Páginas de Claquete

sábado, 30 de abril de 2011

Cantinho do DVD

Existem dois tipos de cinema de ação. Pelo menos em uma bifurcação superficial. A dos filmes de ação inteligentes e aqueles que se limitam a obviedades. Robert De Niro toda vez que ingressou no gênero contribuiu para a primeira frente. Pelo menos foi assim nos anos 90. Na última década, o padrão de De Niro baixou um pouco, mas nos anos 90 ele estrelou duas das melhores fitas de ação do cinema. Fogo contra fogo (1995), de Michael Mann e Ronin (1998), destaque de Cantinho do DVD desta semana. O filme de John Frankenheimer é daquelas obras que não podem ser diminuídas pelo aspecto pejorativo que se costuma atribuir a “filme de ação”. Original, movimentado, instigante e inteligente, Ronin tem o dom de surpreender a cada revisão. 



Crítica

Existem filmes de ação que excedem o rótulo de cinema de ação. Isso ocorre por uma conjunção de fatores que raramente se dá. Felizmente, essa raridade se revela em Ronin (EUA 1998). Realizado com altivez e sofisticação por John Frankenheimer, aquele tipo de diretor que enobrece um filme, a fita estrelada por Robert De Niro é um achado em termos cinematográficos.
O filme começa com o personagem de De Niro (Sam, um provável ex- militar que atua como mercenário) rondando um bar nos arredores de Paris. Dentro do estabelecimento, tipos incomuns e aparentando nacionalidades distintas. Aos poucos, vamos descobrindo aquele mistério em particular. Um grupo deseja roubar uma mala, que contém material desconhecido, de outro grupo. Esse primeiro grupo contratou um time de mercenários através de um intermediário. Logo percebemos que os personagens sabem tanto quanto nós. Ou até menos.
Frankenheimer constrói Ronin com tensão genuína com elementos que remetem aos clássicos da espionagem que o próprio dirigiu como Sob o domínio do mal (1962) e Operação França 2 (1975). Os tiroteios são realistas e insidiosos, as cenas de perseguição são maravilhosamente filmadas e os diálogos surgem como balas.
Ronin não é subserviente ao previsível. Após esse grupo de mercenários, dos quais além de De Niro fazem parte Jean Reno, Sean Bean, Stellan Skarsgard, Natascha McElhone e Skipp Sudduth, roubar a mala, uma sucessão de entreveros se apresenta. Traições passam a ser uma constante e a forma como o filme irá se resolver passa a ser uma atração assediada prontamente pela ansiedade.
Robert De Niro empresta seu indefectível charme como o hitman de moral indesviável e ajuda a fazer de Ronin um entretenimento ainda mais classudo. O cinema de pedigree idealizado por Frankenheimer não o seria sem a contribuição do ator.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Panorama - Um lugar qualquer


Um ator, um hotel, uma menina que desperta nele uma luz interior. Não se trata de Encontros e desencontros, mas de Um lugar qualquer (Somewhere, EUA 2010), vencedor do Leão de ouro no festival de Veneza em 2010. O último filme de Sofia Coppola é sua afirmação como cineasta. É onde ela recupera temas e questões de seu cinema e os afina com perícia técnica em sobreposição a sensibilidade. A sensibilidade da cineasta em Um lugar qualquer não deve ser intuída pelo espectador, deve ser percebida. Essa é a grande preocupação de Sofia ao contar a história de um astro de filmes de ação americano que descobre a paternidade em meio ao vazio existencial que lhe preenche entre festas, noitadas e entrevistas promocionais.
E Sofia consegue. Um lugar qualquer é brilhante sob o ponto de vista da realização. Com uma narrativa sofisticada, o filme revela uma cineasta segura de suas escolhas e ciente das opções narrativas que faz. A fita só não resplandece como o melhor filme de Sofia Coppola porque já vimos um filme sobre um ator, um hotel e uma menina que desperta nele uma luz interior. Esse filme, em que a sensibilidade da diretora podia ser intuída, se chamava Encontros e desencontros.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Filme em destaque: Thor

Sobre Deuses e homens

A Marvel dá o pontapé inicial no verão americano de 2011 com mais um filme que vem encorpar um dos planos mais ousados da história do cinema. Claquete desvenda o capítulo que se escreve com o lançamento de Thor


A ideia de ligar o universo Marvel exige uma engenharia artística, um conceito um tanto quanto imaginativo por definição, não tão simples quanto cunhá-lo. São necessários planejamento, qualidade administrativa, visão e empreendedorismo estratégico. Avi Arad é o homem no centro da mesa. Ao seu lado estão Kevin Feige e David Maisel, os principais responsáveis pela forma com que o universo Marvel está sendo erigido no cinema. Foram eles que fizeram da Marvel, uma licenciadora de personagens de HQ com potencial cinematográfico, um estúdio de cinema atraente para um gigante como a Disney, que comprou a Marvel (estúdio e editora) em um mega negócio de Wall Street em 2009.
O filme Thor, que chega nessa sexta-feira (29 de abril) aos cinemas brasileiros, faz parte desse projeto. E é uma parte importante. Não só porque funciona como apêndice elementar para o filme Os vingadores que materializa o Universo Marvel nos cinemas, mas porque é o primeiro filme do estúdio sem Robert Downey Jr. distribuindo charme como Tony Stark. O incrível Hulk (2008) não conta porque era uma co-produção com a Universal.
Feige e Maisel sabiam que Thor era, em suas idiossincrasias particulares, um personagem difícil de se manipular no cinema. Uma HQ que evoca a mitologia nórdica de maneira superficial e que se viabiliza sobre o cotidiano de um Deus entre os imortais. Mas Thor traz em seu cerne questões inerentes a dramaturgia clássica, como o conflito familiar no berço do poder e a necessidade de humanizar-se para compreender o outro. As falas romanceadas do personagem, os figurinos de época e a existência de universo paralelo presentes na história, em uma época de profusão de filmes de fantasia, podiam ser um trunfo ou um entrave. Era necessário equilibrar-se nessa equação. É aí que entra Kenneth Branagh. Uma escolha inusitada para dirigir um blockbuster de verão. Com um currículo enfeitado por produções muito ligadas a Shakespeare (e ao teatro), Branagh, no entanto, era a escolha óbvia para enrijecer um material frágil, do ponto de vista dramatúrgico, e agregar credibilidade a ele. “O que me motivou a fazer o filme foi a possibilidade de trabalhar com Ken”, admitiu a oscarizada Natalie Portman em entrevista a revista americana Entertainment Weekly. A atriz, que faz o interesse romântico do Deus do trovão, vivido pelo ator australiano Chris Hemsworth, repetiu a mesma declaração em quase toda entrevista promocional que concedeu sobre o filme.


