano e Zoe Kazan. Namorados na vida real, eles esbanjam química e não fazem questão de esconder o viés terapêutico da obra, cujo roteiro é assinado por Zoe.
Dano, com inesperado desembaraço cômico, vive Calvin. Um escritor refém de seu primeiro sucesso. Mas se o único problema de Calvin fosse a dificuldade de inspiração para escrever seu segundo livro, ele estaria bem. Abandonado pela namorada após a morte do pai, Calvin alimenta forte tendência antissocial e preocupa desde o irmão até o terapeuta. Este último lhe sugere um exercício, do qual Calvin acaba extraindo inspiração: começa a escrever sobre a garota de seus sonhos. Só que ele se descobre apaixonado por ela. Algo que torna a lhe jogar em conflito, o que é potencializado quando Ruby, a garota que começou a escrever depois de sonhar, se materializa em sua frente. A princípio desconfiado, ele acaba constatando que essa materialização de seu subconsciente é real. Real o suficiente para interagir com outros além dele. A lua de mel, então, tem início. Calvin nunca fora tão feliz.

Ela é real: Calvin custa a acreditar que "criou" uma mulher e custa a acreditar que sua criação pode não amá-lo incondicionalmente


Mas o segundo ato do filme desconstrói esse mar de rosas. Não há relação que resista ao desgaste e no interessante contraponto que oferece ao colocar a mãe de Calvin (Annette Bening) e seu padrasto (Antonio Banderas) na trama, Ruby Sparks avaliza dois comentários de naturezas opostas: por um lado chama a atenção para o fato de que nenhuma relação amorosa sobrevive sem um esforço diário para que isso aconteça e, por outro, atenta para o ímpeto dominador que algumas pessoas apresentam em uma relação. Exigindo que o/a parceiro (a) se molde às suas vontades.
Justamente por capturar tão bem essa ambiguidade, e ainda tirar um final feliz extremamente poético e encantador da cartola, que Ruby Sparks – a namorada perfeita é um filme tão interessante. Certamente não é o arroubo de originalidade e acidez que é Pequena miss sunshine, mas é uma obra que não se furta a iluminar sombras que preferimos esconder. Ruby Sparks – a namorada perfeita é um filme sobre as diferentes faces do amor, mas é, antes disso, um filme sobre como o ato de amar pode nos tornar pessoas melhores. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

50 anos de James Bond em Claquete - Dez ideias para os próximos 50 anos de 007


Claquete, alternando espírito zombeteiro e sério, elenca dez sugestões para os próximos 50 anos de James Bond nos cinemas. De opções viajadas como uma guerra de clones e triângulos amorosos a uma bem factível versão com um banqueiro e Wall Street como vilões.



10 – Um psicopata e David Fincher
James Bond sempre teve vilões psicóticos, mas não um psicopata de primeira linha. Em um filme dirigido por David Fincher com o rigor narrativo de um Zodíaco, a potência climática de um Os homens que não amavam as mulheres e a loucura calculada de um Seven. Sonhar é pecado?

9 – Uma perseguição em pleno carnaval brasileiro
Bond caça um terrorista que os melhores serviços de inteligência informam estar no Brasil para o carnaval. O problema é que Bond precisa descobrir que carnaval o terrorista irá pular. O da Bahia, o do Rio de Janeiro, o de Pernambuco... o tom seria Hitchcockiano.

8 – Um vilão americano
Já houve vilões americanos. Mas e se James Bond tivesse como nêmeses um banqueiro americano, prodígio de Wall Street, em uma contraposição com o american way of life do qual o próprio Bond faz parte. Um thriller dirigido pelo alemão Tom Tykwer.

7 – Um road movie dirigido pelos Coen
M está morta. Bond prometeu a si mesmo jamais permitir que algo como aquilo acontecesse novamente. Ele sai ao encalço do assassino, um homem desfigurado, dono de um humor peculiar, e que parece estar sempre um passo a frente de Bond. A caçada pela América profunda coloca diversos tipos estranhos no caminho de Bond. Um deles, talvez, tenha respostas sobre o passado de M e do homem desfigurado.

