sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Crítica - Sem saída

Eficiente!

É preciso dizer que Sem saída (Abduction, EUA 2011) é um filme de ação como outro qualquer. O fato de ter Taylor Lautner, ao invés de Jason Statham, é verdade, muda um pouco o status da coisa. O neo astro de Crepúsculo estrela seu primeiro filme solo e com o nome no topo do cartaz. Ao seu lado, coadjuvantes de luxo como Alfred Molina, Sigourney Weaver, Jason Isaacs e Maria Bello e atrás das câmeras, um diretor de notável trânsito no gênero, John Singleton. Tudo isso maquinado pelo estúdio Lionsgate com vistas a capitalizar em cima do ator que melhor rendeu nos três primeiros filmes baseados nos livros de Stephenie Meyer. Lautner, com uma atenção maior sobre ele, não confirma grandes expectativas. Aos 19 anos, ainda tem muito que aprender em matéria de atuação. Mas carisma e energia, o ator tem de sobra. Algo que tem faltado a seus colegas de Crepúsculo em seus projetos solo. Essa vantagem, Lautner ostenta com folga.
Em Sem saída, ele vive Nathan. Um jovem que vai bem nos esportes e goza de relativa popularidade em sua escola. O mundo de Nathan vira de cabeça para baixo depois que ele vê uma foto sua em um site de crianças desaparecidas. Ele e seu interesse romântico (a filha de Phill Collins, Lilly) então se vêem no meio de um jogo cruzado entre terroristas, CIA e agentes free lancers. A história é tão absurda quanto divertida e Lautner distribui sopapos nesse mesmo ritmo.
Singleton, apesar da trama que faz lembrar filmes como os da série Bourne, não esconde o jeitão de filme B que reveste o DNA de Sem saída. Apesar do marketing maciço, Sem saída é apenas uma boa fita de ação. Tem seus furos, suas boas cenas, sua dose de absurdo e tudo o mais. Para o bem e para o mal, tem Taylor Lautner também.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Crítica - Confiar

História bem contada!


Pode causar estranheza em um primeiro momento o nome de David Schwimmer na direção de um drama pesado sobre pedofilia. Em sua segunda incursão na direção, o eterno Ross de Friends mostra vigor e cálculo no desenvolvimento de uma história tensa e dramática. Confiar (Trust, EUA 2010), além de abordar as cruezas da pedofilia, estipula uma das grandes dificuldades da modernidade no tocante à educação dos filhos: como, e em que nível, controlar o que seus filhos fazem na internet?
Em Confiar, Annie (Liana Liberato), filha do meio do casal Cameron, de 14 anos, se vê embrenhada em uma espiral de sedução por um maníaco sexual. A internet tem função facilitadora nesse aspecto. Schwimmer, e o roteiro de Andy Bellin, são hábeis em delimitar todos os níveis dessa relação. Assim como brilhantemente mapeiam as consequências dessa ação hedionda.
O pai (vivido com intensidade e apelo por Clive Owen) sucumbe a uma raiva profunda, enquanto a mãe (Catherine Keener, minimalista) busca se aproximar da filha cada vez mais distante.

Cena de Confiar: inocência interrompida e rotina familiar transformada...


O mais interessante em Confiar talvez seja sua vocação para abraçar o contraditório. Em uma cena, quando o personagem de Owen explica a tragédia ocorrida com sua filha para o sócio, este se sente aliviado quando Owen menciona que a relação sexual foi com alguém que ela conheceu na internet e que o ataque não foi tão “inusitado”. Em outra, os pais se desesperam ao tomar consciência do nível de intimidade que sua filha demonstrava com seu agressor nos chats online.
Confiar é um drama muito bem urdido em suas bifurcações. Schwimmer demonstra segurança em suas escolhas e confia plenamente em um grupo de atores tão cativantes quanto competentes. O desfecho do filme, em sua catarse controlada, deixa o espectador em suspensão. A perda da inocência é tão assustadora quanto a constatação de que lobos em pele de cordeiro andam entre nós.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Tira-teima: Hugh Jackman X Mel Gibson

Dois dos grandes astros do cinema que a Austrália exportou para Hollywood se enfrentam no Tira-teima deste mês no blog. Assim como a conterrânea Nicole Kidman, Gibson nasceu em território americano, mas naturalizou-se australiano e passou a infância naquele país. Já Jackman é 100% australiano. Essas e outras diferenças (e algumas similaridades) pautam o Tira-teima.




 
Como chegou a Hollywood


Mel Gibson: Estourou na fita independente australiana Mad Max que se tornou sucesso nos EUA e virou um action star na mesma época em que Bruce Willis, Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger dominavam o gênero.

Hugh Jackman: Depois de interpretar um pai abusivo e violento no independente australiano Erskineville kings (1999), Jackman aterrissou em uma das produções mais aguardadas e comentadas do ano 2000. Após Dougray Scott se machucar durante as filmagens de Missão Impossível 2, o ator – que também é australiano – teve de cancelar sua participação em X-men: o filme. Jackman foi testado e contratado para viver o personagem que lhe valeria a fama: Wolverine


A percepção do público


Mel Gibson tornou-se um ás hollywoodiano. Junto com Julia Roberts, Tom Cruise e Arnold Schwarzenegger sagrou-se um dos astros capilares de uma indústria que se ergueu e solidificou-se sobre eles. É um potente catalisador de público que o tem como leading man eficiente em variados gêneros. Nos últimos anos, sua imagem foi desgastada por inúmeros escândalos envolvendo desde intolerância religiosa até violência doméstica.


Hugh Jackman é considerado um ator de fibra com forte apelo em produções de ação. Mas já foi aprovado em comédias românticas e thrillers que não envolvam gente se socando. Já se provou capaz de atrair público mesmo fora da franquia mutante.


A relação com os jornalistas


Gibson é tido como um “entrevistado bipolar”. Há relatos de entrevistas maravilhosas com um astro afável e atencioso e entrevistas terríveis com um astro egocêntrico e arrogante. Ultimamente, Gibson tem sido mais cordial no trato com jornalistas.

Um gentleman. Essa é a percepção dominante em relação ao australiano que já esteve duas vezes no Brasil e já se declarou ser fã do ex-jogador de futebol Ronaldo. Atencioso, lisonjeiro e bastante simpático, Jackman agrada jornalistas de todas as nacionalidades.



Grande feito cinematográfico


Mel Gibson tem história. Isso é inegável. Vencedor de dois Oscars por Coração Valente (filme e direção), Gibson conseguiu algo ainda mais notável. Seu terceiro filme como diretor, A paixão de Cristo, tornou-se o filme independente de maior arrecadação na história do cinema. Rodado com U$ 25 milhões, a fita rendeu mais de U$ 800 milhões mundialmente. Em termos proporcionais, o primeiro Atividade paranormal superaria o feito do filme de Gibson anos mais tarde, mas sem causar o mesmo impacto.


Muito do sucesso da primeira trilogia mutante passa por Hugh Jackman. O ator é o grande fiador dos filmes.


