Páginas de Claquete

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Crítica - O palhaço

Em busca da própria graça!

A ideia do palhaço triste é algo que, além de extremamente metafórico, permeia uma produção artística que se  pretende revisionista. Não á toa, Selton Mello escolheu a cena circense e esse personagem tão bucólico para elaborar (e superar) uma crise que vivenciava com a própria profissão. O palhaço (Brasil 2011), segunda incursão de Selton atrás das câmeras, se apresenta também como uma homenagem a um tipo de entretenimento desgarrado do século XXI: o circo. Mas o alcance da fita excede o caráter reverente com que acena para os profissionais do riso.
Benjamin é o responsável pelo circo Esperança, um circo itinerante que se apresenta por cidades do interior mineiro. Benjamin também é artista. No palco, que divide com seu pai – vivido pelo grande Paulo José - é o palhaço Pangaré. Pangaré e Puro Sangue (seu pai) desfrutam de uma química que não se reproduz fora dos palcos na relação pai e filho. Benjamim parece atordoado por uma melancolia cada vez mais forte. O sonho de poder comprar um ventilador e o fato de “não ter tempo” para tirar os documentos de identidade surgem como poderosos elementos sobre os quais a realização estipula toda a força da narrativa que se desenvolve. A partir desses ganchos, O palhaço vai se construindo como um filme cujo protagonista procura desesperadamente sua identidade. Sua razão de viver.
O palhaço é, portanto, uma viagem ao íntimo de um artista que descobre que se justifica e vive por meio de sua arte. Um memorando alçado em simplicidade e poesia pela eficiente lógica visual que Mello emprega em seu filme. Desde os olhares embevecidos das crianças, à inocência de personagens que parecem pertencer a outra era (e a um outro cinema).

Mello em cena do filme: ecos fellinianos que estipulam a arte como objeto da vida


Os artifícios narrativos de O palhaço só comprovam o acerto da realização na conjugação orgânica que propõe dos temas. A introspecção de Benjamim; a união arisca dos integrantes da trupe; o conformismo doído de Puro Sangue e a constatação de que, às vezes, é preciso se perder de certas ambições e permitir-se ser feliz.
O palhaço, por fim, revela um cineasta capaz de filtrar experiências pessoais e imprimi-las de maneira rica e vivaz em seus filmes. Em seu segundo filme, Selton Mello apresenta também uma notável evolução no ofício de cineasta. Mostra-se um diretor capaz de trabalhar emoções genuínas e provocar reflexões amargas e adocicadas enquanto homenageia uma arte esquecida. O palhaço confirma as expectativas. Respeitável público, este é um dos achados de 2011.  

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Perfil - Woody Harrelson

O americano tranquilo 



Nascido no Texas em 1961, Woodrow Tracy Warrelson sempre soube que quis ser ator. Debandou-se para Ohio e depois para Nova Iorque com essa finalidade. Na grande maça, entrou para o elenco do sucesso da tv Cheers, mas o cinema só se viabilizaria para ele uma década depois. Foi em 1992, quando estrelou ao lado de Wesley Snipes a comédia Homens brancos não sabem enterrar, então com 31 anos, que Harrelson pôde ser visto por um grande público. Que gostou do que viu. Ainda com Cheers sendo exibido na tv americana, o ator emplacou outros dois grandes sucessos de público e crítica: Proposta indecente (1993) e Assassinos por natureza (1994). O primeiro filme, do mestre do erotismo no cinema americano Adrian Lyne, Harrelson é o marido de Demi Moore que aceita que sua mulher durma com Robert Redford pela quantia de um milhão de dólares. O filme, elegantérrimo, consolidou a carreira em ascensão de Moore e ajudou a tornar Harrelson conhecido de diretores importantes. Como, por exemplo, Oliver Stone que o chamou para viver um de seus personagens mais icônicos: Mickey Knox de Assassinos por natureza. O insano matador que cruza a América com a namorada maluquinha vivida por Juliete Lewis era o principal filme da década até o surgimento de Pulp Fiction alguns meses mais tarde naquele ano. Mas Milos Forman ficou impressionado com o apetite de Harrelson naquele filme e o chamaria para viver o polêmico criador da revista pornográfica Hustler na biografia que seria lançada em 1996. Antes disso, Harrelson voltou a contracenar com Wesley Snipes, então um astro do primeiro time hollywoodiano, em Assalto sobre trilhos (1995) em que ele e Snipes viviam dois policiais com rusgas com a lei, que se apaixonam pela mesma mulher – a então pouco conhecida Jennifer Lopez.

Woody e Juliette Lewis em cena do cult Assassinos por natureza: filmes decisivos no início da jornada no cinema... 


O Oscar que não veio
Antes de ser indicado ao Oscar por seu desempenho em O povo contra Larry Fynt, Harrelson mostrou que estava nessa pelo prazer e fez descoladas participações em Os simpsons e Spin city, divertida sitcom política que teve os talentos de Michael J. Fox e Charlie Sheen. O ano em que Harrelson brigou pela estatueta de melhor ator era particularmente difícil. O australiano Geoffrey Rush faturou por Shine-brilhante. Harrelson, no entanto, foi o favorito da crítica naquele ano. Pequenos papéis no cinema, em filmes como Mera coincidência (1997), Além da linha vermelha (1998) e EdTV (1999), foram entremeados com mais participações desencanadas em séries de tv como Ellen (primeiro programa de Ellen De Generes na tv) e Frasier.
Dramas policiais, como o recente Rampart que pode lhe valer nova indicação ao Oscar, foram propostas frequentes no final dos anos 90 e Crime em Palmetto (1998), acabou se configurando em um dos maiores salários de Harrelson na carreira até então. Cerca de U$ 1 milhão de dólares.
Aparentemente sem vocação para astro, Harrelson se encontrou nos ótimos papéis coadjuvantes que garimpava no inicio dos anos 2000, como o taradão de Tratamento de choque (2003) e o detetive inseguro de Ladrão de diamantes (2004). Mas também se destacava em pequenos papéis em produções mais gabaritadas, como Terra fria (2005), A última noite (2006) e The prize winner of defiance, Ohio (2005).
Ótimas aparições em filmes como Onde os fracos não têm vez (2007), Expresso transiberiano (2008) e O amor pede passagem (2008) ajudaram a cravar em Harrelson a imagem de ator confiável em qualquer situação ou circunstância.

Para uma boa (e sem malícias) introdução em Woody Harrelson

Assassinos por natureza
 Harrelson faz um assassino tão simpático quanto enlouquecido e dotado de um estranho e irresistível senso de humor.
 Zumbilândia
Harrelson faz um cara carente que vive enchendo o saco do nerd vivido pro Jesse Eisenberg
 Amizade colorida
Harrelson faz um gay machão que contraria todos os estereótipos sobre personagens homossexuais em comédias românticas


Woody em cena de Zumbilândia, que deve ganhar uma sequência e uma série de tv: ele faz o filme parecer melhor do que já é...



Woody dá uma palhinha em Amizade colorida...