6 – Licença para matar terminantemente caçada
Tudo bem que essa ideia já foi circundada. Mas não da maneira como deveria. A proposta aqui é a desativação absoluta do MI6 e os agentes secretos vivendo como párias. James Bond seria então moeda de troca entre EUA e Inglaterra e os dois países estariam caçando Bond que, para sobreviver, buscaria as provas para expor a razão da desativação do MI6; o que levaria Bond ao Afeganistão.  

5 –Epidemia global
E se James Bond fizesse parte do filme Contágio, de Steven Soderbergh? A ideia não é ruim. O governo britânico suspeita que uma poderosa farmacêutica americana está por trás da liberação de um vírus biológico mortal. Bond é acionado para levantar informações suficientemente confiáveis para contornar uma incidental crise diplomática. Mas Bond só tem 36 horas porque está contaminado.

4 – Bond versos Bond
A ideia da clonagem parece sub ficção científica. Mas com roteiro de Andrew Niccol (Gattaca–experiência genética), esse poderia ser o Bond de Ridley Scott. Com a finalidade de replicar e garantir a existência do agente secreto perfeito, o MI 6 clona Bond sem a ciência do mesmo. Mas o clone cai nas mãos erradas e precipita o destino de Bond.

3 – Bond desmemoriado
Ok! Essa é cópia descarada de Bourne. Mas imaginem James Bond entrando em um bar sem saber o que pedir ou sem resposta para a famosa pergunta: e o nome é? A dúvida é se o Woody Allen dos anos 70 ou os Farrely dos anos 90 dirigem...

2- Um triangulo amoroso
Que o fraco de Bond é mulher todo mundo sabe. Mas e se uma delas resistisse aos encantos do agente secreto? E se tivesse outro homem na jogada? Um drama com sotaque europeu com um Bond disperso, inseguro e algo destrutivo. Fernando Meirelles seria uma boa opção para direção.  


1 – Pulp Bond
Não é de hoje que cinéfilos sonham com um 007 dirigido por Quentin Tarantino. Além de frequentar um top 10 dos sonhos publicado há algum tempo em Claquete, essa ideia chegou a ventilar em Hollywood. O próprio Tarantino já comentou que gostaria de dirigir um 007. Os produtores, no entanto, afastaram a possibilidade argumentando que o diretor não tem o perfil buscado por eles. Mas fica a provocação: como seria um James Bond por Quentin Tarantino?

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Filme em destaque: Ruby Sparks - a namorada perfeita

Coisa de casal
Os diretores de Pequena miss sunshine estão de volta com uma fábula agridoce sobre o parceiro romântico ideal e sobre como essa busca pode transformar a própria essência do amor