O toque de Midas


Ter recebido cachê de U$ 25 milhões por mais de quatro filmes demonstra que Gibson tinha aquele qzinho que levava o público aos cinemas. O ator é capaz de transformar filmes pouco sofisticados como O preço de um resgate e O fim da escuridão em filmes mais impactantes do que se poderia supor.

Além de viabilizar um spin off de X-men, que não deu tão certo, Jackman conseguiu – em um mesmo ano – consagrar três filmes como sucessos de bilheteria. Em 2006, ele ainda deu vez ao cinema independente com Scoop – o grande furo e A fonte da vida.

Ainda por cima, Jackman é um showman nato. Com trânsito pela Broadway, o ator já apresentou o Tony (prêmio máximo do teatro) e foi o host mais elogiado dos últimos anos no Oscar.


As bilheterias


Os filmes estrelados por Mel Gibson já renderam mais de U$ 2 bilhões nas bilheterias. Uma bela estatística para se ostentar. Ultimamente, no entanto, o ator não tem mantido seu “mojo”. Seu último filme, Um novo despertar- ainda que seja uma fita independente- amargou uma bilheteria ruim até mesmo para produções desse perfil.

O primeiro grande teste de Jackman foi Van Helsing – o caçador de monstros. Embora a fita tenha se tornado um sucesso, não teve a envergadura financeira que era esperada. Fora dos filmes mutantes, o ator só esteve a frente de produções de médio porte e não fez feio. Mas as derrapadas vêm ficando mais constantes. Desde A lista – você está livre hoje?, primeiro filme produzido por Jackman, até os recentes Austrália e X-men origens: Wolverine, o ator tem colecionado flops.


Versatilidade


Gibson é o tipo de ator que se sai bem no drama, na comédia, no suspense ou em filmes de ação. Ainda que predomine neste último, o ator já se mostrou auto suficiente em todos os gêneros cinematográficos.

Jackman não se experimentou muito fora da ação, mas quando o fez foi bem sucedido como na comédia romântica Alguém como você.



Há dez anos...
Após um 2000 cheio de sucessos (O patriota e Do que as mulheres gostam), Gibson passou 2001 gravando duas produções bastante diferentes (Fomos heróis e Sinais) que seriam lançados no ano seguinte.


Depois de um 2000 dos sonhos, 2001 foi um ano de muito trabalho para Jackman. O ator lançou três filmes (A senha:swordfish, Kate & Leopold e Alguém como você) e retornou aos sets para reviver Wolverine na sequência do filme que lhe deu fama.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Momento Claquete # 21

Kristen Stewart em um editorial de moda da revista W 


 Meryl Streep surge no mais recente cartaz de The iron lady, filme que pode lhe render mais uma indicação ao Oscar


A revista Entertainment Weekly dessa semana revelou a primeira foto do elenco de Dark Shadows, filme de vampiro de Tim Burton. A produção, que conta com Evan Green, Chloe Grace-Moretz, Jackie Earle Haley, Michelle Pfeiffer, Jonny Lee Miller, além de Johnny Depp e Helena Bonhan Carter, estréia em 11 de maio de 2012 


Michelle Williams além de viver Marlyin Monroe no filme My week with Marlyin - que abre o festival de Nova Iorque em outubro - também encarnou a diva maior de Hollywood em um editorial para a Vogue americana 


Seth Rogen, Anna Kendrick e Joseph Gordon Levitt compareceram , na última segunda-feira, à premiere nova iorquina de 50/50, dramédia que a trinca estrela e que estréia na próxima sexta-feira nos EUA


 Leonardo Di Caprio, que em breve estreará J.Edgar nos cinemas, estampa a capa da edição de outubro da revista americana GQ...


...e seu parceiro de cena, Armie Hammer, é saudado na capa da Details de outubro como o novo príncipe encantado de Holywood.

domingo, 25 de setembro de 2011

Insight

Por que Tropa de elite 2 é o filme certo na hora errada?



A pergunta é mesmo capciosa. Pelo terceiro ano seguido, a escolha do representante brasileiro para pleitear uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro é alvo de questionamentos e contestações em uma seção Insight do blog. Em 2007, o primeiro Tropa de elite foi negligenciado em favor de O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer. O filme que relacionava ditadura e futebol com o tempero do olhar de uma criança, segundo a comissão responsável pela indicação do representante brasileiro, era mais “coerente” com as demandas do restrito, e de idade avançada, colegiado responsável pela escolha dos filmes estrangeiros na disputa pelo Oscar. Fato é que, enquanto O ano em que meus pais saíram de férias já era carta fora do baralho, o primeiro Tropa ganhava em Berlim o Urso de ouro. Aquele filme, considerado pelo editor de Claquete como melhor lançamento em cinema do ano de 2007, era muito superior ao filme que bateu todos os recordes possíveis e imagináveis em 2010. Mas não era uma unanimidade. Sofreu patrulhamento ideológico, o ápice ocorreu na premiere da fita no festival do Rio, e foi acusado de ser fascista e fazer apologia a um estado policial. Leviandades que foram desarmadas quando o júri presidido pelo cineasta de esquerda Costas Gravas outorgou o prêmio máximo ao filme de José Padilha em Berlim.
Tropa de elite 2 – o inimigo agora é outro foi recebido sob os acordes da unanimidade crítica e do acolhimento popular. A fita apresentava Nascimento (o herói popular consagrado no primeiro filme e que gerou neologismos como “Rambo da classe média”) alinhado a políticas tomadas como de esquerda. O processo de amadurecimento do personagem que foi abraçado pela audiência tinha gosto de mea culpa da realização por, no filme anterior, responsabilizar diretamente a classe média por algumas das mais itinerantes mazelas de seu cotidiano.
Tropa de elite 2 é ótimo cinema. Mas é também uma tentativa de diálogo com um público mais amplo e diversificado. É, em última análise, uma obra que busca – antes da catarse - a reflexão. Isso tudo está mais delimitado no segundo filme do que no primeiro. É um filme pensado para ser mais universal – ainda que trate de um contexto essencialmente carioca.
A escolha de Tropa de elite 2 para representar o Brasil no Oscar 2012 permite ilações divergentes. A primeira diz respeito à própria produção cinematográfica atual. É fato que o Brasil avança no ritmo de produção em escala industrial. Em 2011 estrearam comédias, romances, comédias que flertam com ficção científica, filmes experimentais, dramas, filmes de ação, etc. Mas ainda falta ao cinema nacional inventividade. Isso se reflete na percepção da comissão julgadora responsável por apontar o filme que irá representar o Brasil na briga pelo Oscar. Existe a preocupação em antecipar os parâmetros do colegiado que escolherá os indicados (e buscar um filme estreado em 2010 só reforça essa condição). E mesmo sob essa orientação a falta de imaginação é incrível.
Tropa de elite 2 é um filme que faz muito sentido dentro da lógica brasileira. Assim como o primeiro Tropa. Mas os americanos já fazem filmes sobre corrupção policial há muito tempo. A categoria de filme estrangeiro tem se mostrado pouco receptiva a produções erigidas sob tal temática. Veja os filmes que despontam como favoritos este ano. O libanês Where do we go now? foi escolhido pelo júri popular do último festival de Toronto como o melhor do evento. A trama, uma comédia farsesca, versa sobre mulheres e seus planos para manterem seus maridos longe da guerra. A escolha francesa, La guerre est déclarée, versa sobre um casal às voltas com a batalha contra um tumor cerebral que vitima o filho A Alemanha escolheu Pina, documentário em 3D de Wim Wenders sobre a vida e obra da coreógrafa alemã Pina Bausch para representar o país. A Finlândia elegeu Le Havre, sobre um boêmio que ajuda um menino imigrante da África a se esconder na França, como o representante do país.
Um filme que se valesse mais de metáforas e fosse mais sutil na articulação de suas idéias, como Trabalhar cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas, (que já participou de festivais internacionais) ou Meu país, de André Ristum, talvez fossem escolhas mais consonantes com os rumos da produção internacional que, no final das contas, representam o parâmetro que a própria produção nacional tem como objetivo.
Tropa de elite 2 é o filme certo para alavancar a produção cinematográfica no país, instaurar o debate sobre mecanismos de distribuição e até mesmo sobre o impacto de produções politizadas no âmbito sócio-cultural, mas não é o filme que valerá ao Brasil seu primeiro Oscar.