Nova fase, velhas estratégias
Com O mensageiro (2009) lhe valendo sua segunda indicação ao Oscar – dessa vez por coadjuvante – Harrelson demonstrava que estava no controle de sua carreira e não a reboque do gosto dos outros. Neste mesmo ano, estrelou a fita indie Defendor, em que faz um sujeito estranho que sai vestido de super herói e tenta combater o crime. O filme, lançado meses antes do cult Kick ass, é ainda mais irônico - embora menos pop - do que o filme que tornou Hit girl uma musa nerd.
2009 foi mesmo um ano prolífero para Harrelson. Ele surgiu como um profeta do fim do mundo no distaster movie 2012 e como um expert em matar zumbis no deliciosamente histriônico Zumbilândia.
Esses papéis valeram ao ator uma iconografia toda particular. Com seu jeito caipira de macho bronco, Harrelson sabe rir de si mesmo. Foi o que fez em Amizade colorida, uma das comédias mais divertidas de 2011.
Alternando incursões dramáticas com sucessivas aparições cômicas, Harrelson especializou-se em roubar cenas. É um ator que sempre deixa boa impressão no espectador. Um trunfo e tanto. Muita gente que ganha milhões por aí não consegue a mesma proeza.
Sem ansiedade por protagonismos, já estrelou filmes que marcaram o cinema nos últimos 20 anos e pode conseguir sua terceira indicação ao Oscar – a segunda em três anos. Nada mal para um garoto de Midland, no Texas.

#WoodyHarrelsonfacts
 - É vegetariano
-Foi preso no distrito de Columbia, no estado de Ohio, em 1983, por condução perigosa
- No ano 2000, admitiu ser viciado em sexo
- É um defensor da legalização da maconha
- Steven Spielberg vetou seu nome para interpretar o protagonista de Beleza americana
-É amicíssimo de gente como Owen Wilson, Bill Murray e a banda de rock Red hot Chilli Peppers
- Declarou que votou em Christoph Waltz (Bastardos inglórios) para melhor ator coadjuvante em 2010, quando concorria ao Oscar por O mensageiro
- Já trabalhou com importantes cineastas como os irmãos Coen, Milos Forman, Spike Lee, Ron Howard, Terrence Malick e Oliver Stone  

domingo, 27 de novembro de 2011

Insight

Intrigas e Meryl Streep polarizam as opiniões sobre A dama de ferro


Desde que foi anunciado, A dama de ferro provocou nos fãs de Meryl Streep uma excitação diferenciada com a expectativa de que o papel de Margaret Thatcher, a primeira ministra britânica entre 1979 e 1990, pudesse valer a atriz, em uma eventual 17ª indicação ao Oscar, sua terceira estatueta. O filme a reuniria a diretora Phyllida Lloyd do irregular, ainda que imensamente bem sucedido comercialmente, Mamma Mia.
O filme, cuja distribuição compete a Weinstein Company, ficou de fora da grande maioria dos festivais de cinema que pontuam o segundo semestre. A razão era muito simples. O todo poderoso Harvey Weinstein não teria gostado do resultado do filme, mas estava confiante de que poderia capitalizar em cima da performance de Meryl Streep e só gostaria de promover debates a respeito às margens da Oscar season. Não à toa, a estréia americana da fita foi marcada para o dia 30 de dezembro. No Brasil, o filme deve ser lançado no dia 13 de janeiro.
O que ocorre é que A dama de ferro, com a proximidade dos primeiros prêmios da crítica e das indicações para os majors Globo de ouro e Critic´s choice awards à espreita, já está sendo exibido para críticos na Inglaterra e nos EUA e tem provocado um misto de polêmica, descontentamento e indiferença.
Na Inglaterra, a crítica concorda com duas coisas. A “imitação na medida” que Streep faz de Tatcher  recuperando até mesmo cacoetes de postura e entonação de voz da estadista (“Ela consegue encontrar a mulher em uma figura caricata”, observou o The Times) e o desacerto do tom do filme. Para alguns veículos como o The Guardian, o filme é apenas “tolo e previsível”. Para outros, como o Daily Mail, trata-se de uma “fantasia esquerdista”. O The Guardian observa que o filme “demonstra pouca consciência do mundo exterior e das políticas governamentais”. O que, em outras palavras, quer dizer que o filme é uma bomba.
O Daily Telegraph foi mais condescendente. Entendeu que a fita é compreensiva com sua biografada e busca a todo o tempo o equilíbrio.
As reações na Inglaterra, ainda que conflitantes, têm sido mais efusivas do que nos EUA. Razão que deve começar a preocupar Harvey Weinstein. O Los Angeles Times escreveu que “nem Meryl Streep salva A dama de ferro”. Outros importantes veículos como o USA Today e o New York Times fizeram resenhas protocolares que deixam escapar um certo grau de indiferença com um filme que desde o princípio parecia formatado única e exclusivamente para sua protagonista brilhar.
Os críticos americanos se dividem quanto a possibilidade de Meryl Streep ser indicada ao Oscar pela 17ª vez por este filme. Muitos creditam uma possível indicação ao peso da atriz e ao prestígio de um papel dramático em um drama político e biográfico. Mas há quem enxergue uma disputa intensa pelas vagas na disputa por melhor atriz e um filme tão contestado pode prejudicar a candidatura da atriz. Mais um dilema para acompanharmos no curso da Oscar season.     

sábado, 26 de novembro de 2011

Cantinho do DVD

O homem mais sexy do mundo versus De Niro. É uma forma de encarar o agradável e inteligente Sem limites, uma das boas surpresas de 2011 nos cinemas. O novo filme do diretor de O ilusionista, destaque da seção Cantinho do DVD desta semana, é um entretimento de primeira linha e tem em seu protagonista, eleito pela People o homem mais sexy de 2011, o seu grande trunfo. A crítica a seguir.      


Crítica
Fazer um filme sobre uso de drogas e não pender para o moralismo não só é uma estratégia arriscada, do ponto de vista mercadológico, como discutível, do ponto de vista social. Sem limites (Limitless, EUA 2011) evita essa bifurcação existencial com sagacidade ao se definir como um thriller e um filme de aventura antes de ser um filme sobre uma droga experimental de grandes potencialidades.
Isso não quer dizer que Neil Burger, que já havia realizado o interessantíssimo O ilusionista, não faça de seu filme um pequeno conto moral. Em Sem limites, Eddie Morra (um carismático Bradley Cooper) é um escritor fracassado e com forte tendência depressiva. Um belo dia ele cruza com o ex-cunhado que lhe oferta uma droga experimental que amplia a capacidade produtiva do cérebro ao limite. Morra, resistente a princípio, assume os riscos devido a sua total desolação. E vicia na pílula que lhe abre infinitas possibilidades. Além de escrever o livro em quatro dias, Morra ganha confiança, interesses culturais e passar a operar na bolsa como uma espécie de guru financeiro. “Uma melhor versão de si mesmo”, ele se define.
Mas como nem tudo são flores, a droga provoca certos efeitos colaterais que no médio prazo podem esgotar Morra. Não obstante, há outros interessados na substância que surgem no encalço do agora bem sucedido consultor financeiro. O roteiro de Leslie Dixon, baseado no romance de Alan Glynn, apresenta desdobramentos convincentes e que mantém o interesse do espectador em alta. Burger conduz bem sacados truques de edição tanto para reforçar esse interesse, como para ilustrar de maneira sensorial os efeitos da droga. Isso implica em outro acerto de Sem limites. O aspecto visual do filme seduz. Assim como seduz a participação de Robert De Niro como um magnata das finanças que se interessa pelo produtivo e surpreendente Morra. De Niro surge convicto em cena com bons diálogos e uma presença muito forte.
Sem delinear grandes julgamentos e com essa pegada de thriller, Sem limites se revela uma boa surpresa do cinema americano em 2011. O dilema moral do personagem é diluído pelo pathos que ele cruza nas duas horas de filme. É uma opção interessante da realização evitar o estigma de filmes sobre drogas. Mesmo assim conseguiu um efeito muito mais positivo do que se abordasse a questão pelas vias tradicionais. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Em off