Natalie Portman e Chris Hemsworth em cena de Thor: um filme que alia Shakespeare, humor e grandes ambições
 

Comédia e conflitos

E como o diretor de filmes como Muito barulho por nada (1993), Hamlet (1996) e Um jogo de vida ou morte (2007) enxerga um filme sobre um Deus arrogante entre mortais? “Como uma comédia com elementos shakespearianos”, declarou em entrevista a revista inglesa Empire. “Existe uma disputa por poder entre dois irmãos, uma busca por aprovação paternal e a necessidade de provar-se humilde. Sou capaz de identificar Shakespeare aí”, continuou o diretor. A trama de Thor começa com o filho de Odin sendo banido de Asgard (terra fictícia em um universo paralelo à Terra) por seu próprio pai, após reincidentes demonstrações de arrogância. Odin objetiva que seu filho se torne mais humilde e nobre e, por isso, o despacha para a Terra. Seu irmão, Loki, conhecido como o Deus da trapaça, trama para que Thor continue afastado de Asgard.
A comédia surge da necessidade de Thor em se adaptar aos costumes terráqueos. Embora já superada nos quadrinhos, no cinema essa gag ainda é inédita e deve facilitar a digestão do filme pelo público. E é importante que isso aconteça. Entre Thor e Os vingadores, que tem estréia marcada para maio de 2012, só Capitão América: o primeiro vingador. Mas isso é papo para julho.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Os filmes que farão o verão americano de 2011

Nessa sexta-feira estréia no Brasil Thor, o filme que abrirá os trabalhos da época dos blockbusters americanos no mercado internacional. Nos EUA essa honra caberá a Velozes e furiosos 5: operação Rio. No final de semana seguinte, as estréias se invertem.
Entre maio e agosto de todo ano, os estúdios de cinema concentram os principais lançamentos de seu repertório anual: os chamados filmes pipoca. Aqueles que objetivam entreter na mesma medida que fazer dinheiro. Nos últimos anos essa época do ano tem sido marcada por refilmagens, continuações e adaptações de HQ. Em 2011 não será diferente. Esse verão americano (a estação só começa mesmo na américa do norte em junho) trará como principais destaques o último capítulo da saga de Harry Potter nos cinemas, o voo solo de Jack Sparrow pelo Caribe, uma comédia produzida por Judd Apatow com as mulheres em mente (Bridesmaids), a reunião da galera de Se beber não case na Tailândia, James Bond e Indiana Jones contra aliens sob comando do diretor de Homem de ferro e muito mais. Nesta reportagem especial, Claquete apresenta os principias destaques dessa época que lota cinemas e ferve o bolso dos cinéfilos de plantão e de quem só curte uma boa diversão no cinema também.


Chega de bromance: em Bridesmaids, as mulheres dominam a comédia romântica novamente...


Expecto Patronum

Não tem como não se arrepiar. Harry Potter cresceu e agora se despede. Iniciada em 2001, com A pedra filosofal, a saga Harry Potter, com seu oitavo filme, se despede em julho de 2011. Harry Potter e as relíquias da morte – parte 2 estréia mundialmente em 15 de julho, uma data que tem se mostrado pródiga para a Warner que reserva seus principais lançamentos para essa estratégica semana do mês de julho. Foi assim com Batman – o cavaleiro das trevas (2008) e Harry Potter e o enigma do príncipe (2009). A expectativa é que o último Harry Potter supere a colossal bilheteria dessas duas fitas – as maiores bilheterias do estúdio.
Se Harry Potter se vai, outro franquia que une magia e heroísmo a uma boa dose shakespeariana chega. Thor serve como apêndice para o mega filme Os vingadores que a Marvel prepara para 2012. E o diretor Kenneth Brannagh (o responsável pelo componente shakespeariano na fórmula) deve retornar para a sequência, prometida para 2013.

Em X-mem: primeira classe, a crise dos mísseis de Cuba serve como pano de fundo para a eclosão da rivalidade entre Xavier e Magneto


E se o assunto é quadrinhos, o diretor Matthew Vaughn, responsável pelo melhor filme do gênero (já dá para chamar de gênero, né?) do ano passado (Kick ass – quebrando tudo) apresenta a origem da amizade e rivalidade entre Charles Xavier e Magneto. X-men: primeira classe faz parte de uma nova franquia mutante que a Fox tenta impulsionar. A julgar pelas primeiras imagens, deve vingar. O elenco do filme que estréia mundialmente em 3 de junho conta com James McAvoy, Michael Fassbender, Kevin Bacon, Rose Byrne, Jennifer Lawrence e January Jones. Outro herói com DNA Marvel – e que chega pelo próprio estúdio – é o Capitão América. Capitão América: o primeiro vingador estréia em julho e acompanha um dos maiores símbolos americanos contra o nazismo. Se conseguir capturar o espírito de matinês de produções como Indiana Jones nos anos 80, esse Capitão América vai longe. Gente boa reunida tem. Chris Evans, Tommy Lee Jones e Hugo Weaving para citar alguns. A Warner que se despede dos dólares de Harry Potter mira em possíveis franquias. Em 2011, Lanterna verde é um dos candidatos. Personagem do segundo escalão da editora DC comics, chega aos cinemas como uma tentativa da Warner de obter a mesma lucratividade que a rival Marvel está conseguindo.
Quem é certeza de lucro é Jack Sparrow, que Johnny Depp volta a viver em Piratas do Caribe: navegando em águas misteriosas. O lançamento de 20 de maio nos cinemas mundiais tem ainda como atrações o retorno de Geoffrey Rush como Barbosa, a introdução do inglês Ian McShane como Barba negra e de Penélope Cruz como uma paixão antiga de Sparrow.


E como ainda não falamos de sequências...


Se beber não case era um filme tão bom que não podia acabar no final”, disse Zach Galifianakis, um dos expoentes do sucesso do filme dirigido por Toddy Phillips. Galifianakis e o resto do elenco voltam para Se beber não case 2, que também tem estréia mundial marcada para maio, no dia 27. Dividindo o dia de estréia com Se beber não case 2 (nos EUA, já que no Brasil a estréia ocorre em 10 de junho) está Kung Fu panda 2. Jack Black, Angelina Jolie e Dustin Hoffman voltam com suas vozes estreladas e ganham a companhia de Gary Oldman e Jean Claude Van Damme que dará voz ao rival de Po na nova aventura. Depois de encantar o mundo com a terceira parte de Toy Story, a Pixar parece ter tomado gosto pelas continuações e em junho lançará Carros 2, a sequência de um de seus maiores sucessos contemporâneos.
Sam (Shia LaBeouf) estará sem Mikaela (Megan Fox), mas poderá ser confortado por Carly ( vivida pela modelo Rosie Huntington-Whiteley, namorada de Jason Stathan) em Transformers 3: dark of the moon. Michael Bay relutou, mas acabou rodando essa terceira parte em 3D. Nos EUA, o filme chega em 1º de julho. Por aqui deve pintar uma semana depois. E o remake com cheiro de sequência do ano é Rise of the Planet of the apes. James Franco e Freida Pinto estrelam a nova aventura que coloca humanos e macacos frente a frente. Ainda sem título e data de estréia brasileiros, o filme está previsto para o princípio de agosto nos EUA. E quem gosta mais de sequências do que Robert Rodriguez? Sem nada para fazer em seu rancho, o diretor mexicano resolveu rodar a quarta parte de sua saga infantil Pequenos espiões, que também estréia em agosto, e chamou sua musa Jessica Alba para a brincadeira.
Conan vive depois de Schwarzenegger. Em agosto, o semidesconhecido (pelo menos para quem nunca ouviu falar de Stargate Atlantis) Jason Momoa viverá o simério na fita dirigida pelo videoclipeiro e bom diretor de filmes de terror Marcus Nispel. É esperar para ver no que dá.