sábado, 24 de setembro de 2011

Cantinho do DVD

Existem filmes que parecem ficções científicas e acabam se revelando comédias. Outros, descritos como filmes de guerra, são na verdade dramas viscerais. Acima de qualquer suspeita é um remake de um drama sublime do grande Fritz Lang. Na releitura virou um drama de tribunal raso que se resolve como um filme de mistério muito melhor do que se imaginava possível. Típico caso em que um filme fica melhor pelas opções narrativas do diretor. O que chama a atenção é que Peter Hyams apresenta majoritariamente trabalhos vinculados ao cinema de ação. Por essa soma de fatores, Acima de qualquer suspeita é uma agradável surpresa.




Crítica

Existem remakes que se inferiorizam mediante os filmes originais porque são desnecessários ou porque emulam frivolamente tudo o que já constava do material original, sem avançar conceitualmente ou narrativamente. Não é isso o que acontece com Acima de qualquer suspeita (Beyond a reasonable doubt, EUA 2009), refilmagem do clássico de Fritz Lang Suplício de uma alma (1956). O filme do competente Peter Hyams (Fim dos dias), no entanto, padece de uma ingenuidade que era imperceptível no primeiro filme. Isso porque o direito, ciência social sob a qual o filme se ergue, evoluiu muito e também se tornou mais acessível.
Esse pormenor não faz de Acima de qualquer suspeita um filme equivocado, mas torna a guinada do roteiro que arma o terceiro ato do filme, improvável.
Na fita, o jovem jornalista C.J Nicholas (Jesse Metcalfe) desconfia que o promotor de justiça (Michael Douglas) se vale de artifícios corruptos para obter condenações. Nicholas então, com ajuda de um colega, trama um ardiloso plano para desbaratar o esquema do promotor.
O jornalista assumiria um crime, aparentemente insolúvel, permitindo que a investigação tivesse acesso a provas circunstanciais (produzidas pelo próprio) – que em si não seriam suficientes para um veredicto favorável à acusação – e revelaria a farsa quando ficasse caracterizado que o promotor corrompeu as evidências. O problema é que o colega de Nicholas é assassinado no momento em que a revelação seria feita.
Acima de qualquer suspeita, portanto, excede sua premissa quando já marca 40 minutos de projeção. Até lá, Hyams não esconde em momento algum sua pretensão de brincar com as expectativas da audiência. Desde a cena inicial, o diretor sinaliza que a construção de seu filme tende a jogar com as deduções do público. É ao propor esse jogo, e o delinear com sagacidade narrativa, que Hyams consegue melhorar seu filme. Resolvendo-o como uma trama de mistério quando se pensava ser um drama de tribunal. Dessa perspectiva, a ingenuidade demonstrada na caracterização da promotoria de justiça com ares de máfia torna-se justificável e até mesmo perdoável.
Outro porém do filme é seu protagonista. Apesar de esforçado, Jesse Metcalfe não reúne recursos suficientes para compor um personagem tão tridimensional quanto o seu C.J Nicholas. A sorte de Hyams é contar com Michael Douglas como o promotor corrupto. Douglas, sem muito esforço, prova que certos atores são capazes de desviar nossa atenção das coisas mais óbvias e irritadiças.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Em off

Nesta edição de Em off, novas mudanças no Oscar; um apresentador da pesada (com trocadilho e tudo); as ruivas que dominarão o cinema; o novo capítulo do triângulo Brad Pitt, Jennifer Aniston e Angelina Jolie e o que isso tem a ver com sensacionalismo e por que o primeiro trailer de J.Edgar, novo filme de Clint Eastwood, não empolga.


Lei da mordaça!
Já há algum tempo cinéfilos e observadores da temporada de ouro do cinema observavam que as campanhas, e não os filmes, tornaram-se protagonistas da disputa pelo Oscar. Recepções de gala, eventos promocionais, painéis e todo o tipo de propaganda tomam conta da Oscar season com uma volúpia, aparentemente, incessante. Desde maio deste ano, quando começou a promover alterações regulamentares, a academia vinha sinalizando o interesse em conter essa corrente. Nesta semana, coube ao diretor da instituição, Rick Robertson, as boas novas. Fica estipulada a proibição de eventos promocionais sobre os indicados ao Oscar ou com a participação dos indicados ao Oscar entre o anúncio das indicações e a entrega dos prêmios da academia.
Antes das nomeações, as campanhas seguem liberadas.


Lei da mordaça! II
A primeira reação da indústria foi de espanto. “Como fiscalizar isso?”, indagou o Access Hollywood. “E se Julia Roberts quiser oferecer um jantar particular em homenagem a um amigo indicado?”, perguntou o Los Angeles Times em clara alusão à atuação da estrela na edição do Oscar 2011 em prol da candidatura de Javier Bardem.
É, de fato, difícil equalizar de maneira produtiva e satisfatória uma diligência tão ambígua e contraditória. Mas é inegável que a decisão vem em boa hora. Mais do que em qualquer outra época, as campanhas, mais do que a qualidade dos filmes, ditam o voto dos membros da academia. “O Oscar é sobre excelência cinematográfica, não sobre a melhor estratégia de marketing”.
A novidade também pode ser depreendida como um ataque à figura de Harvey Weinstein, que, no último ano, fez do razoável O discurso do rei o grande vencedor do Oscar.