Nesta edição de Em off, o que Viggo Mortensen tirou da experiência de viver Freud no cinema; George Clooney e suas preferências cinematográficas em 2011; como Woody Harrelson quer voltar ao Oscar; o possível retorno do eterno galã Warren Beatty aos cinemas; as alegrias e tristezas de ser Sarah Jessica Parker e os resultados das últimas enquetes promovidas pelo blog.


O melhor Almodóvar recente...
Foi uma eleição tranquila. Apesar de Volver não ter suscitado paixões à época de seu lançamento, o filme de 2006 venceu a enquete promovida por Claquete para saber qual era o melhor filme recente de Almodóvar na opinião do (e)leitor do blog. A fita foi seguida de perto por Má educação e o novo A pele que habito.


O Polanski favorito
Quem ainda não leu a resenha que o blog fez da mais completa, embasada e corajosa biografia sobre Roman Polanski pode lê-la clicando aqui. Quem leu e votou em seu filme favorito do franco polonês pode comemorar. O cult O bebê de Rosemary venceu com sobras. A fita de terror psicológico estralada por Mia Farrow ainda impressiona os espectadores e, em breve, será tema da seção Claquete repercute. O pianista, Busca frenética e Lua de Fel brigaram arduamente pela segunda posição que acabou ficando com o filme que valeu o Oscar a Roman Polanski.


Os filmes favoritos de George Clooney no ano
Ainda estamos em novembro e Hollywood já se prepara para conceder o segundo prêmio especial a George Clooney pelo fantástico ano de 2011. E a Oscar season ainda nem começou efetivamente... Depois do prêmio no Hollywood Gala Awards, o ator será honrado no Palm Springs Festival.
Clooney, em uma rodada de entrevistas promovida pelo jornal Los Angeles Times, foi questionado sobre seus filmes favoritos da temporada. O ator apontou o francês The artist, que distribuído pela Weinstein Company já suscita algum buzz para o Oscar, e O homem que mudou o jogo, filme estrelado por Brad Pitt e originalmente chamado Moneyball.
Para Clooney, o filme francês mudo e em preto e branco, e a fita de baseball que não é sobre o esporte são as duas produções mais humanas e que melhor exprimem o sentido da sétima arte em 2011. Os brasileiros poderão concordar (ou não) com Clooney a partir de janeiro – quando as respectivas fitas devem ser lançadas no país.


E por falar em George Clooney...
Não é de hoje que o ator é o favorito de muita gente, mas essa condição tem suscitado situações, no mínimo, inusitadas. Quem não se lembra da demorada escolha para o papel de Frank Sinatra na biografia que Martin Scorsese fará do mito americano? DiCaprio, conforme esperado, acabou vencendo a disputa que reunia gente como Chris Pine. O interessante é que era George Clooney o favorito de Nancy Sinatra para viver o pai na biopic. A queda de braço entre a principal herdeira do clã e a Paramount, que considerava Clooney velho demais para o papel, acabou com o protegido de Scorsese escolhido para viver o ícone americano. Porém, a biografia segue estagnada. Oficialmente, o roteiro está sendo reescrito, mas a verdade é que o desacordo sobre o protagonista pode ter levado à falência do projeto. Não surpreenderia se daqui a cinco ou seis anos o projeto voltasse a circular por Hollywood sem Scorsese ligado a ele. O diretor, que atualmente lança Hugo nos cinemas, já está desenvolvendo outros três projetos – dois junto a DiCaprio – e nenhum deles é a bio de Sinatra.
Na última semana, circulou pela internet que George Clooney estaria interessado em interpretar Steve Jobs na adaptação cinematográfica que a Sony irá fazer da biografia recém-lançada. Na verdade, Clooney foi uma sugestão do autor Walter Isaacson ao estúdio. Não há nada definido a respeito deste filme ainda. O que há de mais encaminhado, conforme Claquete já havia antecipado, é a possível contratação de Aaron Sorkin (A rede social) para roteirizar o longa.


O retorno de Warren Beatty


Vira e mexe surgem boatos sobre o retorno de Warren Beatty, um dos grandes de Hollywood, ao cinema. Afastado das telas desde a piada de um tom só Ricos, bonitos e infiéis (1999), o marido de Annette Bening, vencedor do Oscar de melhor diretor por Reds, ensaia um retorno em grande estilo. Beatty costura nos bastidores a possibilidade de dirigir e estrelar um filme sobre Howard Hughes, aquela figura tão apaixonante quanto odiosa vista em O aviador, épico clean de Martin Scorsese. Segundo apurou o site Deadline, no entanto, não se trataria de uma biografia, mas sim de um recorte sobre a vida amorosa de Hughes.
E Beatty sonha grande. Entre os nomes aventados para estrelar a fita estão o da mulher Annette Bening, do amigo Jack Nicholson e de Andrew Garfield, Shia LaBeouf, Rooney Mara, Amber Heard e Evan Rachel Wood.


Freud explicou
Viggo Mortensen assumiu o papel de Sigmond Freud em Um método perigoso, o aguardado filme de David Cronenberg, após a desistência do austríaco Christoph Waltz- escalado originalmente para o papel. “Antes de me preparar para o personagem, pensava que ele era muito sério, reprimido, magro, acadêmico e sem senso de humor. Aprender que ele não era assim foi o mais divertido, declarou o ator à agência Efe. A experiência mais vívida extraída dos sets de sua terceira colaboração com Cronenberg (as outras duas foram Marcas da violência e Senhores do crime) foi de que é preciso saber viver. “Ele (Freud) era um bon vivant. Não devemos nos levar a sério demais. Essa era uma ideia que eu já tinha, mas foi reforçada com minha experiência nesse filme”, declarou Mortensen.
Um método perigoso tem lançamento previsto para janeiro e é mais um dos filmes cotados para o próximo Oscar.



