segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Retrospectiva 2012 - Os dez melhores filmes do ano


Foi um bom ano. O balanço final da temporada 2012 é muito positivo. No entanto, dos dez filmes que integram o TOP 10 de Claquete, seis são lançamentos originais de 2011 que só chegaram em telas brasileiras este ano. A predominância das produções de 2011 na lista, no entanto, é mais sintoma das estratégias dos estúdios de concentrarem os chamados lançamentos de Oscar no início do ano seguinte. Outro aspecto que chama a atenção é a ausência de blockbusters no Top 10. Há, na verdade, um. Mas é um blockbuster que traz consigo o elemento surpresa. Com os aguardados lançamentos de Batman e 007, não se poderia esperar que uma comédia com um ursinho falante conseguisse roubar destes filmes uma vaga no top 10. Em parte pela decepção de muitos lançamentos aguardados e em parte por uma safra adulta de filmes independentes fortes e pulsantes, o top 10 dos melhores filmes de 2012 é bastante diverso e multifacetado. Há uma produção argentina, uma francesa, uma iraniana e duas inglesas. Quatro produções americanas e outra coproduzida com o Canadá. Diretores consagrados como David Fincher e David Cronenberg marcam presença na lista, mas dividem espaço com nomes ainda em consolidação como Steve McQueen, Michel Hazanavicius e Nicholas Jarecki.
Filmes que apostaram em uma estética ousada e em uma renovação da linguagem cinematográfica como A separação, Precisamos falar sobre o Kevin e Shame marcam presença na lista. Filmes bem realizados e com propostas revisionistas sobre suas referências, como O artista e Um método perigoso, também se destacam.
Sem mais delongas, os dez melhores filmes lançados comercialmente no Brasil na avaliação de Claquete:

10 – A separação (Jodaeiye Nader az Simin, Irã 2011), de Asgar Farhadi

A inteligente e impactante fita de Asghar Farhadi tem o mérito de ser, ao mesmo tempo, universal sobre conflitos essencialmente humanos e particular da realidade iraniana. Não é uma equação fácil, mas que Farhadi com os préstimos de seu excelente par de protagonistas (Peyman Maadi e Leila Hatami) alcança com um trabalho pulsante, em suas formulações narrativas, e angustiante, em suas resoluções dramáticas. Um testamento da força do cinema de ideias.



 9 – O artista (The artist, EUA/FRA 2011), de Michel Hazanavicius
Mudo, em preto e branco e sobre o cinema mudo e em preto e branco. O artista se esmera na nostalgia e na metalinguagem para proporcionar uma das grandes experiências cinematográficas do ano. Um filme que nasceu para ser visto no cinema por uma geração que não viveu na época retratada pelo filme de Michel Hazanavicius. Encantador e emocionante, o maior mérito de O artista é desarmar expectativas e cativar com sua genuína presença de espírito.



 8 – A negociação (Arbitrage, EUA 2012), de Nicholas Jarecki
Wall Street continua rendendo grandes dividendos cinematográficos. Mas A negociação é mais do que uma investigação da vida de ricos e poderosos. É um estudo algo vertiginoso de um homem que não sabe que está no limite até ultrapassá-lo. Richard Gere, vivendo um magnata das finanças em queda livre rumo à desgraça, tem o melhor momento de sua longeva carreira neste filme que merece ser descoberto.



7 – Elefante branco (Elefante blanco, ARG/ESP 2012), de Pablo Trapero
O cinema argentino parece favorecido por uma espécie de cota no TOP 10 do ano de Claquete. Trata-se apenas de uma impressão. O vigor do cinema portenho se confirma perene a cada ano. Pablo Trapero, um dos expoentes dessa cinematografia, volta a provocar palpitações com um drama tenso e poético sobre a violência nas favelas do país e, ainda, sobre a crise da fé. Da instituição igreja e também do homem que a move. 


6 – Procura-se um amigo para o fim do mundo (Seeking a friend for the ende of the world, EUA 2012), de Lorene Scafaria
A melancolia não seria a matéria prima ideal para uma comédia romântica. Mas esse precioso filme da diretora Lorene Scafaria não é uma comédia convencional. Com o apocalipse como pano de fundo, Procura-se um amigo para o fim do mundo fala sobre o poder transformador do amor. E o faz de maneira cativante e sensível. Um filme agridoce que faz do final triste, feliz e que nos desperta o desejo de amar, amar, amar!


5 – Um método perigoso (A dangerous method, EUA/CAN 2011), de David Cronenberg
Um Cronenberg verborrágico que mergulha nas entranhas da psicanálise, chancela Freud e se maravilha com a humanidade de Jung. O filme acompanha a formação de uma triangulação intelectual que se mostrou fundamental para o estabelecimento da psicologia moderna e o faz de maneira inteligente, despudorada e muito sofisticada.