Uma incógnita mais certa
A escolha de James Franco e Anne Hathaway para apresentar a última edição do Oscar foi contestada por esse blog, que já podia antecipar o equívoco da escolha. O tempo provou que a impressão de Claquete estava certa. E o que dizer sobre Eddie Murphy, a escolha para host da 84ª cerimônia do Oscar? É uma escolha melhor do que a de Franco e Hathaway. Mas não a melhor que se podia fazer. Um ano depois do fiasco da dupla de jovens atores, apresentar o Oscar representará uma pressão ainda maior do que de hábito. Murphy é ótimo comediante, mas seu momento já passou. O filme que estrela ao lado de Ben Stiller, e que Brett Ratner – que produzirá o Oscar do ano que vem – dirige pode alavancar a carreira em queda de Murphy. O ator também andava manchado com a academia por sair no meio da cerimônia de 2007 após ter sido derrotado por Alan Arkin na categoria de ator coadjuvante, em que era favorito por Dreamgirls. Murphy sabia que sua candidatura perdera força por causa de um besteirol que lançara na época dos Oscars (Norbit).
Contudo, Murphy pode mesclar fórmulas bem sucedidas dos últimos anos. É um humorista de fácil identificação, timing certeiro e que já se provou capaz de adaptar-se. É uma incógnita, mas com potencial de certeza.


Ruivas que amamos
Os homens podem preferir as loiras (Cameron Diaz) e as morenas podem até ter os melhores lábios (Angelina Jolie), mas são as ruivas que andam monopolizando as atenções em matéria de talento, sensualidade e beleza. Quatro delas ganham destaque mais do que merecido em Claquete. Ruivíssima, Jessica Chastain é certamente a grande revelação de 2011. Presente em dez lançamentos do ano, ela chamou atenção do público em A árvore da vida, filme que, na verdade, já estava pronto desde 2009. Ela ainda poderá ser vista em The debt, Wilde Salome, Killer JoeThe Texas killing fields, entre outros.
Bryce Dallas Howard já está aí há algum tempo, alterando-se entre a loirice e os fios ruivos por imposição contratual. Mas quando cede à natureza, torna-se muito mais irresistível. Outra que tem se especializado nesse quesito é Emma Stone, que curiosamente irá interpretar no próximo Homem-aranha um papel que foi de Bryce Dallas Howard, em fase loira, no filme de 2007. Emma já se habituou a receber declarações de amor na internet. A última, em tom de brincadeira, foi de Jim Carrey.
Mas a ruiva mais irresistivelmente ruiva de todas é Christina Hendricks. Altiva em Mad men, onde faz a mulher mais charmosa e respeitada da série, Hendricks não precisa se esforçar para ser sexy.

Jessica Chastain é o nome ruivo de 2011 


Bryce Dallas Howard tem DNA hollywoodiano e puxou a "ruivice" do pai diretor de cinema Ron Howard 


Christina Hendricks é puro charme em Mad men 


Emma Stone já se habituou a receber declarações de amor pela internet e deve receber mais depois de Homem-aranha



Enlatado dramático
É inegável que J.Edgar é um dos filmes mais aguardados da temporada de premiações. Essa condição se consolidou ainda mais pelo fato do festival de Toronto não ter disparado nenhum favorito absoluto ao Oscar. Mas o primeiro trailer do filme não permite muito otimismo. J.Edgar surge, em sua primeira peça promocional, como um produto acadêmico, cheio de cálculo e conduzido dentro de uma receita certeira de Oscar. Tal qual filmes como O aviador e Milk – a voa da igualdade. Não obstante, J. Edgar divide com este último filme o roteirista Dustin Lance Black. Como Clint Eastwood é clássico e acadêmico sem esforço, não dá para dizer que essa foi uma orientação da produção. A estratégia é do marketing que tenta garfar um buzz de Oscar antes mesmo de o filme começar a ser visto.
Mas com Clint Eastwood, que prima pela excelência narrativa e dramática, é difícil crer que às pretensões a prêmios tenham prevalecido às artísticas.






Declaração infeliz potencializada

Brad Pitt, que neste fim de semana estréia nos EUA o elogiado drama Moneyball, estampou a capa de duas revistas em virtude desse lançamento. Na Entertainment Weekly e na Parade, Pitt fez revisões de sua carreira e falou sobre aspectos de sua vida pessoal. Foi uma declaração em particular que circulou com voracidade ímpar. O ator disse que “vivia uma vida desinteressante” com Jennifer Aniston. É fato que Pitt foi deselegante. Mas ele não objetivou ofender a memória do que viveu com Aniston, muito menos ofendê-la. Seu desabafo foi tirado de contexto na forma como foi veiculado na mídia que repercutiu essa declaração em particular.
O ator apenas elaborava sobre seu estado de espírito em um casamento em que se sentia apenas “celebridade”. Isso era algo que ele estava vivenciado. Quem nunca se sentiu desmotivado em uma relação amorosa? Foi isso que Pitt tentou, ainda que de maneira desarticulada, exprimir. Não conseguiu consertar o “deslize comportamental” nem mesmo com a nota à imprensa que liberou no dia seguinte à veiculação da notícia.
Brad Pitt, na condição de astro magnânimo do planeta, devia saber que há toda uma indústria ávida por atos impensados ou declarações mal formuladas de sua parte.

Brad Pitt na capa da Parade de setembro: "Eu não disse exatamente o que eu queria dizer..."

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Filmografia comentada: Sam Mendes



O american way of life enquadrado
Beleza americana (1999)

Foi um súbito nocaute. Beleza americana é o expoente máximo de um ano dos mais produtivos em Hollywood. Foram três surpresas no campo da direção naquele ano. Os irmãos Wachowski com Matrix, Spike Jonze com Quero ser John Malkovich e Sam Mendes com este filme. O Oscar ficou com Mendes. Isso porque ele desconstruiu mais do que uma família, o conceito que define a família americana. Pelo menos aquela mais comum. Mais suburbana. Beleza americana apresenta personagens eloquentes em suas idiossincrasias que constituem um painel riquíssimo de culto à hipocrisia. O mais interessante desse painel é como Mendes lhe dá forma. Com préstimo do humor negro na concepção de uma mise-en-scène obtusa, imprevisível e profundamente dramática.
O sonho americano nunca foi tão frívolo no flerte com o imponderável. A narrativa poderosa não deixa espaço para dúvidas: nunca o cinema enquadrou tão bem a falência de uma instituição.



Paternidade mafiosa
Estrada para perdição (2002)

O segundo filme de Sam Mendes, naturalmente, provocou doses cavalares de ansiedade. Quando foi anunciado que Tom Hanks e Paul Newman o estrelariam como mafiosos, esse interesse disparou vorazmente.
Mas Estrada para perdição não é um filme de máfia convencional. Antes de ser uma parábola sobre o mundo do crime, é um drama sobre paternidade e autoconhecimento.
Mendes não descuida da atmosfera criminosa, mas faz de seu filme um poderoso drama sobre um homem em busca de intimidade com seu filho.
Com perfeição técnica e desenvoltura narrativa, Estrada para perdição pode não ser exatamente o material que esperavam do diretor de Beleza americana, mas é um filme com alma que captura um homem em conflito com sua natureza. Um dissídio que reverbera no público com profundo impacto.