O que Sarah Jessicar Parker tem e o que ela nunca terá
Sarah Jessica Parker volta as telas de cinema brasileiras neste final de semana como protagonista da comédia Não sei como ela consegue. Essa é a primeira aparição de Sarah em um filme desde a ultrajante sequência de Sex and the city. Na fita, ela vive uma executiva que se divide entre o trabalho e a vida de esposa e mãe. O humor é trabalhado a partir dos conflitos que se erguem dessa bifurcação. Para a fashionista Sarah, trata-se de um papel até certo ponto impensável: mãe e esposa em uma comédia de inegável apelo familiar, ainda que mais orientado para o público feminino. A guinada remete Sarah ao início da carreira em que estrelou filmes como Medidas extremas (1996), Marte ataca (1996), Ed Wood (1994) e Lua de mel a três (1992).
De lá para cá, Sarah se viu na condição de ícone fashion e de expressão de feminilidade contemporânea. Infelizmente, esses predicados a prejudicaram como atriz. Com um timing cômico por vezes ruidoso e essencialmente dependente de uma boa direção, Sarah não parece capaz de contornar as más impressões que levanta quando protagoniza um filme. Com Pierce Brosnan e Greg Kinnear lhe servindo de apoio, sua mais recente investida se materializou em outro fracasso de bilheteria nos EUA.
A tristeza aí contida é que Sarah tem capital suficiente para que roteiros sejam aprovados com o seu nome, mas falta-lhe talento para fazer com que esses roteiros, geralmente banais, se transformem em filmes minimamente agradáveis.

Sarah e Greg Kinnear em cena do filme que estreia nesta sexta (25) no país: deixando o lado fashion um pouco de lado...



O jeito Woody Harrelson de atuar
Se você perguntar quem são as cinco pessoas mais bacanas do show business hollywoodiano, ouvirá respostas e nomes variados. No entanto, há uma probabilidade muito alta de o nome de Woody Harrelson constar da maioria, senão todas as respostas.
Com visual caipirão e estilo relaxado, Harrelson não aparenta ser o grande ator que é. Com mais de 70 produções no currículo, esse americano de 50 anos já possui duas indicações ao Oscar. A primeira foi em 1996 por O povo contra Larry Flint, filmaço de Milos Forman. A segunda veio há dois anos pelo intenso O mensageiro. É com o diretor deste último, Oren Moverman, que Harrelson volta a colaborar em Rampart, um tenso thriller policial em que vive um tira corrupto, racista e extremamente violento.
O trailer de Rampart, o leitor confere abaixo e um perfil detalhado de Woody Harrelson será publicado na próxima semana no blog.



terça-feira, 22 de novembro de 2011

Claquete repercute - Tudo sobre minha mãe

É no mínimo curioso revisitar Tudo sobre minha mãe (Todo sobre mi madre, ESP 1999) após assistir A pele que habito. Voltar ao filme mais premiado de Almodóvar e aquele que finalmente lhe valeu consagração internacional permite uma perspectiva arrojada da capacidade de reinvenção do cineasta espanhol e de sua incrível força criativa. Mais acachapante, ainda, é a constatação de como Almodóvar preserva a essência de sua obra diagramada no trânsito de gêneros que realizou desde Tudo sobre minha mãe até A pele que habito.
Talvez seja interessante inventariar os prêmios conquistados por essa película de 1999; uma das poucas do espanhol a produzir consenso crítico na ocasião do lançamento.
O Oscar de melhor filme estrangeiro salta à vista. Mas Tudo sobre minha mãe também recebeu o prêmio de direção em Cannes, os Bafta de melhor filme estrangeiro e direção, os prêmios de filme, direção e atriz no European Film Awards, o globo de ouro de melhor filme estrangeiro, entre outras premiações de sindicatos e associações de críticos.
A trama sintetiza toda a fauna almodovariana. Cores vibrantes, arquétipos femininos bem delineados e sombras das figuras masculinas, o transexualismo como elemento de libertação, as referências cinematográficas (embutidas até mesmo no título, como brinca Almodóvar na abertura de seu filme), entre outras coisas.
O brilho das mulheres de Almodóvar: Cecília Roth e Penelope Cruz em performances cheias de coração e carinho


Enfermeira, após um acidente fatal que vitima seu filho, viaja de Madri a Barcelona em busca do pai do rapaz, um travesti chamado Lola, de quem não tem notícias desde que partiu fugida daquela cidade. A jornada de Manuela, uma inspirada Cecília Roth, será de cura interna e externa. Do contato que busca com a atriz Huma Rojo (Marisa Paredes), a quem o filho admirava, serão catalisadas benesses para ambas as partes. Nessa equação também está Rosa (Penelope Cruz), uma freira com jeito de menina que deixou-se engravidar pela mesma Lola que Manuela procura. As fronteiras emocionais dessas três mulheres se confundem e Almodóvar, talvez em seu filme mais solar, demonstra todo o seu apreço pelo feminino. São personagens fortes, irrefreáveis, transbordantes em sentimento materno e revestidas de humanidade e solidariedade que parecem faltar aos personagens masculinos. Em um dado momento, o travesti Agrado (Antonia San Juan) indaga, e o close de Almodóvar sugere que a pergunta se dirige na verdade ao público e não a Manuela, como alguém com seios poderia ser tão machista – em uma referência a Lola.
Mas a graça de Tudo sobre minha mãe, definitivamente o melodrama que patenteou de uma vez por todas o estilo de filmar de Almodóvar, está mais na concepção desse universo poeticamente surreal do que na singela busca por alguma paz da personagem central.   

A beleza também pode estar no absurdo, sugere o diretor. Como o homem transformado em mulher que mantém um comportamento associado ao pior tipo de homem, mas é capaz de seduzir uma jovem freira. Ou na enfermeira que tem uma nova chance de ser mãe, mesmo sem conceber, e a criança sendo do mesmo pai. O que dizer da representatividade da ficção em nossas vidas? Questionamento tão bem acampado pelo sentido que Almodóvar dá à peça Um bonde chamado desejo na trama.
As sutilezas de Almodóvar apaixonam em Tudo sobre minha mãe. Não à toa, o cineasta abandonou –ainda que temporariamente – a alma feminina e foi falar do homem em Fale com ela. Com o consenso crítico gerado por Tudo sobre minha mãe, o espanhol teria alcançado o nirvana de seu cinema. Foi revisar a si mesmo nos filmes da década passada.
Tudo sobre minha mãe continua sendo o mar vermelho do cinema almodovariano. E a travessia foi mais do que bem sucedida. 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Crítica - Os 3

Triangular!

O maior problema de Os 3 (Brasil, 2011), fita independente brasileira assinada por Nando Olival, é querer abraçar o mundo. São muitas tramas e objetivos para um filme só e muito pouco talento para decupar os excessos. Aproveitando o trocadilho óbvio, é como se fossem três filmes em um.
Cazé (Victor Mendes), Rafael (Gabriel Godoy) e Camila (Juliana Schalch) são três jovens que chegam a São Paulo e, no que pode ser classificado como um lance do destino ou mero acaso, se conhecem e decidem passar “os quatro anos da faculdade” colados uns aos outros.  O problema, nos faz crer Rafael que narra o que ele chamaria depois de “biografia ficcional”, é quando os “quatro anos da faculdade” acabam. Os três são convencidos por um representante de uma agência de publicidade a embarcar na ideia que os próprios apresentaram no trabalho de conclusão de curso. Um reality show pela internet que estimulasse o consumo. Eles só precisariam fazer o que já faziam: interagir entre eles.