4 – Ted (EUA 2012), de Seth MacFarlane
A comédia do ano é também um dos filmes mais originais e inteligentes produzidos no mainstream hollywoodiano nos últimos tempos. Mas de tão divertido, poucos notam essa condição. O filme do ursinho maconheiro e desbocado é uma crítica atroz a seu próprio público em um dos exercícios de metalinguagem mais bem feitos de todo o sempre e que demonstra que Seth MacFarlane, mais do que um legítimo entertainer, é alguém que tem algo dizer e sabe fazê-lo de maneira criativa.



3 – Precisamos falar sobre o Kevin (We need to talk about Kevin, ING 2011), de Lynne Ramsay
Com uma narrativa engenhosa e algo inquietante, Ramsay conduz uma trama de vertigem emocional e não poupa seu público das dúvidas. Sem respostas fáceis, esse drama sobre a relação de uma mãe e seu filho, que virá a ser o responsável por uma chacina em uma escola, se ergue sobre as vultosas sombras e incertezas da existência humana. Investigativo, doloroso, contínuo e sublime. Precisamos falar sobre o Kevin é daqueles filmes que se perpetuam em nossa memória. Muito pelo tema ruidoso, mas principalmente pela excelência com que é tratado pela obra.



2- Os homens que não amavam as mulheres (Millennium – The girl with the dragon tattoo EUA 2011), de David Fincher
David Fincher fez um trabalho tão minucioso e grave que o frio sueco é palpável para o espectador. Mas esse não é o maior mérito da versão americana do best seller que abre a trilogia Millennium. Fincher sublinha os conflitos dos personagens principais (Mikael e Lisbeth), e a complexa relação que eles desenvolvem entre si, e faz destes o carro chefe da trama e não o instigante caso que move a narrativa. Um movimento que acresce profundidade ao filme que, independentemente disso, se configura também em entretenimento inteligente e refinado.


1- Shame (ING 2011), de Steve McQueen
Eis um filme que agrega ousadia estética à relevância dramática. Renunciando qualquer academicismo e usando o corpo de Michael Fassbender como um discurso artesanal, valendo-se muito de sua experiência como artista plástico, McQueen realiza um filme impactante sobre a superficialidade das relações interpessoais nos tempos modernos. Do maniqueísmo de nossas ações ao egoísmo de nossas reações, Shame concentra sua munição no mundo de Brandon, um homem viciado em sexo que no curso do filme toma ciência da gravidade de seu quadro.
Uma obra demolidora, pulsante e artisticamente atraente destinada ao culto, mas também uma radiografia inequívoca de nosso tempo.


4 comentários:

  1. Realmente, uma bela lista, Reinaldo. Não vi dois ainda dessa lista, A Negociação, e Precisamos falar sobre o Kevin (esse é uma vergonha não ter visto ainda, eu sei, hehehe). E o único que não citaria entre os melhores de 2012 seria Um método perigoso, que me incomodou um pouco. Mas, no geral foi mesmo um ano fértil. Ted é sem dúvidas uma ótima surpresa.

    grande beijo e um ótimo 2013.

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  2. Fala Reinaldo!
    Mais um ano, mais uma boa lista.
    Publiquei a minha no facebook no meio do mês, agora tbm passei pro meu blog. Dá uma olhada. Assim como a sua tem muitos de 2011 q só chegaram aqui esse ano.
    http://cambioedesligo.blogspot.com.br/

    Preciso ver "A Negociação", principalmente pela Brit Marling...hehe

    Grande abraço, ótimo ano novo!

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  3. É complicado fazer listas meu caro, ainda mais em um ano tão bom cinematograficamente falando. As estratégias dos estúdios de segurarem suas fitas é de lei! Ótima lista, gostei. Incluir James Bond e o Batman seria lugar comum, rs Ainda preciso conferir "Elefante Branco", estou em dívida com Trapero e acredite se quiser, outro do Cronenberg, "Cosmópolis"!

    Um próspero 2013 (que certamente terá filmaços!)

    Abraços.

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  4. Beleza de lista! =D
    E "A Negociação" chegou nos 45 do segundo tempo e já emplacando presença no Top 10! [/galvaovoice]. Também gostei do thriller e Richard Gere está em sua melhor forma.
    Fizemos 2/10, um número baixo, mas aí é que está: é ótimo termos visões diferentes acercas das obras. É isso o que vale! Gostei muito das presenças de "Ted" e o ótimo "Elefante Branco". Hehe, cota para os argentinos rs. "Abutres" estava aqui ano passado também, né? Cota para Trapero! =P


    Esse ano foi realmente muito prazeroso de ir ao cinema. Que 2013 seja ainda melhor! o/

    Feliz anovo pra vc, meu grande amigo. Tudo de bom! ^^

    Abs.

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