Potenciais supresas

Judd Apatow se especializou na comédia romântica para machos. Ele resolveu aderir às convenções, pelo menos em parte, com Bridesmaids. Um filme que o próprio define como “Ligeiramente grávidos para mulheres”. O mad man Jon Hamm estrela ao lado de Kristen Wiig e Rose Byrne. Os brasileiros só poderão assistir ao filme, que chega nos EUA em 13 de maio, em setembro. Na mesma linha chanchada está Something borrowed que traz Kate Hudson, John Krasinski e Ginnifer Goodwin. Embora chegue semana que vem nos EUA, a fita só deve pintar por aqui na época do dia dos namorados.
Woody Allen será uma opção para quem deseja romance com conteúdo com seu Meia noite em Paris, outro filme que chega em maio nos EUA e em setembro no Brasil. Will Ferrel e Rebecca Hall estrelam Everything must go, em que Ferrel vive um homem que, sem mais nem menos, é posto para fora de casa pela mulher e que decide fazer um bazar com seus pertences. Forte candidato a hit indie é Hesher, filme em que Joseph Gordon Levitt vive um roqueiro interessado em Natalie Portman. Sam Worthington deixa o 3D de lado para contracenar com Keira Knightley em Last night. Os três filmes que estréiam em maio nos EUA, não têm previsão de lançamento no Brasil.
Não dá para colocar J.J Abrams e surpresa na mesma sentença. Mas muito pouco se sabe de seu Super 8, que estréia em junho. O mesmo se pode dizer acerca de Cowboys & Aliens, de Jon Favreau, que estréia mundialmente em 29 de julho, opondo Daniel Craig e Harrison Ford a aliens no meio oeste americano.



Justin Timberlake chega em dose dupla às telas de cinema neste verão. Em Professora sem classe, ele vive um professor substituto na mira de uma colega de trabalho vivida por Cameron Diaz. E em Amigos com benefícios, Justin e a ucraniana Mila Kunis engatam no maior dos clichês modernos: uma amizade colorida. O primeiro filme deve estrear em junho no Brasil, enquanto o segundo está previsto para o final de agosto.
Os realizadores de O golpista do ano entregam sua nova comédia. Em Crazy, stupid, Love (que provavelmente se chamará Amor a toda prova no Brasil), Steve Carrel e Ryan Gosling contracenam com Julianne Moore e Emma Stone. O filme, que ainda não tem data de lançamento no país, estréia nos EUA em julho.
Da série “esse filme tem tudo para ser bom”, se destacam Horrible bosses e 30 minutos ou menos, previstos para julho e agosto respectivamente. No primeiro filme, dirigido por Seth Gordon, três funcionários (Jason Bateman, Jason Sudekis e Charlie Day) resolvem tramar o assassinato de seus chefes (Kevin Spacey, Colin Farrel e Jennifer Aniston). O segundo filme promove o reencontro entre Ruben Fleischer e Jesse Eisenberg, diretor e astro de Zumbilândia.


O melhor do resto

Colin Farrel também está no thriller de terror Fright night, previsto para agosto. Por falar em terror, Paul Bettany é um padre a caça de vampiros em Padre, que estréia mundialmente na sexta-feira 13 de maio. Paul Rudd e Zoey Deschanel estão em Our idiot brother. As criaturinhas azuis, conhecidas como smurfs, também chegam aos cinemas em julho, assim como Tom Hanks e Julia Roberts na comédia dramática Larry Crowne.
Paul Bettany e Cam Gigandet estão em Padre, a estréia da sexta-feira 13 de 2011...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Crítica - Rio

Um filme charmoso!


Carlos Saldanha se prova mais uma vez um diretor tão criativo quanto assertivo dentro da seara das animações. Rio (EUA 2011), seu novo trabalho para a Blue Sky – divisão de animação da FOX - é desses filmes leves, simpáticos e divertidos que nos desperta o bem estar. É desnecessário citar a destreza técnica da animação, um comentário abandonado há dois anos. O que é importante ressaltar é o cuidado na lapidagem dos personagens, todos transbordantes em carisma e identificação. A ararinha Blu (Jesse Eisenberg) parece uma criação de Woody Allen, tamanha sua inadequação social. Estamos falando de uma arara que além de não saber voar, não se ressente dessa condição. Se entusiasma com sua gaiola. É essa arara que, por força da ação de um grupo de contrabandistas, terá que - na companhia de Jewel (Anne Hathaway)- se aventurar pelas ruas do Rio de Janeiro em época de carnaval.


Personagens cativantes e cheios de autenticidade: uma animação para agradar cariocas, paulistas, baianos e gringos...


É inconcebível pensar em Blu sem a voz de Jesse Eisenberg. O ator responde pelos grandes acertos da animação de Saldanha. A interpretação vocal, nova modalidade de interpretação que gente como Eisenberg e Johnny Depp em Rango lançam mão, se prova cada vez mais diferenciada em filmes do gênero. Eisenberg e Will I.AM como um pombo charlatão e cheio de atitude Hip Hop são dois achados.
O filme perpassa o Rio de Janeiro com olhos doces. Com números musicais protocolares e uma ou outra cena de ação sem grande inventividade, mas adornadas por carros alegóricos ou favelas sintonizadas em jogos de futebol. Olhar o Brasil pelos olhos estrangeiros é um deleite a parte para o espectador brasileiro. Ainda que o filme tenha sido realizado por um brasileiro, um brasileiro radicado em Los Angeles, a posição é de turista. Rio, o filme, não quer entender o Rio, a cidade. Quer vivê-lo. Vem dessa animação fofinha um puxão de orelha para os cariocas descontentes.

domingo, 24 de abril de 2011

Tira-teima

Na próxima sexta-feira estréia nos cinemas brasileiros Thor, o terceiro filme da Marvel Studios e o primeiro de quatro filmes estrelados por heróis a chegar aos cinemas em 2011.Os outros filmes são Capitão América: o primeiro vingador, X-men: primeira classe e Lanterna verde. Para ir entrando no espírito, e rememorar o que de melhor já pintou nos cinemas sob as rédeas desses dois celeiros de super heróis e super vilões, a seção Tira-Teima deste mês coloca Marvel X DC na arena. Pode desligar o joystick!