Guerra mental
Soldado anônimo (2005)

O fantasma da segunda guerra do Iraque já assombrava mesmo com o conflito ainda em andamento. Sam Mendes revisitou a primeira invasão americana naquele país e enquadrou a “primeira guerra tecnológica” com uma perspectiva inusitada. A partir da visão dos jarheads - soldados comuns. Pior do que a guerra é a expectativa pela guerra. Um conceito que Stanley Kubrick já havia dado forma em Nascido para matar (1987) e sobre o qual Mendes aplica novas cores. Um drama pesado e ruidoso que não pretende investigar as rachaduras de uma guerra no ideário de um país, mas escancarar as feridas irreversíveis de um conflito opaco e mais intuído do que visto nos envolvidos.
Mendes prova aqui ser um diretor de inegável senso crítico e salutar interesse cinematográfico. Sua terceira incursão no cinema americano novamente lhe renderia afagos da crítica e participação em premiações.



Infelicidade em estado bruto
Foi apenas um sonho (2008)

Esta fita não deixa de ser uma revisitação aquele universo que tão bem encaminhou Mendes no cinema. Ambientado na América dos anos 50, Foi apenas um sonho demole as fachadas da classe média americana de uma maneira muito mais brutal do que ocorre em Beleza americana. A infelicidade dos personagens, a inadequação de seus sonhos e a falência de suas vocações não são suavizadas pela ironia da realização. Não há subterfúgios narrativos aqui. Tudo é mais chocante, mais premente na construção pessimista de Sam Mendes. A direção é firme e encantadora no sentido de aprumar desvios morais como tentativas desesperadas de alcançar algum significado para a existência. Um filme soberbo na análise que faz da condição humana.

Sam Mendes orienta Leonardo DiCaprio e Kate Winslet no set de Foi apenas um sonho: seu filme mais cruel e bem resolvido



Uma trip em nós mesmos
Por uma vida melhor (2009)

O humor volta a servir como ferramenta para Mendes encapsular a classe média americana e seus anseios. Por uma vida melhor traz dois comediantes que não se furtam à vulnerabilidade que Mendes exige deles na construção de outra história de sonhos e desejos em colisão. O clima é muito mais leve do que os de Beleza americana e Foi apenas um sonho. Até mesmo a ambientação é mais light, contudo, a solução enraizada no cinema de Mendes – ainda que tocada por algum otimismo – não é muito diferente daquela que o diretor apresentou em 1999. Manter-se saudável emocional e psicologicamente em um mundo como o que vivemos, exorta Mendes, é uma tarefa que exige certa dose de cinismo, humor e muito companheirismo.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Crítica: Conan-o bárbaro

O trash do ano!


No começo de 2011, um filme z estrelado por Nicolas Cage se candidatou a trash do ano. A candidatura era cheia de predicados. Chega em setembro o desafiante de Fúria sobre rodas. Trata-se de Conan – o bárbaro, a refilmagem do filme cult de John Millus que revelou o “talento” de Arnold Schwarzenegger para o mundo. A nova versão vem anabolizada com bastante sangue, efeitos especiais bacanas e um espírito trash que pode ser vislumbrado desde a primeira cena – quando um bebê nasce em meio a um campo de batalha. A cena, apesar da trilha pomposa, é risível.

É essa falta de vergonha em ser auto depreciativo que difere Conan e Fúria sobre rodas de produções “mais metidas à besta” como Lanterna verde e Os smurfs. Conan não esconde seu espírito trash e não ludibria seu espectador. O fator honestidade precisa ser levado em consideração.
Isso posto, Conan – o bárbaro é ruim de doer. É o típico filme que faz sucesso nas videolocadoras. Apesar da produção caprichada no tocante aos figurinos, direção de arte e efeitos especiais, se irmana às recentes fitas de Steven Seagal e Jean Claude Van Damme no desenvolvimento do argumento. Jason Momoa não tem o carisma dessas figuras de ação, mas o rapaz é esforçado. Marcus Nispel, um diretor de aguçada concepção visual, não decepciona. É o requinte visual em uma ou outra cena que salva Conan – o bárbaro do marasmo criativo. As cenas de ação também são bem realizadas. Sempre com muito sangue e truculência. Quem assiste ao filme compreende perfeitamente porque Nispel foi apadrinhado em Hollywood por outro titã dos filmes de ação, Michael Bay. A trama é sempre subserviente ao espetáculo. A característica em comum com o mentor, apesar do revés financeiro de Conan, deve valer a Nispel mais oportunidades no gênero.

domingo, 18 de setembro de 2011

Claquete repercute: Short cuts-cenas da vida


Foi com Robert Altman que um estilo muito particular de cinema ganhou vez. O filme coral. Patenteado por Altman, esse estilo se consagrou em Short cuts-cenas da vida (Short cuts, EUA 1993), filme que entre outros prêmios levou o Leão de ouro e a copa Volpi de melhor atuação para todo o elenco – feito ainda único em toda a história do mais antigo festival de cinema do mundo. O prêmio em Veneza, a lembrança no Oscar, a multipremiação no Independent Spirit Awards ajudaram a delimitar algo que hoje, quase cinco anos após o falecimento de Altman, parece inescapável: a incrível habilidade narrativa do diretor. Tanto para o desvelo de história paralelas que aparentemente não mantém nenhuma relação, como que para conferir-lhes unidade e densidade.
Em Short cuts testemunhamos um punhado de personagens às voltas com suas rotinas. Não há grandes conflitos nas quase três horas de filme e lapidar o interesse da audiência seria um desafio; mas Altman faz da contraposição entre as personalidades dos personagens e suas idiossincrasias, um genuíno estudo antropológico.
Há o ex-marido e a ex-mulher que digladiam-se sem se importar com o filho menor; o casal em que a mulher é operadora do disque sexo e fala sacanagens enquanto troca fraldas e o marido limpa piscinas; há o casal em crise afetiva em que o marido, um policial, só recobra o desejo pela mulher após saber que ela pousou para um nu artístico; há o grupo de amigos que em um fim de semana de pesca descobriu um cadáver e esperou o fim de semana terminar para reportar a polícia, há o casal formado pelo médico conservador e a artista liberal...

Julianne Moore surge nua em Short Cuts para o voyeurismo do espectador


Esses e outros personagens vão se cruzando à medida que a trama avança. Tudo com uma fluidez insuspeita. Os vestígios da existência, parece dizer Altman, não trazem nada de especial. Nenhum firmamento. O diretor observa seus personagens com um comportamento até mesmo impassível. Não reage à suas comiserações, apenas transmite-as à audiência com desapego. Paul Tomas Anderson que logo se inseriu como discípulo de Altman, ajudando inclusive na finalização de seu derradeiro trabalho, não se conteve na concepção psicológica de seus personagens em obras como Magnólia e Boogie Nights – prazer sem limites. Aqui Altman pinta o retrato, não teoriza sobre suas cores.
É lógico que as assunções são permitidas e toda a loucura da existência e das relações interpessoais são concatenáveis com o que se vê na tela. Altman provê cenas curiosas do cotidiano desses personagens como em uma antecipação voyeurística de um movimento que ganharia força no alvorecer do século XXI. Observar a intimidade de terceiros tem seu fascínio e talvez seja essa a grande abstração desse filme. Altman, na medida em que cresce o olhar sobre seus personagens, tira o peso desse jogo voyeur que estabelece com a platéia. Aferindo banalidades, choques e interiorizações sem grandes aforismos a sua mise-en-scène, Altman delibera que somos todos mortais na busca pela imortalidade. Um grande filme!