Junto e misturado: falta qualidade e sobram boas intenções em Os 3


Nando Olival, que também é responsável pelo roteiro, estipula três frentes para seu filme. De um lado, está o jogo amoroso prontamente estabelecido entre os três protagonistas e com ele toda a carga dramática inerente a representações desse tipo no cinema. Em uma segunda abordagem, ainda que concomitante à primeira, está a discussão sobre os limites da representatividade. Sobre a encenação do real e a interferência de tal encenação na organização do real. É uma proposta e tanto, mas que o filme não reúne condições de cercar a contento.  Primeiro pela superficialidade da mise-en-scène e, também, pela fragilidade dos argumentos espremidos na narrativa. Em um terceiro momento, Os 3 pretende ser uma crítica social à difundida cultura dos reality shows e essa super exposição, por vezes ambicionada, provocada pelo boom da internet.
O filme de Nando Olival fracassa em suas três bifurcações. Não por culpa dos atores. A ideia de promover certo naturalismo nas interpretações é um dos poucos acertos da realização. Os jovens atores acertam o tom da “geração perdida” que Os 3 busca dimensionar. Mas não são páreo para o passo maior que as pernas que o filme dá em sua própria concepção.
Desde a montagem, assinada pelo expert Daniel Rezende, até as pálidas soluções aventadas pelo simplório roteiro para os conflitos criados, Os 3 parece desencarnado de qualquer propósito que não triangular temas relativamente frequentes no cinema em uma roupagem alternativa. 

domingo, 20 de novembro de 2011

Insight

Afinal, David Fincher quer ou não quer um Oscar?


É sabido que David Fincher é dos cineastas mais cultuados da Hollywood atual. Seu cinemal cerebral foi altamente celebrado pela crítica no final dos anos 90 e começo da década passada com filmes como Seven (1996), Clube da luta (1999) e Zodíaco (2007). O refinamento técnico de Fincher lhe valeu a fama de perfeccionista irritadiço. São célebres e famosas suas inclinações a longos e repetidos takes. Gente como Jesse Eisenberg, Elle Fanning, Kristen Stewart, Rooney Mara e o amigo Brad Pitt já discorreram sobre a predisposição do diretor de capturar o máximo de material para dispor na sala de edição. Fincher já se viu impelido a justificar-se sobre essa “característica” em variadas entrevistas.  A mais detalhista foi uma concedida às vésperas do Oscar 2011, no qual concorria pela direção de A rede social, em que comentou, entre outras coisas, sobre sua forma de trabalhar e o por que da necessidade de fazer exatas 97 tomadas da cena inicial de A rede social.
Agora, às vésperas do lançamento de Os homens que não amavam as mulheres, David Fincher volta à bateria de entrevistas promocionais. Recentemente foi tema de um perfil lisonjeiro do amigo Aaron Sorkin, com quem colaborou no oscarizado A rede social, na revista Vanity Fair. Seu novo filme, que é ventilado –ainda que timidamente - para o Oscar 2012, é capa da edição de 18 de novembro da revista Entertainment Weekly e o diretor se vê, mais uma vez, no centro da constante boataria sobre os possíveis indicados ao Oscar.
Com uma filmografia curta, mas com filmes cada vez mais constantes, de extrema coerência e qualidade, David Fincher é tido, também, como um sujeito arrogante. Há quem diga em Hollywood que ele só participa de entrevistas e eventos promocionais por força contratual. O perfil de Sorkin na Vanity Fair, que pode ser lido aqui, não desmente tais boatos. Os relativiza. Outro rumor que sonda David Fincher é um possível desdém pelo Oscar. Vez ou outra o diretor se refere ao prêmio, tanto a amigos como em entrevistas, como algo supervalorizado. Não foi diferente na nova Entertainment Weekly. Perguntado se alimenta esperanças sobre uma possível indicação ao Oscar, seria a terceira de sua carreira e em um espaço de cinco anos, Fincher minimizou: “Não vejo razão para tanta consternação. Até entendo o conceito do Oscar e se o filme ou meus colaboradores vão ser celebrados, acho válido, mas não estou nessa pelos prêmios”, declarou à publicação. Sorkin escreveu que Fincher queria ganhar o Oscar mais para não ouvir as condolências de colegas do que por qualquer outra razão. A ilação de Sorkin não se verifica no discurso algo agressivo preparado por Fincher em caso de vitória, que ele confidenciou a Sorkin. O curto texto dizia “finalmente respondemos a pergunta, maçãs ou laranjas?”, em uma alusão a dificuldade de julgar o melhor entre trabalhos tão diversos. Mas o David Fincher que recebeu o Globo de ouro em janeiro de 2011, ainda que marcado pelo ar superior que lhe é característico, não parecia descontente com o prêmio que acabara de receber.

Fincher e Justin Timberlake: todo mundo espera o momento em que o diretor será agraciado com uma merecida estatueta do Oscar 

Fincher e seu discurso de agradecimento pelo prêmio de melhor diretor no último Globo de ouro: arrogante, como esperado...


A pergunta que se coloca é: David Fincher quer ganhar um Oscar? Merecer, ele merece. É dos cineastas mais inventivos da atualidade. Visualmente arrebatador, demonstra perícia em termos de linguagem e astúcia narrativa. O Oscar é mais do que um selo de legitimidade. É um símbolo vivo e perene de imortalidade artística. David Fincher sabe disso. Sabe também que a espera pode ser ingrata. Está aí Martin Scorsese para provar. Sabe também que o reconhecimento prescinde do Oscar. Hitchcock e Kubrick podem ser aventados nesse segmento. Mas é através de seu desdém, em tom cada vez mais agressivo, que pode-se tangenciar uma resposta mais provável e a velha máxima do “quem desdenha quer comprar” se aplica aqui.
Muitos estranharam quando David Fincher renunciou ao “filme cerebral” para rodar o emocional, ainda que muito contido, O curioso caso de Benjamim Button -  que lhe valeu sua primeira indicação. Foi justamente nessa época, quase que como resposta instintiva às ilações da imprensa, que Fincher começou a dar de ombros para a honraria máxima do cinema. Não que ele tenha feito O curioso caso de Benjamin Button para ganhar o Oscar, mas não dá para excluir as variantes da escolha. O próprio perfil que Sorkin fez do amigo, com uma inclinação óbvia de campanha em prol de Fincher no Oscar, revela que o descaso não é tão efetivo assim. A vaidade não permite que Fincher admita sua ansiedade, mas ela está lá. Arisca e cortejada por todos que a pressentem.

sábado, 19 de novembro de 2011

Cantinho do DVD

O cinema australiano, que foi destaque na seção passada de Cantinho do DVD com o western A proposta, volta ao pauta com o intenso Reino animal. A produção ganhou destaque internacional ao valer a Jacki Weaver uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante. Reino animal é da linhagem de filmes que não glamouriza o crime, mas busca conferir-lhe certa dimensão dramática. É um filme duro, por vezes inquietante, mas muito bem conduzido pelo diretor estreante David Michôd. A fita nos faz atentar para algo até mesmo óbvio tratando-se do país que revelou talentos como Russel Crowe, Heath Ledger, Mel Gibson e Hugh Jackman: o cinema australiano merece nossa atenção.