Os filmes


Marvel

Blade – o caçador de vampiros (1998) ; X-men – o filme (2000); Homem aranha (2002); Blade 2 (2002); Hulk (2003); X-men 2 (2003); Demolidor – o homem sem medo (2003); Blade trinity (2004); Homem aranha 2 (2004); O justiceiro (2004); O quarteto fantástico (2005); Elektra (2005); X-men: o confronto final (2006); Homem aranha 3 (2007); Motoqueiro fantasma (2007); Quarteto fantástico e o surfista prateado (2007); O incrível Hulk (2008); Justiceiro: zona de guerra (2008); Homem de ferro (2008); X –men origens: Wolverine (2009); Homem de ferro 2 (2010); Kick Ass: quebrando tudo (2010)


DC


Superman – o filme (1978); Superman 2 (1980); Superman 3 (1983); Supergirl (1984); Superman 4, em busca da paz (1987); Batman (1989); Batman – o retorno (1992); Batman eternamente (1995); Aço (1997); Batman & Robin (1997); Mulher gato (2004); Constantine (2005); Batman begins (2005); Superman – o retorno (2006); V de vingança (2006); Batman – o cavaleiro das trevas (2008); Watchmen (2009)







Empreendedorismo cinematográfico


A Marvel que licenciou seus personagens para variados estúdios (Sony, Fox e Universal são alguns deles), lançou Homem de Ferro como o primeiro filme sob produção própria – com acordo de distribuição firmado com a Paramount. Em 2009, a empresa foi vendida para a Disney. Após o término do licenciamento de personagens como X-men e Homem aranha, todos voltarão para a Marvel sob a batuta da Disney.
Já a DC mantém um longo relacionamento com a Warner Brothers que produziu e distribuiu todos os filmes baseados em personagens da editora. A relação, estremecida pelo sucesso comercial da Marvel no cinema, já dá sinais de esgotamento. Mas a DC não apresenta planos de vôo solo no cinema.


O universo no cinema


Enquanto a Marvel tece planos para ligar todo o universo Marvel no cinema, à medida que apresenta alternativas as já consagradas fórmulas de sucesso (com o reboot de Homem aranha e uma nova franquia mutante, X-men: primeira classe), a DC não consegue firmar nem mesmo seu segundo grande personagem no cinema. O super homem terá uma nova chance nos cinemas em 2013.



O carro chefe


Marvel

Homem de ferro
O personagem pertencia ao segundo escalão da editora. Não á toa ainda não tinha tido os direitos negociados com nenhum estúdio de cinema. Com o filme estrelado por Robert Downey Jr. passou ao primeiro time e garantiu a viabilidade da Marvel como estúdio cinematográfico.

DC

Batman
Nenhum outro personagem de quadrinhos rendeu tanto no cinema. Com seis filmes oficiais, e um sétimo a caminho, Bruce Wayne e seu alterego são os grandes responsáveis pela longevidade desse neo gênero cinematográfico. São também os filmes do Batman, a despeito de seus vilões fantasiados, os que menos se assemelham a uma adaptação de HQ. É a principal franquia da DC/Warner no cinema e dificilmente deixará de ser.








O horizonte límpido


A Marvel tem oito produções em andamento e muitos planos. Sem contar que a partir de 2013 alguns personagens voltarão aos cuidados da editora. A ideia de interligar o universo Marvel no cinema ainda poderá render muitos frutos. E ótimas bilheterias.
As fichas da DC estão em Lanterna verde. Um personagem do segundo escalão da editora que, se repetir o efeito de Homem de ferro para a Marvel, poderá desbravar as fronteiras para outros personagens como Flash e Mulher maravilha que vivem tendo seus projetos cancelados.
O super homem é outro personagem com a corda no pescoço. Se a bilheteria do novo filme (previsto para 2013) for ruim, o homem de aço ficará um bom tempo longe dos cinemas.

Insight

Para onde vai o cinema de Sofia Coppola?



Após quatro filmes, muita festa, um Oscar de roteiro, uma indicação ao Oscar de direção, um leão de ouro e de ter concorrido a Palma de ouro, a indagação se impõe: para onde vai o cinema de Sofia Coppola? A pergunta se justifica pelo culto à cineasta que divorciou-se do status de “filha de Coppola” para criar uma marca pessoal da qual, nesse momento, parece refém.
Muitos defendem que Sofia realiza o mesmo filme, sem acrescentar nenhuma espécie de juízo ou percepção, variando apenas o espaço-tempo. A afirmação carrega uma certa dose de intolerância, mas não é desprovida de sentido. O cinema de Sofia Coppola guarda algumas reminiscências e se Sofia avançou na técnica de diretora – algo que pode ser sentido em Um lugar qualquer – não dá para dizer, em uma separação pontual, que avançou como cineasta. Sua obsessão temática a faz apurar o escopo sobre solidão, incompreensão e outros ardis que tanto lhe interessam, mas dá pistas de que Sofia seja uma cineasta enclausurada em si. Incapaz de pensar além do espelho. De guiar-se pelo imaginativo. De curiosidade arguta e sensitiva.

 Sofia em momento "I´m the fucking deal": moda e cultura indie se sintonizam com seu cinema


Kirsten Dunst desnuda-se como a Maria Antonieta de Sofia Coppola: diferente de todas as outras leituras...


Encontros e desencontros parece tão vivo em Um lugar qualquer não por mero acaso. Toda a estrutura do filme estrelado por Bill Murray está presente em seu mais recente trabalho. A diretora parecia disposta a refinar (do ponto de vista narrativo) uma história que já havia contado. As características presentes em seus quatro filmes sugerem que essa será uma constante em seu cinema. A recepção a seu último filme sugere, também, que a crítica lhe será cada vez mais reticente.
As vaias na exibição oficial em Cannes de Maria Antonieta (em 2006) sintetizavam um descontentamento da crítica em perceber que Sofia havia ajustado a célebre personagem francesa a desajustes modernos e que se correlacionavam com as demandas emocionais verificadas nos filmes anteriores. A subversão proposta por Sofia não havia sido bem recebida. O viés feminista inerente ao cinema da filha de Coppola (muito forte nos três primeiros filmes) não passava de um instrumento. Não era em si significativo. Essa percepção também esvaziou o conceito do cinema de Sofia. Não que toda mulher que dirija deva fazer um cinema feminista, mas as personagens de Sofia (e Maria Antonieta mais do que todas) tragavam esse pathos em essência. Pelo menos teoricamente. O feminismo no cinema de Sofia Coppola se resolvia como um subterfúgio narrativo. Não que os filmes resultassem menos sensíveis, aprofundados e dialéticos em razão disso. Mas uma vez notada essa idiossincrasia, a magia do que Sofia tinha a dizer, menos se parecia com magia.