Insight

Antes tarde do que nunca...


Aconteceu o que Claquete havia antecipado em uma seção Em off de fevereiro deste ano, muito antes da estréia de X-men: primeira classe. O alemão de ascendência irlandesa Michael Fassbender aconteceu. O primeiro contato com o nome mais quente de Hollywood atualmente se deu em Bastardos inglórios. No filme de Quentin Tarantino, Fassbender só não chamou mais atenção do público porque o melhor personagem da fita, Hans Landa, era defendido por outro ator grandioso (Christoph Waltz). Escavadores irão sacar Hunger, filme de 2008 não lançado comercialmente no Brasil, como o marco zero da Fassbendermania que se anuncia.
Fassbender apresenta um 2011 primoroso, em que se cristalizou como ator de pedigree ao estrelar um blockbuster pensativo (X-men: primeira classe), um filme provocador com aspirações a prêmios (Shame) e outra produção de prestígio com aspirações a prêmios (A dangerous method). Para ficar no campo dos bastardos, Christoph Waltz foi a primeira opção de David Cronenberg para viver Freud, em oposição ao Jung de Fassbender. O austríaco declinou do papel para rodar o mais midiático Água para elefantes. Em seu lugar entrou o ator favorito de Cronenberg, Viggo Mortensen. Em comum, o americano Mortenssen, o alemão Fassbender e o austríaco Waltz têm a fama tardia. Os três foram alçados à notoriedade relativamente tarde. Waltz, nascido em 1956, conquistou a Palma de ouro, o Oscar e reconhecimento aos 43 anos. Fassbender, nascido em 1977, só em 2011 vislumbra as regalias do prestígio internacional. O leão de ouro em Veneza é um bom presságio do que está por vir para um ator categórico em seu ofício. Viggo Mortenssen é outro que só foi descoberto após o imenso sucesso da trilogia O senhor dos anéis. No entanto, o ator já estava em Hollywood navegando abaixo do radar de público e indústria.

George Clooney é o exemplo mais bem delineado de astro tardio


Os três confirmam uma tendência verificada, maiormente, entre homens. George Clooney é um exemplo bem definido de astro tardio. Estrela de filmes B na juventude, Clooney só ficou conhecido graças ao sucesso de Doug Ross, um médico grisalho e charmoso da série de tv E.R. Clooney,assim como Mortenssen e Fassbender, cultivou a fama com cálculo e estratégia na escolha de papéis e no enfoque público de sua persona. Hoje é considerado por muitos o maior astro da Hollywood atual. Jamie Foxx é um exemplo que se coloca diametralmente oposto a Clooney. Estrela de filmes B como A isca e Quebrando regras, Foxx despontou em 2004 com dois filmes de grande apelo midiático. Colateral, em que Tom Cruise fazia um improvável vilão, e Ray, em que encarnou a lenda da música negra americana Ray Charles. Depois disso, Foxx – dividindo atenções com uma insossa carreira musical – enveredou-se por projetos discutíveis que nunca visaram à afirmação de seu talento, mas sim de seu status. Apesar do desvio de rumo – em comparação a Clooney - Foxx goza de fama e prestígio.

Um time acima de qualquer suspeita: Clive Owen, Jon Hamm, Colin Firth e Hugh Jackman engrossam a lista de astros que ganharam fama tardiamente


Outro ator que deve a um filme em especial o apreço que detém de público e crítica é o inglês Clive Owen. Não fosse por Closer-perto demais, esse britânico de bom trânsito no teatro não viraria a realidade hollywoodiana que é hoje. Trafegando por variados gêneros, Owen tem se mostrado um ator eficiente. O ator não quis assumir um papel que certamente definiria sua carreira. Ele recusou o convite para ser o sexto James Bond. A recusa valeu o green card hollywoodiano a outro britânico, Daniel Craig. Craig já havia feito filmes como Lara croft: tomb raider e Estrada para perdição, mas não passava de um ator de pequena penetração. Bond mudou tudo. O ator assumiu o papel com 38 anos e se viu na imagem de sexy symbol. Hoje, colaborando com diretores como Steven Spielberg e David Fincher, planeja uma valorização de seu talento.
Apesar da maior incidência entre os homens, a fama tardia também ocorre a mulheres. Foi o caso das oscarizadas Kathryn Bigelow e Halle Berry, que viram seus status mudarem após o Oscar. Berry, talvez um ano antes, com o sucesso de X-men: o filme.
É inegável que Hollywood, mais do que qualquer outro lugar, cultiva a juventude. Mas o sonho americano é algo tão enraizado na cultura pop que o lugar certo e a hora certa podem acontecer depois dos 30 ou dos 40, quem sabe. Afinal, é cinema...

sábado, 17 de setembro de 2011

Em off

Nesta edição de Em off, as melhores séries em cartaz na tv e aquela que já não é mais a mesma; os destaques da cerimônia do Emmy do próximo domingo; a sina dos remakes; uma brincadeira cinéfila que é o maior barato; alguns bons filmes para ver no conforto de sua casa e as últimas do festival de cinema de Toronto. 


Toronto updated!
Com o fim já à espreita, indústria e crítica já começam a elaborar o saldo do festival de Toronto 2011. A primeira assunção traz um componente tão alarmante quanto entusiasmante. O não surgimento de “front runners”, como o metiê costuma delimitar aqueles filmes cujo burburinho em Toronto lhes encaminham rumo ao Oscar, esboça um cenário um tanto diferente. Ano passado, para se ter uma ideia, Cisne negro, 127 horas e O discurso do rei surgiram como oscarizáveis em Toronto. Para veículos como The Guardian, Empire e The Hollywood reporter, esse quadro denota dois possíveis cenários. No primeiro deles, o ano apresentaria um novo alvorecer dos filmes de estúdio (J.Edgar, de Clint Eastwood, Tudo pelo poder, de George Clooney, Os homens que não amavam as mulheres, de David Fincher e Moneyball, de Bennett Miller – o filme que mais polarizou atenções em Toronto até o momento). No segundo cenário, a hipótese aventada é de que o ano prima por um equilíbrio maior, afinal produções como Shame, de Steve McQueen, Killer Joe, de William Friedkin, Anonymous, de Roland Emmerich e Friends with the kids, de Jennifer Westfeldt se não arrebataram, causaram ótimas impressões.