Crítica

De vez em quando surge um filme que nos tira o fôlego. Desde sua cena inicial, em que um adolescente reporta em um misto de choque e naturalidade a overdose fatal de sua mãe, Reino animal (Animal kingdom, AUST 2010) se habilita como um representante legítimo dessa ordem de filmes. A cena final, tão alarmante e ainda mais acachapante do que a inicial, sacramentará a certeza. 
Em Reino animal, acompanhamos a trajetória de Josh (James Francheville), que após a súbita morte da mãe vai morar com a avó e os tios, com quem sua mãe havia rompido não por eles integrarem um grupo criminoso, mas por uma áspera discussão em jogo de carteado.
Josh precisará aprender a conviver com aquelas pessoas que trafegam entre os limites da civilidade e bestialidade. Não são circunstâncias fáceis as que Josh se vê envolvido e o diretor David Michôd, em sua estreia no cinema, se incumbe de dramatizá-las de uma maneira naturalista e, frequentemente, violenta.
Michôd utiliza cacoetes do cinema independente para contar uma história de um garoto imerso em um clã criminoso que, aparentemente, tenta manter alguma sobriedade e independência. Reino animal, então, submete seu protagonista a uma porção de escolhas morais que, não só ele não reúne condições de amparar, como não parece capaz de desvencilhar-se das consequências atreladas a elas.
Nesse sentido, o policial vivido por Guy Pierce, que vive a assediar Josh para delatar sua família criminosa, surge como um genuíno desestabilizador na trama. Trama esta que não se resolve, mas indica o tenebroso futuro de Josh aventado naquela cena inicial. O último ato do filme, de um frenesi enervante, demonstra a construção sólida que Reino animal é enquanto cinema. Com uma narrativa robusta, ainda que minimalista, a fita encontra no formato digital urgência e sobriedade. São características que só retificam a força do cinema australiano que conseguiu colocar a poderosa Jacki Weaver, que faz a assustadoramente polida matriarca da família criminosa, na disputa pela estatueta do Oscar de atriz coadjuvante este ano.

Crítica - Reféns

Não é o pior filme do ano!

Antes de avaliar Reféns (Trespass, EUA 2011), é preciso abrir um parêntese para Nicolas Cage. Há quem se predisponha a assistir um filme estrelado pelo ator apenas para defenestrá-lo. Seja por sua escolha, pela canastrice de sua atuação ou mesmo pela combinação desses elementos. Em 2011, Cage esteve presente em seis filmes – todos de qualidade duvidosa. Reféns o une a outros dois “malditos” em Hollywood. Joel Schumacher, diretor que sempre alternou bons filmes (O cliente, Tempo de matar e Tigerland) com péssimas produções (Batman & robin, Twelve – vidas sem rumo), mas que atualmente vive uma das fases mais negras de sua carreira e Nicole Kidman, atriz de reconhecível talento, mas com um gosto indelével por projetos duvidosos. É dessa estranha confluência que surge Reféns, um filme que vem sendo amplamente atacado pela crítica e cujo estúdio declinou de qualquer fé ao colocá-lo no serviço on demand nos EUA apenas duas semanas após o lançamento nos cinemas. No Brasil, a Imagem Filmes ainda tenta algum cascalho apostando nos nomes de Cage e Kidman. E faz muito bem.
Reféns sofre de um mal que acomete o gênero de suspense de modo geral. A necessidade de desafiar um espectador cada vez menos suscetível a surpresas. As constantes reviravoltas da trama acabam por potencializar suas fragilidades. Não ajuda o tom exagerado das atuações de Nicole Kidman e Nicolas Cage. Este, talvez em um lance calculado, acaba por provocar mais risadas do que apreensão.  Cage e Kidman vivem um casal abastado que são feitos reféns na ostensiva mansão que mantêm. Os ladrões, que a princípio pareciam profissionais, logo vão se revelando amadores tomados pelo desespero e o espectador antecipa que as coisas não acabarão bem para os vilões.
O problema do filme de Joel Schumacher não é a banalidade com que sucede clichês, mas sim a falta de convicção com que os justifica. Nicole Kidman, para ilustrar sua falta de sorte na escolha de projetos, abandonou O quarto do pânico, ótimo filme de David Fincher com premissa muito similar a Reféns, devido a uma fratura na perna.
Como não houve fratura dessa vez, a atriz configurou-se como o elemento mais fraco de um filme cheio de furos e momentos rasos de tensão. Não é o pior filme do ano, mas é algo bem próximo disso. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Questões Cinematográficas - Polanski: Uma vida

“Você pode mostrar o seu herói triunfante e isso deixará sua platéia satisfeita. Mas não há nada mais estéril do que o estado de satisfação”
                                                                     Roman Polanski



Quem gosta de cinema aprecia o talento do franco polonês Roman Polanski. Aqueles que se nomeiam cinéfilos, obviamente, estão familiarizados com a conturbada biografia desse genial e genioso cineasta. Sobrevivente do nazismo, vítima da loucura de Charles Manson e seus fanáticos, predador sexual e pedófilo, cineasta sensível e inventivo, entre tantas outras personas. Roman Polanski já havia assinado sua própria biografia, "Roman by Polanski" em 1984 e motivado tantas outras no curso das duas últimas décadas, mas o volumoso livro de Christopher Sandford se distingue pelo viés examinador aliado ao vasto material cheio de minúcias coletado pelo autor. Sanford já biografou outras figuras controvertidas da cena cultural como Kurt Cobain, Eric Clapton, Mick Jagger, Keith Richards e Bruce Springsteen. Mas é seu trabalho investigativo sobre o “anão maligno”, como alguns se referem a Polanski no decorrer da obra, que Sandford alcança seu melhor registro biográfico. Talvez o mais isento e provocante de todos. O fato de “Uma vida” não ser uma biografia autorizada indica que há muito ali que Polanski não reconheceria como verdadeiro. Sandford não se furta a esse debate. Frequentemente confronta seu biografado com diferentes versões, em sua maioria amparadas na lógica de estatísticas ou depoimentos diversos, desautorizando Polanski em suas próprias memórias. No decorrer do livro, o autor refere-se a esses episódios como “um enaltecimento da lembrança de Polanski” ou “como os fatos que cercam o diretor tendem a ganhar dimensão fantasiosa”.
No entanto, o autor mostra simpatia pela figura. Reconhece que o espírito das memórias de Polanski é preservado e especula que o diretor apreciaria brincar com as expectativas do público em relação a suas vivências. Nesse aspecto, ainda dentro do perfil que Sandford rabisca de seu biografado, surge um Polanski de forte jovialidade, com um ar intransigente e uma curiosidade legítima pelo cinema. Sandford demonstra que, diferentemente de tantos outros diretores, Polanski é um cinéfilo e observa como o cinema ajudou o diretor, quando ainda era conhecido como Romek, a passar pela difícil infância. Polanski, por seu turno, nunca reconheceu que sua infância tivesse tido sobre ele qualquer efeito nocivo ou mesmo traumatizante. O autor evita conjecturar a respeito, mas em uma ou outra passagem, em que aponta o desencontro das informações providas pelo próprio Polanski, se permite teorizar – refugiando-se nos argumentos de pessoas próximas ao diretor – que Polanski na verdade esconde-se sob o muro que ergueu.  