Sofia nos sets de Um lugar qualquer: um cinema preso em divagações do próprio mundo



Talvez por isso, em Um lugar qualquer haja tanto esmero técnico. Sofia quer certificar-se de que o público vivencie o que seu protagonista experimenta (o tédio). Novamente ensejada em falar de solidão, a diretora consegue evoluir dentro desse objetivo; mas faz sua audiência crer que ir ao cinema ver Sofia Coppola será sempre uma análise, nem sempre tão satisfatória, da inadequação solitária (redundante assim mesmo). De preferência, envolta em luxo.

sábado, 23 de abril de 2011

Panorama - Maria Antonieta

O filme posterior a Encontros e desencontros, naturalmente, atrairia atenção e expectativas desmedidas. Maria Antonieta foi selecionado para concorrer à Palma de ouro em Cannes e foi um dos filmes mais destruídos da edição de 2006 do festival. A percepção é de que Sofia não fazia filmes e sim ventilava algumas sensações próprias em sua narrativa. A Maria Antonieta da diretora era incompreendida, mas nem de longe a incompreendida que a História pincelava. Sofia Coppola faz um filme de rearranjos sofisticados e muita liberdade criativa. Não era a liberdade com que Sofia retratava aquele universo que incomodava parte da crítica, mas sim a ausência de um propósito em “imaginar” Maria Antonieta. O propósito era, ainda que enquadrado em proporções distintas, o mesmo de acompanhar o solitário Bob Harris (protagonista de Encontros e desencontros): a solidão do poder, o desprestígio do prestígio e todas essas contradições bem particulares. Esperava-se um filme investigativo sobre aquela personalidade tão cativante, não que a personalidade tão cativante fosse mero instrumento de identificação para os interesses da cineasta. E foi por não corresponder essas expectativas, por não exceder o mero e óbvio jogo de espelhos que Sofia Coppola foi vaiada em Cannes.
O filme é uma adaptação rasa, mas musicada, de seus dois filmes anteriores. Com boa música, figurinos sobressaltados e uma Maria Antonieta histriônica, Sofia Coppola realiza o filme menos marcante de sua filmografia e o que lhe suscita mais críticas.

Cantinho do DVD

Semana passada Cantinho do DVD destacou O albergue. A continuação do filme de Eli Roth ganha vez na seção desta semana. O diretor reproduz o que deu certo no primeiro filme e atende à curiosidade de quem ficou fascinado com o ponto de partida da trama original. Depois deste filme, Roth apareceu como ator em Bastardos inglórios (e dirigiu o segmento "O orgulho da nação" dentro daquele filme) e tem produzido algumas fitas de terror indies como O último exorcismo. A crítica a seguir:





Crítica

Continuações de filmes de terror tendem a engrossar o caldo do original. Para o bem e para o mal, Eli Roth sabe que esse é um caminho a ser evitado em O albergue: parte II (Hostel: part 2 EUA 2007). O diretor pegou a mesma ideia que pautou o filme original e, ao invés de reciclá-la, sofisticou-a. Novamente mochileiros, no caso mochileiras, são o alvo do clube sádico que atende ao mercado de luxo para milionários entediados na Eslováquia. O diretor e roteirista busca desenvolver a história do primeiro filme; oferecendo para sua audiência algum bastidor. Surgem mais detalhes daquela misteriosa organização que descobrimos no primeiro filme. Roth modifica também a construção dramática do filme. Além de acompanharmos as jovens fadadas a se tornarem vítimas, somos apresentados a dois tipos recém ingressos no clube e que deverão fazer sua estréia nos próximos dias. Enquanto um mal se contém de ansiedade para torturar uma garota, o outro parece sempre hesitante. O mérito de Roth, mais uma vez, está em trabalhar os clichês de maneira climática e constante. Nem por isso, O albergue: parte II se torna um filme superior ao original. O primeiro ainda desponta pela originalidade e pelo desapego nas cenas gráficas (da nudez ao sangue), mas esse aqui é um entretenimento tão bom quanto.
Roth, inegavelmente, se diverte fazendo o que faz. Esse filme parece mais irônico e cínico do que o primeiro. Talvez por isso, menos tenso. O que não chega a ser ruim, mas prova que Roth mais do que ser diretor gosta é de se esbaldar no terror.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Crítica - Pânico 4

“Não preciso de amigos, preciso de fãs!”


A frase que dá título a essa crítica foi proferida por um importante personagem em um momento crucial de Pânico 4 (Scream 4, EUA 2011). Ela diz mais sobre esse novo filme de Wes Craven, que revigora a franquia que marcou época nos anos 90, do que qualquer título espertinho. A frase sintetiza uma das preocupações da realização na concepção desse novo filme que retoma a história de Sidney (Neve Campbell), Gale (Courteney Cox) e Dewey (David Arquette) e da fictícia Woodsboro – cidade em que ocorreram os crimes no filme original.
Antes de ser um filme de terror divertido (uma especialidade dessa franquia assinada por Craven e pelo roteirista Kevin Williamson), Pânico 4 é uma obra referencial. Dentro do gênero terror e também no olhar que dispensa para o fenômeno das redes sociais. O escopo aqui, é bom que se diga, é diferente do vislumbrado em A rede social. Dentro dessa proposta bípede, a cena de abertura da fita beira a genialidade. A metalinguagem cinematográfica, que sempre pautou a série, adquire novos contornos nesse quarto capítulo. As referências a outros filmes de terror vêm temperados por um despudor em diminuir produções como Jogos mortais e O chamado. Craven se diverte ao rir do gênero em que se consagrou. Logo no início uma personagem se queixa dos filmes de terror atuais: “Não há desenvolvimento de personagens!”. Em Pânico 4, Sidney Prescott reaparece como uma espécie de tenente Ripley (célebre personagem de Sigourney Weaver na série Aliens) e vira alvo de um novo massacre em Woodsboro. De volta à cidade para a divulgação de um livro, com jeito de auto-ajuda, que escreveu, Sidney se vê no epicentro de mais uma dupla de imitadores dos assassinos originais.
Não seria exagero dizer que Neve Campbell está em seu melhor momento como atriz aqui. Capaz de revelar fragilidade e força com um mesmo olhar, em um mesmo movimento, a atriz sentiu positivamente os anos afastada da série.