Filmes que abordam escritores vivenciando crises criativas existem aos montes. Alguns versam sobre o inexorável bloqueio do segundo livro. Filmes que buscam extrair humor da relação entre criador e criatura com um pingo de fábula moral são outra variante hollywoodiana bastante frequente. Desde o clássico vintage Mulher nota 1000 ao recente e desbocado Ted. O que Ruby Sparks – a namorada perfeita (Ruby Sparks, EUA 2012), em cartaz nos cinemas brasileiros, propõe é uma bifurcação dessas figuras de linguagem cinéticas em um filme que quer divertir tanto quanto fazer refletir.
Calvin (Paul Dano) é um escritor em agonia por não conseguir finalizar seu segundo romance. A inspiração flui quando ele começa a escrever sobre a garota de seus sonhos. E ele, novamente, experimenta uma crise ao perceber que está se apaixonando por algo intangível. No entanto, para a surpresa de Calvin, em um belo dia, Ruby (Zoe Kazan), a personagem por ele criada, se materializa em frente a seus olhos.
A namorada perfeita e a relação perfeita estão ao alcance de Calvin. Tudo que ele precisa fazer é escrever essa história. A partir de então, Ruby Sparks - a namorada perfeita trabalha com um questionamento pertinente a todo tipo de relação amorosa. Queremos alguém para amar apesar dos defeitos ou alguém que só aceitamos amar nos nossos termos? Outra questão que interessa aos cineastas Jonathan Dayton e Valerie Faris, os mesmos por trás do sucesso indie Pequena miss sunshine (2006), é a capacidade de transmutação em uma relação amorosa e até que ponto isso é sadio.
“Na primeira vez que ela me apresentou o roteiro, eu logo perguntei: Zoe, você está escrevendo isso para a gente?”, informou Paul Dano à revista Serafina. Paul e Zoe, assim como os diretores Valerie e Jonathan, são um casal. E o fato de Ruby sparks – a namorada perfeita ser construído essencialmente por dois casais vivendo a plenitude de relações amorosas, constitui um irresistível paralelo.
Foi Paul Dano quem sugeriu a namorada que eles levassem o roteiro para Jonathan e Valerie. Dano acreditava que os diretores de Pequena miss sunshine eram os ideais para o texto da namorada. Por sua vez, Jonathan e Valerie estavam à espera de algum material genuinamente interessante e que pudesse ser produzido no metiê que eles estavam aprumados: a cena indie americana.
O filme então foi apadrinhado pela mesma Fox Scearchlight que distribuiu Pequena miss sunshine e o resto é história. O filme talvez não chegue ao Oscar. Certamente não se configurou na sensação do filme de 2006, mas vem bem recomendado pelos críticos e é um filme sobre casais, feito por casais para casais. Quantos desses há por aí?

domingo, 14 de outubro de 2012

50 anos de James Bond em Claquete - A evolução dos filmes de 007



Que James Bond é um ícone pop, um símbolo de masculinidade e o modelo de franquia mais bem sucedido da história do cinema já está pacificado. O que muitos ignoram é o valor histórico dos filmes de 007. Tanto nos contextos político, social ou cultural, os filmes de Bond são valiosa ferramenta para mensurar o grau e profundidade das mudanças pelas quais atravessou o mundo. E não só. Os próprios filmes são reflexos dessas mudanças e, também, das muitas transformações sofridas pelo cinema.
Os primeiros filmes foram lançados à sombra da Guerra Fria e carregavam essa marca até mesmo no título, como no segundo filme do espião - o antológico e para muitos o melhor da série Moscou contra 007 (mais poético e sugestivo no título original From Russia with love). Os filmes apresentavam vilões megalomaníacos que serviam à metáfora de paranoia que se assentou naquele mundo dividido entre capitalistas e comunistas. Os planos não eram menos espalhafatosos e James Bond não era exatamente um primor de inteligência, ainda que fosse um agente esperto e sagaz.
Nos anos 80, os filmes enveredaram por uma onda politicamente correta. James Bond ficou menos mulherengo e mais amargurado, nos anos 90, o terrorismo se enunciou como o grande mal dos filmes de Bond e, de um jeito monocromático, persiste até o momento.
A forma como James Bond se relaciona com as mulheres também mudou. De meros “objetos” de cena para fazer número na galeria de conquistas do espião, elas foram ganhando relevância narrativa, até se tornarem vilãs, agentes mais eficientes do que o próprio Bond ou personagens mais ambíguas e tridimensionais como a Vesper Lynd (Eva Green) de Casino Royale, o famigerado primeiro amor de Bond.

Sean Connery em Moscou contra 007: os alicerces de Bond em tramas megalomaníacas e um herói charmoso e ostensivamente masculino