Cena de A faca na água, primeiro longa-metragem de Polanski: execrada na Polônia, a fita virou cult nos EUA e foi indicada ao Oscar de produção estrangeira 


Nessa linha, o diretor surge como detentor de “um incrível talento para arrogância”, “um ator nato”, “um anfitrião adorável”, “um cineasta inspirador artisticamente e problemático financeiramente”, entre outras definições que caminham entre o lisonjeiro e jocoso. Sandford permite-se ser mais especulativo a partir do terceiro episódio definidor da vida de Roman Polanski; quando na casa do amigo Jack Nicholson, ele manteve relações sexuais com a menor de idade Samantha Gailey. Mesmo assim, Sandford busca amparo em documentos e entrevistas da época e em depoimentos de fontes próximas ou relacionadas aos múltiplos episódios aventados pelo livro daí em diante.
“Uma vida” é um trabalho jornalístico e investigativo de fôlego. Uma reconstituição vigorosa dos primórdios da vida de um cineasta que chegou a maturidade cercado de angústias e dúvidas. É, também, um retrato fidedigno de um homem um tanto ilegível, que viveu ao máximo uma vida fragmentada por momentos de tensão e terror.
O Polanski capturado por Sandford é dotado de um instinto de sobrevivência hercúleo, manifestado precocemente ainda na Varsóvia tomada pelos nazistas e aguçado em um nível alarmante em sua queda de braço com a imprensa sensacionalista e após o fatídico julgamento pelo estupro de Samantha Gailey.
Um homem incapaz de manter-se fiel a uma só mulher, com um gosto indubitável pelo sexo e suas liberdades e que exibia pouca tolerância para hipocrisias como os movimentos de esquerda. Essas são algumas das características do homem perturbado radiografado por Sandford que resiste à tentação de colocar esse homem em paralelo com o cineasta que se fez na seara do terror e do erótico nos idos dos anos 60. A maior parte da crítica se divertia às catas de referências da vida pessoal de Polanski em sua obra. Posteriormente (nos filmes O pianista e Oliver Twist) esse paralelo até pôde ser mais facilmente detectado, mas – argumenta Sandford – era um exercício descabido em filmes como O bebê de Rosemary e Repulsa ao sexo. O autor rememora os boatos que se seguiram ao cruel assassinato de Sharon Tate que relacionavam o diretor ao fato e que pressupunham ser Polanski e Tate membros de uma seita satânica.

Cena de Repulsa ao sexo, filme que mostra uma mulher frígida que apresenta surtos psicóticos: psiquiatras ficaram impressionados com a verossimilhança da fita e Polanski respondeu que inventou tudo 

O novo filme de Roman Polanski, que estreou no último festival de Veneza, é uma das apostas para o Oscar 2012. Adaptado da peça O Deus da carnificina, Carnage flerta descaradamente com o humor negro

Justiça ao biografado
O interesse maior de Sandford parece ser iluminar a figura de Roman Polanski. Nesse sentido, para os fãs do diretor, fora uma ou outra curiosidade de bastidor, há pouca coisa nova sobre Roman Polanski. Mas inegavelmente o autor oxigena a obra e vida do franco polonês ao revisitar com requinte e detalhismo os pormenores que ajudaram a definir Polanski como uma das mais controversas celebridades do século XX.
A personalidade de Polanski é tateada em “Uma vida” com a convicção de um historiador ante relatos esparsos e conflitantes de fontes diversas. Não é uma tarefa fácil. Sandford demonstra mais eloquência quando relata os bastidores das filmagens das fitas de Polanski e os ardorosos processos de produção que as cercava. Um diretor intransigente, teimoso, trabalhador e genial é a figura espichada dessa análise.
O maior mérito de “Uma vida”, porém, é estabelecer de uma maneira bem lúcida toda a complexidade de Roman Polanski, essa figura tão apaixonante quanto assustadora que se opõe a simplismos e psicologismos baratos. Christopher Sandford oferece um mergulho, por vezes nauseante, no âmago de um dos maiores artistas que o cinema já concebeu. 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

TOP 10 - As dez comediantes mais sexies do cinema

Hollywood não tem como hábito a valorização de seus comediantes. De Jerry Lewis a Jerry Seinfield, passando por gente como Ben Stiller e Ryan Reynolds, essas figuras que cativam por sua veia cômica tendem a ser menosprezadas. E são homens. Um dos prodígios de 2011 nos cinemas foi a cauterização do prestígio das mulheres na seara do humor. Filmes como Professora sem classe, Missão madrinha de casamento  e Qual seu número? colocaram as mulheres no trono das comédias em 2011. Sem a orientação para o romance, elas provaram ser competitivas em um humor mais universal e com a vantagem de serem sexies. Claquete honra esse time com o ranking das dez comediantes mais sexies do cinema atual.



10 – Isla Fisher


35 anos
Nascida em 03/02/1976
Natural de Oman, naturalizada australiana
Curiosidade: Casada com ator e comediante Sacha Baron Cohen

Portfólio
Penetras bons de bico (2005)
Três vezes amor (2008)
Os delírios de consumo de Becky Bloom (2009)

Atriz de rosto afável e talento certeiro, Fisher se edulcorou na comédia. Da ponta no sucesso Scooby-Doo ao protagonismo em Os delírios de consumo de Becky Bloom, para muitos o melhor filme já realizado sobre crises financeiras. Fisher é bela, mas não faz de sua beleza um artifício de seu talento.

9 – Mila Kunis


28 anos
Nascida em 14/08/1983
Ucraniana
Curiosidade: foi revelada no humorístico That´ 70s show junto com os atores Ashton Kutcher e Topher Grace

Portfólio
Ressaca de amor (2008)
Maré de azar (2009)
Uma noite fora de série (2010)
Amizade colorida (2011)

Diferentemente de Islã Fisher, Mila Kunis usa, e bem, sua beleza como fator de desequilibro na hora de fazer humor. Mas faz de maneira tão suave e natural que mal dá para perceber. Linda, já se experimenta em papeis dramáticos e se sai tão bem quanto em suas aparições cômicas.