Sidney (Neve Campbell) e sua prima Jill (Emma Roberts): a voz do Ghostface agora vem em aplicativo da Apple...


O que mais instiga em Pânico 4 é sua vocação para a autoparódia. A marca da série surge apimentada aqui. Seja na dupla de policiais que evoca Bruce Willis como um clichê ou no final alternativo que Craven embute no próprio filme. Pânico 4 não se leva a sério mesmo quando busca a reflexão. Os limites da fama foram flexionados com o advento da internet? Se a nova década traz novas regras e o clichê é ser imprevisível, dá para dizer que dentro de sua previsibilidade, Pânico 4 deu seu jeito de ser imprevisível. A série exibe novo fôlego, mais conteúdo, mais humor e um senso crítico (para consigo mesma e para com o público que busca se comunicar) que inexistia antes.
A resposta para o sucesso, o próprio Craven – que teve o seu A hora do pesadelo pifiamente refilmado – entrega em uma fala do filme (em mais uma das deliciosas figuras de linguagem de seu cinema): “A regra principal é não fuder com o original!”

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Momento Claquete # 13

Fernando Meirelles bate um papo com a atriz brasileira Maria Flor e o astro galês Anthony Hopkins nos sets de 360º, novo filme do diretor. As filmagens ainda estão acontecendo

Caio Blat em cena do premiado Bróder, de Jefferson De. A fita que foca na amizade de três jovens oriundos do bairro do Capão Redondo em São Paulo estréia nessa quinta-feira (21 de abril) nos cinemas 

O elenco de Velozes e furiosos 5: operação Rio na premiere internacional do filme, realizada na sexta-feira (15 de abril) no Rio de Janeiro. Matéria exclusiva sobre o filme em Claquete na quinta-feira, 5 de maio- véspera do lançamento do filme no Brasil.

O Coringa brinca com o Batman nos sets da melhor adaptação de HQ da história. No próximo domingo, a seção Tira-teima irá trazer mais detalhes sobre esse filme no embate entre Marvel x DC no cinema 


O agente J (Will Smith) viaja ao passado para encontrar o jovem agente K (Josh Brolin fazendo as vezes de Tommy Lee Jones) em Homens de preto 3. As filmagens começaram há duas semanas e a fita deve estrear apenas em 2013 


 Stephen Moyer e Alexander Skarsgard em foto promocional da nova temporada de True Blood. O quarto ano da série dos vampiros de Bon Temps estréia em junho na HBO americana


Sofia Coppola orienta Kirsten Dunst nos sets de As virgens suicidas, seu primeiro filme. A diretora é destaque da mostra Panorama neste mês de abril em Claquete e no próximo domingo, a seção Insight lança a pergunta: para onde vai o cinema de Sofia Coppola? 

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Crítica - Fúria sobre rodas

O filme do ano!

O título da crítica é, logicamente, uma gozação. Do tipo que Fúria sobre rodas (Drive angry, EUA 2011) objetiva ser. Sem nenhuma pretensão de se equiparar a um bom filme, a fita dirigida por Patrick Lussier se orgulha de ser irremediavelmente ruim. E essa qualidade é o que torna Fúria sobre rodas um programa impagável para apreciadores do gênero. E por gênero se significa aqueles filmes recheados de testosterona e frases duvidosas.
Nicolas Cage faz um refugiado do inferno (isso mesmo que você leu) no encalço de uma seita demoníaca que sequestrou sua netinha e planeja sacrificá-la em um ritual satânico.


William Fichtner como o Contador em cena de Fúria sobre rodas: o astro é Nicolas Cage, mas o filme é dele...

Como companhia, Cage dispõe da moçoila Amber Heard que faz a durona Piper, aquele tipo de garota que não apanha sem bater. Carros envenenados, efeitos toscos e frases do tipo “só vou beber cerveja ser for no crânio de Jonah King” e “Até no inferno há compaixão” marcam a produção.
O grande destaque desse divertido filme é William Fichtner que cria uma figura cheia de tiques e muita pose. O misterioso Contador (um serviçal do Diabo) é um personagem tão bom, em um filme tão ruim, que merecia um filme só para ele. Essa pequena idiossincrasia só incrementa esse recheio bonachão de Fúria sobre rodas. Aquele filme que você vai ter vergonha de dizer que curtiu.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Panorama - Encontros e desencontros


É inegável que este é o filme mais cultuado e mais particular de Sofia Coppola. Ainda que não seja o mais pessoal. É difícil distinguir pessoal do particular – ainda mais com o cinema de Sofia como campo demográfico. Contudo, Encontros e desencontros (Lost in translation EUA 2003) facilita a tarefa. É um filme de investigação da solidão e da erupção de sentimentos e sensações que esta desencadeia. E Bill Murray, que teve o papel de Bob Harris – o ator falido que vai ao Japão gravar um comercial e se deixa cativar pela solitária personagem de Scarlett Johansson – escrito especialmente para ele, é tão importante para o filme de Sofia quanto suas próprias experiências. É sabido, e Sofia gosta de sugerir isso com sua dramaturgia, que sua vida no mundinho de Hollywood lhe inspira como artista. E Murray expressa essa estafa de maneira sutil e, ainda assim, peremptória. Encontros e desencontros não é só sobre amarguras. É sobre o estado de sítio da alma. É pontual que a história se passe com dois americanos no Japão. Não é preciso ceder a miudezas como, por exemplo, o marido fotógrafo star de Scarlett (visivelmente decalcado de Spike Jonze, ex de Sofia) para perceber o refinamento das metáforas da filha de Coppola e a busca pela consagração de um estilo próprio e minimalista. Sofia sinaliza com Encontros e desencontros que busca falar consigo mesma através do cinema. Essa espécie de cinema terapia é referência pós-feminista ou taquicardia passional? Encontros e desencontros é um bom filme sobre temas que, de uma maneira ou de outra, são recorrentes na cinematografia mundial. O que torna o filme de Sofia especial é o despudor com que se assume nostálgico, introspectivo e minucioso em seu microcosmo. Um paradoxo que fascina e surpreende.

domingo, 17 de abril de 2011

Insight

O cinema que Amor? propõe



Desde sexta-feira em cartaz no país, Amor? é um filme rico em suas camadas. Além da força temática, a fita de João Jardim atrai para si importância pela opção de renovar a linguagem cinematográfica. Jardim avança na proposta de Eduardo Coutinho vislumbrada em Jogo de cena e oferece a seu espectador um filme inebriante. Assentado em uma investigação simples, mas apresentada de maneira sofisticada. Ficção documentada ou documentário ficcionalizado? Os rótulos pouco importam aqui. Mas é inegável que o olhar sobre o documentário precisará mudar. E mesmo sobre as possibilidades de uma narrativa ficcional. O venerado “inspirado em uma história real” pode adquirir novo prisma. Novo desenvolvimento. O frescor de Amor? o é, pela ciência de Jardim de que a força emocional do documentário, combinada com a liberdade criativa da ficção podem acrescer à experiência cinematográfica. Essa é a proposta primária de Amor?. O diretor admitiu em entrevista no festival de Brasília do ano passado que não quis que os atores fizessem pesquisa sobre seus personagens. Muito menos que entrassem em contato com os donos daquelas histórias.