Previsões para o Emmy!
No próximo domingo serão entregues os prêmios Emmy que consagram o que de melhor foi produzido no ano na TV americana. Diferentemente do que ocorreu no Globo de ouro e no SAG, Mad men deve prevalecer como melhor série dramática e manter sua hegemonia. Boardwalk Empire, que traz a grife Martin Scorsese e prevaleceu nos outros dois prêmios, continua sendo uma ameaça. A mesma proporção se dá na disputa dos atores dramáticos. Jon Hamm, por Mad men, parece ser a bola da vez. Indicado e preterido por três anos consecutivos, ele parece um nome mais certo do que o de Steve Buscemi que debuta por Boardwalk Empire.
Juliana Marguiles (The good wife), que não venceu no ano passado contrariando prognósticos da crítica, não parece ter desafiante à altura esse ano, senão a sempre competente Elizabeth Moss da prestigiada Mad men.
Entre as comédias, Modern Family deve prevalecer novamente e valer a seu elenco de coadjuvantes prêmios. Carlos e Mildred Pierce, com destaque para a segunda, centralizam as atenções em filmes e minisséries feitos para a TV. Contudo, o elenco de The Kennedys pode roubar alguns prêmios.


Brincadeira de cinéfilo
Uma das maiores diversões de cinéfilos criativos é fazer mash ups. A ideia é juntar um ou mais filmes sob critérios tão díspares como um ator em comum, um diretor, uma frase, um gênero e por aí vai... Existem mash ups célebres na internet com trailers, músicas e tudo o mais. A revista Empire promove, já há algum tempo, um concurso de mash up de pôsteres entre seus leitores. São muitas as categorias. De Alfred Hitchcock a Quentin Tarantino. Claquete selecionou alguns dos melhores para seus leitores:








Remakes e remakes

Geralmente elas são amaldiçoadas pela desconfiança e provocam todo o tipo de calúnia e difamação. De vez em quando, salvam o dia e relegam o original ao escrutínio dos historiadores. Estamos falando das refilmagens. Neste fim de semana estréia no Brasil mais uma polêmica. Conan – o bárbaro é dirigido por Marcus Nispel, que tem em seu currículo só refilmagens. A especialidade do diretor alemão não salvou guardou sua mais recente cria do infortúnio com a crítica. Outra refilmagem de um clássico dos anos 80 deve chegar por aqui no mês que vem. A hora do espanto traz Colin Farrel no papel do vampirão que fez a fama de Chris Sarandon. Diferentemente de Conan, esse remake agradou. Outras refilmagens de fitas de terror daquele período, no entanto, não tiveram a mesma sorte. Um exemplo é A hora do pesadelo, que apesar da boa bilheteria que vez no verão americano do ano passado, não agradou à crítica.
Mas refilmagem também é coisa de diretor sério. Steven Soderbergh chamou o chapa George Clooney e pôs Frank Sinatra no bolso com sua reimaginação para Ocean´s eleven (Onze homens e um segredo). E se Martin Scorsese pôde ganhar seu sonhado Oscar com uma refilmagem (Os infiltrados), por que não David Fincher? Talvez isso tenha passado pela cabeça do diretor de Seven na hora de aceitar o desafio de rodar a versão americana de Os homens que não amavam as mulheres – que estréia em dezembro nos EUA. Fincher também estará a frente das continuações – também refilmagens.
O olho gordo de Hollywood não deixa nem mesmo o tempo passar. A Warner Brothers acabou de anunciar que irá produzir uma refilmagem americana para o vencedor do Oscar de filme estrangeiro O segredo dos seus olhos. O filme argentino, de dois anos atrás, terá sua contraparte americana dirigida por Billy Ray e pode ter Denzel Washington como o “Ricardo Darín americano”. Resta saber se esse remake está destinado a glória ou ao ridículo.

Rooney Mara em cena de Os homens que não amavam as mulheres, de David Fincher: "o final é diferente", garantiu o diretor americano


Sessões em casa!
Os próximos dias trazem ótimas pedidas para o bom e velho cineminha em casa. Neste sábado, 17 de setembro, o Telecine Premium estréia o excelente Wall street: o dinheiro nunca dorme, de Oliver Stone. O filme, que entrou no TOP 10 dos melhores filmes de 2010 no blog, mostra o regresso de Gordon Gekko (Michael Douglas) ao mundo das finanças na esteira da crise econômica global de 2008. A HBO estréia, no mesmo dia e horário, a boa comédia de ação Os perdedores. O filme tem no elenco Chris Evans, Jeffrey Dean Morgan e Zoe Saldana e será reapresentado na quarta-feira, dia 21 de setembro, às 22h.
Segunda-feira, dia 19 de setembro, o Telecine Premium exibe Vício Frenético, de Werner Herzog. Uma boa pedida para quem deseja ver uma das últimas boas atuações de Nicolas Cage no cinema.
Já no sábado, dia 24 de setembro, o Telecine Cult destaca dois filmes do grande Charles Chaplin. Às 20h25min será exibido Tempos modernos e logo depois, às 22h, O grande ditador. Para fechar o pool de indicações, no dia seguinte, às 22h no mesmo canal, será exibido A conversação, um dos melhores filmes de Francis Ford Coppola.



As melhores séries na sua TV...
Em tempos de Emmy, convém apontar o que de melhor está em exibição na TV brasileira em termos de séries. Três programas chamam a atenção pela qualidade narrativa, ousadia da proposta e pelo esmero na produção. "Os Bórgias" (em cartaz no TCM), "Prófugos" (em cartaz na HBO) e "Spartacus: blood and sand" (em cartaz no FX) guardam muito pouco em comum.
A primeira trata de um dos papados mais polêmicos de toda a história da igreja católica. Com produção e direção do cineasta Neil Jordan e com Jeremy Irons a frente de um elenco sofisticado, "Os Bórgias" é uma série inteligente, intrigante e com alta voltagem sexual. “É como se fossem Os Sopranos no Vaticano”, explicou Jordan em uma coletiva para divulgar a série que já teve sua segunda temporada confirmada. O TCM exibe a primeira temporada aos domingos às 22h com reprises as terças no mesmo horário.
"Prófugos" é a nova produção original da divisão latina da HBO. A primeira série chilena do canal é um exemplar de ação que não fica nada a dever aos melhores filmes de espionagem dos anos 70. Com excelente direção de arte, fotografia impactante, roteiro envolvente, personagens bem delineados e uma trama vertiginosa, "Prófugos" acompanha um quarteto de traficantes caçados por polícia e congêneres após uma mal sucedida transação. Mas a sinopse não cobre nem metade do potencial da série.
"Spartacus", que já foi exibida no país no canal Globosat HD, é a mais desprovida de predicados. O que não faz dela menos emocionante. Com cenas de ação maravilhosamente coreografadas, e um argumento capaz de cativar fãs de épicos, a produção do canal americano Starz tem fôlego de sobra. Resta saber como será a segunda temporada sem o protagonista Andy Whitfield, que faleceu recentemente de um câncer linfático.

Os Bórgias é um dos oásis de criatividade e inteligência na tv americana atualmente


... e aquela que já não é mais a mesma
A quarta temporada de "True blood", que já foi a série mais viciante da tv, acabou na última semana nos EUA. No Brasil, restam ainda dois episódios para o desfecho da temporada mais anêmica da série. Alan Ball, criador e produtor do programa, já declarou que o quinto ano deve ser focado na política vampírica; o que na prática representaria um regresso aos principais arcos do primeiro e melhor ano do programa. De qualquer forma, dificilmente algum outro ano será inferior a este. O hype ficou tão grande que nem bruxas, fadas, lobisomens, panteras e metamorfos podem ajudar os vampiros de Bom temps com seu sex appeal.