A própria existência desse amor foi um reflexo da necessidade detectada pelos produtores da série de tornar o personagem mais dramático e profundo. James Bond precisava amadurecer como personagem, mesmo que fosse para viabilizar o arquétipo “bondiano” clássico. Por isso a série foi reinicializada a partir de Casino Royale em 2006. Nessa reimaginação de Bond outro fator preponderante foi o momentum dos filmes de ação na guarita da franquia Bourne. A série baseada nos livros de Robert Ludlum e estrelada por Matt Damon fez com que a série retomada nos anos 90 parecesse ingênua. A edição fragmentada, consagrada pelo cinema de países em desenvolvimento no início do século XXI, e uma maior tolerância à violência foram novos paradigmas inseridos no contexto moderno de 007.
Outro elemento primordial da mais recente safra dos filmes de James Bond é a vontade de produzir um entretenimento que extrapole os bastiões dos aficionados. Por isso diretores como Marc Foster (A última ceia e O caçador de pipas) e Sam Mendes (Beleza americana e Foi apenas um sonho), nomes estranhos ao cinema de ação, foram recrutados para a missão de fazer dos filmes de Bond, algo mais sério do que jamais foram. Ou pelo menos, sofisticar a percepção que público e crítica têm deles. O cuidado com o roteiro é outro aspecto crucial desse planejamento. Para isso, o vencedor do Oscar Paul Haggis foi contratado para supervisionar o processo de roteirização dos novos filmes.

Roger Moore marcou a fase de maior humor de James Bond. O personagem custou a reencontrar seu rumo depois da saída do ator


Entre muitas mudanças, o que não mudou nesses 50 anos de James Bond foi seu inexorável apelo midiático. O personagem sobreviveu a duas falências de estúdio, a divergências criativas de seus produtores, a trocas questionáveis de seu protagonista e outras crises de menor impacto.   
O mercado publicitário continua se rendendo a James Bond. Recentemente, o espião adquiriu o hábito de beber cerveja. Isso por que os produtores acertaram uma cota de patrocínio, de valor estipulado em U$ 25 milhões, para que a marca Heineken seja o carro chefe das comemorações dos 50 anos do personagem. E estamos falando apenas das comemorações etílicas. Mas Bond não abriu mão do Martini, ele apenas está evoluindo.

sábado, 13 de outubro de 2012

Crítica - Um divã para dois


Driblando a rotina

A reedição da parceria entre David Frankel e Meryl Streep, que emplacaram o grande sucesso O diabo veste Prada em 2006, apresenta uma comédia terna e bem intencionada sobre os rumos de um casamento duradouro e, principalmente, sobre o esforço para resgatá-lo da rotina. Um divã para dois, título nacional algo boboca para Hope Springs (EUA 2012), mostra a história de Kay (Streep) e Arnold (Tommy Lee Jones). Depois de 31 anos de casamento, eles se encontram engessados em um casamento sem intimidade e assombrado por uma rotina entediante – principalmente para Key. Parte dela a iniciativa de se submeter a uma terapia de casal intensiva na cidadezinha que batiza originalmente o filme. Arnold aceita com aquela (in) disposição tão característica de maridos contrariados.
O forte do filme acaba sendo as sessões com o Dr. Feld (Steve Carell) em que os atores se veem na contingência de alternar momentos de humor com outros de tensão ou drama. Ainda que Frankel não demonstre a mesma habilidade que detém para construir cenas cômicas nos momentos dramáticos, Jones e Streep – seguros e dedicados à verdade de seus personagens – compensam qualquer deficiência.
A trama se desenvolve com ternura e respeito pelos personagens. Esse é o maior acerto de Frankel. Não permitir que os clichês – indesviáveis em um filme que é, antes de qualquer coisa, uma comédia – atropelem a evolução dos personagens.
O bom texto de Vanessa Taylor não minimiza o valor da terapia, nem desobstrui os percalços do casal para que a relação amorosa volte a brilhar. É um acerto estratégico e que transforma esse filme maduro em uma opção valiosa em uma temporada de filmes desprovidos desse norte moral.
Um divã para dois, com suas ambições comerciais comedidas, se liberta para ser o espelho de um público que começa a encontrar mais respaldo na produção cinematográfica atual. A própria Meryl Streep foi protagonista de Simplesmente complicado, há três anos. Filme que desentranhava estereótipos e mostrava que as relações amorosas não expiram aos 40 anos. Elas evoluem e novos dilemas se apresentam com o passar dos anos. É novamente Meryl Streep quem capitaliza com a contemplação deste público no cinema. Justamente por isso, o diálogo entre os filmes arroja tão naturalmente. Mas é Tommy Lee Jones quem mais brilha nesse bem alinhado divã.