Jardim pensativo no primeiro plano: um filme para renovar a linguagem cinematográfica...


Essas histórias de amor e violência, selecionadas pelo diretor e por Renée Castelo Branco, foram ouvidas em um extenso trabalho de pesquisa da produção. Esse trabalho foi capitaneado por Jardim. De posse das entrevistas, Jardim roteirizou Amor?. “Até pensei em mostrar os verdadeiros personagens na tela, mas, além da privacidade de cada um, havia a privacidade do parceiro de quem falavam”, explica Jardim no material de divulgação concedido à imprensa. “Além disso, havia também questões legais. Poderíamos ou não expor estas pessoas à esta situação? Então, optei por convidar atores. Por isso, Amor? não é um documentário. Nem ficção. É impossível de classificá-lo”.
Pelo menos por enquanto. Não é justificável, ainda que seja tentador, enquadrar Amor? nas concepções vigentes. Em um momento que o documentário cresce como gênero cinematográfico, Amor? vem expandir suas fronteiras. Assim como radicaliza a forma como a ficção se comunica com a realidade. É uma proposta tão inovadora quanto bem vinda. Maravilhosamente executada por João Jardim, um cineasta que – meio sem querer – firmou uma valorosa contribuição para a arte chamada cinema.

Questões cinematográficas - O ano em que fizemos contato

É pontual que uma coluna que se preste a repercutir e a esmiuçar questões intrínsecas ao cinema tenha como pontapé inicial o ano de 1939. O convite para adentrar aos bastidores do ano definidor do cinema foi feito pelo leitor Rodrigo Mendes. E não foi um convite despropositado. Foi em 1939 que o cinema americano se estabeleceu comercialmente e excedeu-se como arte representativa. Foi o ano de E o vento levou (Gone with the Wind), O mágico de Oz (The wizard of Oz), No tempo das diligências (Stagecoach), O morro dos ventos uivantes (Wuthering Heights), A mulher faz o homem (Mr. Smith goes to Washington), Vitória amarga (Dark victory), Ninotchka (Ninotchka), Sangue de artista (Babes in arms), Carícia fatal (Of mice and men), Anjos sem asas (Only angels have wings) e Adeus Mr. Chips (Goodbey, Mr. Chips).
Com esses lançamentos, no ano que ficou conhecido como o melhor da história do cinema, Hollywood alinhou gêneros e métodos de produção. O épico romântico, na figura de E o vento levou, encontraria um par em expressão quase 60 anos depois (o Titanic de James Cameron), mas no ínterim um sem número de produções se fiaram na lógica do clássico em technicolor produzido por David O. Selznick.
John Ford já tinha um Oscar quando rodou No tempo das diligências, um western seminal, ainda que o gênero – e Ford debruçado sobre ele – já tivessem sido levados a tela grande. No tempo das diligências alavancou a mitológica figura de John Wayne e referendou Ford como autor mor do western americano. O sucesso de bilheteria do filme impulsionou a produção de westerns que se daria na década seguinte e ajudou a patentear o gênero como o mais célebre da cinematografia daquele país. Howard Hawks é outro cineasta que transitou maravilhosamente bem pelo western, mas em 1939 sua contribuição foi em outra seara. Anjos sem asas impressionou o mundo com seus efeitos especiais, as cenas de vôo realistas e a força do carisma de Cary Grant.
Em 1939, o cinema americano patenteou alguns gêneros. Frank Capra envernizou o cinema político com A mulher faz o homem, em que James Stewart resiste a tornar-se uma marionete de seu partido. Carícia fatal foi um dos primeiros filmes a chegar ao Oscar valendo-se de histórias de pessoas deficientes. Hoje, sabe-se que filmes com esse contexto são favoritos da academia. Foi nesse ano que surgiram os primeiros filmes alinhados pelo estúdio à proeminência de algumas de suas estrelas. Essa era a ideia por trás de Sangue de artista. Judy Garland (a estrela em evidência) e Mickey Rooney ajudaram a tornar esse musical um dos grandes sucessos da década.



Consolidação de gêneros

Adaptações literárias tornaram-se referência em Hollywood. O mágico de Oz e O morro dos ventos uivantes foram produções conturbadas, mas que se transformaram em filmes cultuados, ainda que não tenham rendido muito nas bilheterias. Os dois filmes são lembrados como clássicos destacados dentro da cinematografia americana. O mágico de Oz viabilizou a fantasia como um gênero a ser explorado no cinema sem pudores. Ainda hoje a história da menina Dorothy em Oz reverbera como vanguarda e inspiração para os realizadores de obras como Harry Potter e O senhor dos anéis.
Adeus Mr. Chips é o filme homenagem, outro expoente hollywoodiano que em 1939 se cristalizou. A fita, construída em flashbacks, narra a trajetória de um professor pelos anos de sua vida.
Também estavam em ebulição as cinematografias japonesa, francesa, espanhola e italiana. Jean Renoir filmou o seu Regras do jogo, uma análise cínica sobre a sociedade francesa às vésperas da segunda guerra mundial.
Como pode se ver ao rememorar essas obras, o cinema, em sua essência, pouco mudou. Houve evolução notável em diversos campos. Contudo, os interesses em termos de dramaturgia e as maneiras de lhe dar viço foram delimitados ali. Em 1939. O ano em que fizemos contato.

Volta para casa: o clássico O Mágico de Oz é um dos 10 filmes mais importantes da história segundo o AFI (American Film Institutue)

sábado, 16 de abril de 2011

Cantinho do DVD

Eli Roth surgiu com um filme de nome impactante e ação não menos chocante. Cabana do inferno (2003) é o legítimo BBB. Bom, bonito e barato. Quentin Tarantino, que adorou o filme, resolveu bancar o garoto na sua próxima brincadeira. Surgia O albergue, que elevou o tom de sadismo encontrado em filmes como Jogos mortais. A brincadeira deu caldo e Roth rodou uma sequência dois anos depois. O primeiro filme é o destaque desta semana de Cantinho do DVD. Em tempo, Roth – que já atuou como um dos bastardos de Tarantino em Bastardos inglórios – produz simultaneamente dez filmes de terror de novos diretores. É Tarantino fazendo escola ou o Roth é apenas um sádico desenfreado? A crítica a seguir:




Crítica *
Sangue é o que mais tem em O albergue (Hostel, EUA 2005), novo filme de Eli Roth, realizador apadrinhado por Quentin Tarantino que ajudou na distribuição do filme. Além do sangue, há bastante nudez também nesse filme que segue os cânones do cinema de terror, mas radicaliza a experiência com doses cavalares de sadismo. Tudo é gráfico em O albergue. Desde a proposta, até as cenas de tortura e mutilação explícitas. Roth vem engrossar, com acuidade visual, uma nova tendência no gênero. A da pornografia gore, aventada com o sucesso da cinesérie Jogos mortais. É uma fase. Uma fase mais sanguinolenta e visual do que a dos terrores nipônicos, febre anterior do gênero nos EUA.
Grupo de jovens mochileiros vai a Eslováquia em busca de sexo e acaba virando presa de uma organização que oferece um peculiar serviço ao mercado de luxo dos ricos e poderosos: a possibilidade de sodomizar, torturar e matar pessoas. Turistas jovens e maloqueiros, por razões óbvias, são a matéria prima dessa organização que opera nas sombras. Não espere verossimilhança de Eli Roth, mas espere tensão elevada, requinte visual e muito deboche, de um diretor que se esmera em Tarantino na concepção visual e nos diálogos de seus personagens. Se prepare para ver carótidas jorrando ketchup...


*Crítica escrita à época do lançamento do filme

"Saúde do mercado de cinema"

Vai ter Nicolas Sarkozy e sua patroa, a primeira dama Carla Bruni. Vai ter Jack Sparrow e Sean Penn em dose dupla. Penélope Cruz também aparecerá. Assim como os diretores mais importantes de sua carreira: Pedro Almodóvar e Woody Allen. O melhor cineasta do mundo também exibirá seu novo trabalho. O dinamarquês Lars Von Trier, que se autodefiniu o melhor cineasta do planeta, apresentará em Cannes a ficção existencialista Melancholia. Mas não é só. As mulheres vão em peso a croisette. Jodie Foster exibirá o seu Um novo despertar fora de competição. Na briga pela Palma de ouro estará a escocesa Lynne Ransay com We need to talk about Kevin, um filme que acompanha um casal que começa a desconfiar dos instintos de seu filho. John C. Reilly e Tilda Swinton estrelam. Outra diretora em que repousam grandes expectativas é a australiana Julia Leigh. Em sua estréia, ela dirige a também australiana Emily Browning (Suker Punch) em Sleeping beauty. Um filme anunciado como uma mistura de fantasia e realidade. Genérico, mas curioso.

O mundo a seus pés: Com Lars Von Trier na programação, é certo que teremos declarações polêmicas na riviera francesa em 2011



O organizador do Festival de Cannes, Thierry Fremaux ao anunciar os 20 concorrentes a Palma de ouro declarou que a seleção de 2011 é um “testemunho da saúde do mercado cinematográfico”. Segundo Fremaux, a inclusão de cineastas prestigiados como Terence Malick (que exibe o aguardado A árvore da vida, prometido para a edição do ano passado), dos irmãos Dardenne, com The kid with the bike e do italiano Nanni Moretti com Habemus papam, ratificam a posição de pulmão cinematográfico de Cannes.
O evento também abrigará a premiere internacional de Piratas do Caribe: navegando em águas misteriosas, honrando outra tradição recente da riviera francesa: ser palco de grandes lançamentos hollywoodianos. Indiana Jones, Kang Fu Panda, Wall street: o dinheiro nunca dorme e Robin Hood foram alguns dos grandes filmes americanos a terem Cannes como plataforma de lançamento.


Os irmãos Dardenne, duas vezes premiados em Cannes, voltam este ano com The kid with the bike


Idiossincrasias

Carla Bruni talvez desfile sua beleza pela croisette. Já a presença de seu marido, o presidente francês só é certa no documentário de Xavier Durringer (La Conquetê), uma crítica voraz a administração Sarkozy. Sean Penn é outra figura muito querida em Cannes. Em 2010, embora no elenco do concorrente Jogo de poder, Penn não compareceu ao festival por estar envolvido com os esforços humanitários no Haiti. Em 2011, Fremaux, ainda que involuntariamente, conferiu duas razões para o ator americano dar as caras. A primeira é o aguardado A árvore da vida em que Penn protagoniza como um homem que busca sentido para a vida. O segundo é This must be the place, do italiano Paolo Sorrentino (em seu primeiro filme internacional), em que o ex de Madonna aparece de batom, cabelos longos e vive um roqueiro em busca de redenção.
Pedro Almodóvar, segundo relatos de bastidores, não queria exibir seu A pele que eu habito em competição. A edição da fita teria sido apressada e Almodóvar estaria prevendo polêmicas acerca de uma cena indigesta. O thriller de terror que reúne o diretor espanhol a Antônio Banderas, no entanto, é o filme que desperta mais expectativas nesse momento.

Um Almodóvar para incomodar muita gente: A pele que eu habito reúne o diretor e Antônio Banderas duas décadas depois de Ata-me



Outros filmes aguardados e que não entraram no line up de Cannes foram On the road, de Walter Salles, The grand master, de Wong Kar Wai e A dangerous Method, de David Cronenberg. Esses filmes, provavelmente, irão compor a mostra oficial de Veneza em setembro.
Na mostra Um certo olhar, o grande destaque recai sobre o novo drama independente de Gus Vant Sant, Restless. Para o Brasil, o interesse aponta para Trabalhar cansa, longa de Juliana Rojas e Marco Dutra. A dupla já esteve em Cannes antes competindo com curtas metragens.
É inegável que a edição de 2011 parece mais inspirada que a de 2010. Diretores de prestígio, produções comentadas com larga antecedência e uma seleção de personalidades cativante. Cannes pode até não cumprir as expectativas que suscita, mas o júri que será presidido por Robert De Niro terá algumas reticências a preencher.



Competição pela Palma de ouro:

A pele que eu habito, de Pedro Almodóvar
L´Apollonide, de Betrand Bonello
Foot note, de Joseph Cedar
Pater, de Alain Cavalier
The kid with the bike, de Jean-Pierre e Luc Dardenne
Hearat Shulayin, de Joseph Cedar
La Havre, de Aki Kaurismäki
Hanezu no Tsuki, de Naomi Kawase
Sleeping beauty, de Julie Leigh
Polisse, de Maiwenn
La source des femmes, de Radu Mihaileanu
Ichimei, de Takashi Miike
Habemus papam, de Nani Moretti
We need to talk about Kevin, de Lynne Ramsay
Michael, de Markus Schleinzer
This must be the place, de Paolo Sorrentino
Melancholia, de Lars Von Trier
Drive, de Nicolas Winding Refn
Once upon a time in a Annapolia, de Nuri Bilgen Ceylan
A árvore da vida, de Terence Malick