Cantinho do DVD

Muita gente resmunga quando o nome Matthew McConaughey estampa algum cartaz. “Lá vem outra comédia romântica boboca em que ele aparece descamisado”, certamente é o pensamento mais frequente. Em 2011, porém, o ator parece disposto a mudar esse panorama. Ele está no novo filme de William Friedkin, o tipo de diretor que não se impressionaria com os dotes físicos do loiro, e em O poder e a lei – destaque de Cantinho do DVD desta semana. O ator encabeçará o elenco do novo filme de Steven Soderbergh, Magic Mike, prometido para 2012. A julgar pelo desempenho em O poder e a lei, o marido da top brasileira Camila Alves cansou de ser o gigolô das comédias românticas americanas.



Crítica
Um filme de tribunal hoje precisa de predicados acima de qualquer suspeita para entreter uma platéia que já não mais se impressiona com reviravoltas “inesperadas” e discursos flamejantes. Com esses pré-requisitos em mente, é impossível deixar de sublinhar o sucesso obtido por Brad Furman, um diretor estreante em longas para cinema, com O poder e a lei (The Lincoln lawyer, EUA 2011).
A primeira providência de Furman foi resgatar Matthew McConaughey que andava com seus recursos dramáticos em suspensão desde que virou galã de comédias românticas. O ator brinda a própria carreira com uma atuação enérgica e carismática. McConaughey é Mick Haller, um advogado que defende tipos irascíveis e parece compreender e operar bem sob as leis da rua. As primeiras cenas de O poder e a lei objetivam mapear isso para o espectador. Com a particularidade de fazer de seu carro seu escritório, Mick pega o caso de um playboy envolvido com o espancamento de uma prostituta. Não é preciso dizer que o caso irá se revelar mais complexo do que sugere o primeiro contato do advogado com seu cliente.
O poder e a lei é um raro caso de filme de tribunal bem escrito e com ótimos atores defendendo personagens coadjuvantes. Marisa Tomei, William H.Macy, John Leguizamo, Frances Fischer e Bryan Cranston são alguns deles. No campo das atuações apenas Ryan Phillippe exagera na caracterização.
O romance de Michael Connelly é suficientemente cativante e o texto de John Romano aliada à direção de Furman lhe aferiram densidade narrativa no cinema, mas é Matthew McConaughey – valendo-se do inusitado – quem confere alma ao registro. No final das contas, quem diria, é ele o fiador dessa bem sucedida empreitada.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Crítica - Cowboys & aliens

Que falta faz um Robert Downey Jr.!


Quando o filme Cowboys & aliens (EUA 2011) foi anunciado, a ideia era reunir a dupla consagrada em Homem de ferro em um projeto diferente. Como a produção passou por sobressaltos, Robert Downey Jr. teve de abandonar o projeto para cumprir seus compromissos previamente agendados com outras produções. Daniel Craig entrou em seu lugar e acabou acrescendo hype à produção. Isso porque o segundo nome do elenco é nada mais, nada menos do que Harrison Ford. James Bond e Indiana Jones em um filme ambientado no velho oeste americano em que cowboys e aliens medem forças é uma pedida e tanto. Como se isso tudo já não bastasse, Steven Spielberg e Ron Howard dividem créditos como produtores e os roteiristas não são menos estrelados: Damon Lindelof, Roberto Orci e Alex Kurtzman. Esses três somam créditos valiosos na TV (Alias, Lost, Hawaii 5-0, etc).

Daniel Craig acorda confuso em Cowboys & aliens: não, ele não é James Bond, mas não se intimida de agir como tal...


Cowboys & aliens, no entanto, não tem Robert Downey Jr. e com ele foi-se a capacidade do filme de ser sarcástico e auto-referente. Harrison Ford bem que tenta puxar para esse lado, mas o filtro de Favreau não favorece o humor. O filme acaba sentindo falta de uma pegada mais satírica. Tudo começa quando Jake Lonergan (Craig) acorda sem saber quem é, se é bom ou ruim (e no velho oeste ou se é bom ou mal), e o que um bracelete de metal está fazendo em seu pulso. Ele logo descobre que é um mau elemento procurado, mas antes de prestar contas com o resquício de lei disponível, Lonergan terá de juntar forças com Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford) para enfrentar os aliens - que os distintos cidadãos daquela época na ausência do conceito de alienígena pensavam se tratar de demônios. Enquanto é um filme de faroeste, Cowboy & aliens preserva algum charme, mas quando abraça a ficção científica, o humor acaba fazendo falta. Tudo levado muito a sério, enquanto que o argumento prima pela ingenuidade. Esse desacordo, que o roteiro não conseguiu subverter, não é sublimado pelo elenco. Sam Rockwell dispara uma ou duas ótimas piadas, Harrison Ford faz o que pode e Daniel Craig se sai bem como o cowboy misterioso e caladão. Contudo, esse time de bons atores não consegue esconder a maior deficiência do filme, que vai na conta dos nomes estrelados que não aparecem na tela. O tom invertido faz com que Cowboys & aliens seja o típico produto que arrota filé mignon, mas se alimenta de acém.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Momento Claquete #20

 George Clooney xereta o autógrafo de Evan Rachel Wood no primeiro dia do festival de Veneza, onde o ator e diretor exibiu Tudo pelo poder


Uma semana depois, Clooney concedia entrevista coletiva ao lado de Ryan Gosling no festival de Toronto. Além de Tudo pelo poder, Clooney está em outro filme que debuta na cidade canadense, The descendants. Ambos receberam elogios fervorosos  

 Vincent Cassel chega para o segundo dia de festival em Veneza. Ele prestigiou a estréia do filme em que a esposa, Monica Bellucci, atua e depois foi a premiere de A dangerous method -que marca sua segunda colaboração com David Cronenberg


 Emile Hirsch faz reverência ao cineasta William Friedkin no tapete vermelho de Veneza. O filme deles, Killer Joe, agradou à crítica intrenacional e já é cotado para o Oscar


 Emile Hirsch, três dias depois, estava nos braços da atriz Kate Mara na festa da produção de Killer Joe em Toronto


Na mesma festa, Emily Blunt e Ewan McGregor trocam um carinho...


 Bono distribui autógrafos e sorrisos antes de conferir From the sky down, filme sobre a banda U2 que abriu o festival de Toronto há uma semana

Outro roqueiro que deu as caras em Toronto foi Eddie Veder. A razão foi a estréia de Pearl Jam twenty, documentário que Cameron Crowe rodou em virtude dos 20 anos da banda 


E festival de cinema que se preze, tem que ter Angelina Jolie e Brad Pitt. Toronto se garantiu nesse aspecto com a estréia mundial de Moneyball, de Bennett Miller. O filme, que conta com Brad Pitt e Philip Seymour Hoffman no elenco, é outro que já tem oscar buzz


Fotos:Getty images