8 – Leslie Mann

39 anos
Nascida em 26/03/1972
Americana
Curiosidade: É casada com o diretor e produtor de comédias Judd Apatow

Portfólio
O pentelho (1995)
Nosso tipo de mulher (1996)
O paizão (1999)
O virgem de 40 anos (2005)
Ligeiramente grávidos (2007)
O golpista do ano (2010)
Eu queria ter a sua vida (2011)

É natural que Leslie Mann tenha algum destaque nos filmes dirigidos ou produzidos pelo marido. Mas a atriz, bela, sexy e senhora de um tremendo timing cômico já consegue trabalhos sem a influência do maridão. Prova disso foi o papel de destaque no recente Eu queria ter a sua vida.


7- Rashida Jones

35 anos
Nascida em 25/02/1976
Americana
Curiosidade: teve um breve relacionamento com o ator John Krasinski (O Jim de The Office)

Portfólio
Eu te-amo, cara (2009)
Tiras em apuros (2010)
Monogamy (2010)
Our idiot brother (2011)
Os muppets (2011)

Bela e simpática, Rashida Jones ainda não teve um momento para chamar de seu nas comédias. Sem jamais ter sido protagonista, cativou olhares e risadas em produções estreladas por Bruce Willis e Paul Rudd.  Formada em Harvard, já atuou nos programas televisivos The Office e Parks and reacreation. 


6 - Christina Applegate


39 anos
Nascida em 25/11/1971
Americana
Curiosidade: Realizou uma dupla mastectomia após o diagnóstico de câncer de mama em 2008.

Portfólio
Marte ataca (1996)
Tudo para ficar com ele (2002)
Voando alto (2003)
O âncora: a lenda de Ron burgundy (2004)
Sobrevivendo ao natal (2004)
Amor à distância (2010)
Passe livre (2011)

Com participações por diversas séries de TV, inclusive uma premiada ponta em Friends, Christina já era comediante de traços bem definidos antes de se resolver como atriz de cinema. Após a vitória contra o câncer e a maternidade, está mais sexy e madura do que nunca.


5- Elizabeth Banks


37 anos
Nascida em 10/02/1974
Americana
Curiosidade: também se destaca em incursões dramáticas como nos filmes W e 72 horas

Portfólio
O virgem de 40 anos (2005)
Três vezes amor (2008)
Pagando bem, que mal tem? (2008)
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço (2008)
Our idiot brother (2011)

Atriz de sorriso fácil e postura cômica espevitada, Elizabeth Banks é, como se diz na gíria americana, “one of the boys”. Adepta de um humor mais libertário, teve seu grande momento ao lado de Seth Rogen na desbocada fita de Kevin Smith Pagando bem, que mal tem?




4 - Anna Faris


34 anos
Nascida em 29/11/1976
Americana
Curiosidade: Já foi eleita pela Rolling Stone americana como a melhor comediante do cinema americano

Portfólio
Quadrilogia Todo mundo em pânico (2000, 2001, 2003 e 2006)
Garota veneno (2002)
Apenas amigos (2005)
Minha super ex-namorada (2006)
A casa das coelhinhas (2008)
Uma noite mais que louca (2011)
Qual seu número? (2011)

Se tem alguém que transborda em carisma nessa lista, esse alguém é Anna Faris. Na casa dos 20 anos já protagonizava, e chamava a atenção, em uma paródia algo revolucionária chamada Todo mundo em pânico. Era um papel de humor improvável para uma atriz de sua idade e com veia cômica pouco testada na tela grande. Faris se estabeleceria como a face da nascente franquia e se veria na incumbência de superar as limitações que o sucesso lhe imporia em termos de oportunidades na comédia americana. Em 2011, parece ter conseguido o intento com Qual seu número?


3 -  Zooey Deschanel


31 anos
Nascida em 17/01/1980
Americana
Curiosidade: É cantora, integra o duo she & him e é musa indie

Portfólio
Quase famosos (2000)
Um duende em Nova Iorque (2003)
Armações do amor (2006)
Sim senhor (2008)
500 dias com ela (2009)
Our idiot brother (2011)

Com irmã famosa também no ramo, a atriz Emily Deschanel, Zooey rapidamente se tornou mais pop do que a irmã mais velha. O cult agridoce 500 dias com ela ajudou nessa transformação. Bela, tímida e naturalmente meiga, a atriz cativa com uma postura que flerta entre o estranhamento e a graciosidade.


2- Cameron Diaz


39 anos
Nascida em 30/08/1972
Americana
Curiosidade: É uma das três mulheres a já ter recebido um cachê de U$ 20 milhões por um filme. As outras duas são Julia Roberts e Reese Whiterspoon

Portfólio
O máskara (1994)
Nosso tipo de mulher (1996)
O casamento do meu melhor amigo (1997)
Por uma vida menos ordinária (1997)
Quem vai ficar com Mary? (1998)
Quero ser John Malkovich (1999)
Tudo para ficar com ele (2002)
Em seu lugar (2005)
O amor não tira férias (2006)
Jogo do amor em Las Vegas (2008)
Encontro explosivo (2010)
Professora sem classe (2011)

A loira, que já foi mais bonita, parece ter tarimbado sua veia cômica com o tempo. Fato é que, hoje, Cameron Diaz é muito mais engraçada e espontânea em um filme do que já fora nos anos 90, quando rodou uma comédia atrás da outra. No entanto, na posição de sex symbol declarada, é um dos expoentes da presente lista.


1- Jennifer Aniston 

42 anos
Nascida em 11/02/1969
Americana
Curiosidade: Já integrou lista de mulheres mais lindas e sexies do mundo de variadas revistas

Portfólio
Nosso tipo de mulher (1996)
Paixão de ocasião (1997)
A razão do meu afeto (1998)
Como enlouquecer seu chefe (1999)
Todo poderoso (2003)
Quero ficar com Polly (2004)
Dizem por aí (2005)
Separados pelo casamento (2006)
Caçador de recompensas (2010)
Quero matar meu chefe (2011)

Linda e talentosa, Jennifer Aniston esbarra no vulcão de sua persona midiática e nas consequências da mal sucedida união com Brad Pitt. A comédia tem sido sua morada, mas a atriz já se permitiu experimentos em outros gêneros. Jennifer Aniston não poderia ocupar outro lugar nessa lista.


Plus Claquete

Emma Stone
23 anos
Nascida em 6/11/1988
Americana
Curiosidade: Encabeçou a lista da Total Film dos novos nomes quentes de Hollywood

Portfólio
Superbad – é hoje (2007)
A casa das coelhinhas (2008)
Zumbilândia (2009)
A mentira (2010)
Amor a toda prova (2011)

Seria indelicado colocar Emma nessa lista. Primeiro, pelo fato dela ter bem menos “tempo de serviço” do que as integrantes da lista. Segundo porque Emma move-se como um furacão rumo ao topo de Hollywood. Quem viu qualquer um desses filmes citados no portfólio da comédia da atriz, sabe que não se exagera na afirmação.